Por Inácio Augusto de Almeida
Se a maior tragédia que pode acontecer a um homem é o abandono, a maior miséria é a renúncia.
Observem que a vida do infeliz se resume a um eterno renunciar.
E de renúncia em renúncia vai se fazendo a vida daquele a quem nem ser bom é permitido, já que para ser bom é necessário estar em harmonia consigo mesmo.E isto não lhe é permitido.
De forma muito sutil o empurram para uma estagnação total.
Isolado, tende a atrofiar-se e, sem desenvolver-se, estacionado literalmente, mergulha num mundo onde não caminha.
Mas não só os pobres de bens materiais conhecem a grande miséria.
Os miseráveis de espírito, os que dão a vida por um centímetro de ascensão social, estes são os que mais afundam na grande miséria.
Por ambição renunciam a tudo, até mesmo ao direito de existir.
Torturam-se de uma forma monstruosa, negando a si mesmo qualquer coisa, num processo anulatório que, animado pelo medo, termina por afogá-los na mais extrema das degradações.
Deixam de existir e passam a viver uma ilusão que não permite sequer sonhar os próprios sonhos. Não mais pensam, apenas obedecem e aceitam absurdos como verdades indiscutíveis. Absurdos tão estapafúrdios que ferem a todos os que não estão envolvidos pelo sistema que os transformou em seres desprovidos de senso.
E não pensem que são somente os iletrados que se deixam envolver pela máquina destruidora que esmaga todos os sentimentos e anula por completo a personalidade.
Letrados, sim, doutores, também, que na busca por reconhecimento público, negam-se de forma violenta e desumana, tornando-se carrascos de si mesmos.
Trocam o direito de bem dormir pelo riso sardônico e apenas passam a mostrar os dentes, já que o riso só é permitido aos que têm alma.
Sabem, sim, sabem que levamos sempre conosco o céu e o inferno.
E fazem a opção de forma consciente,
Acham que o céu não é muito claro e na busca por mais e mais luzes terminam indo ao inferno, inferno de onde não mais conseguem retornar.
E se perdem no amontoado de mentiras, tropeçam nas próprias artimanhas e terminam mergulhando na grande miséria, que é a renúncia.
A renúncia de si mesmo.
E como a renúncia sempre vem acompanhada do abandono, quem renuncia, renuncia a si mesmo e aos outros, temos o quadro completo, a imagem nítida da miséria em toda a sua plenitude, o retrato perfeito da grande miséria.
Inácio Augusto de Almeida é jornalista e escritor
Renunciar a si mesmo é o pior que pode fazer um homem.
Perfeito, meu caro.
Muito bem, Sr.Inácio…penso que o homem renuncia a si mesmo quando prefere o Poder.
Relato perfeito de muitas pessoas que fazem as citadas renúncuas em busca de poder, dinheiro.etc mas va vida sao completos miseráveis
Instigante artigo. Emoldura a hodierna e triste realidade humana, enclausurada em seu materialismo dialético doentio e virulento. Nunca será demasiada a adoção de uma imprescindível e salutar humildade franciscana, sentimento eivado do DNA divino. Parabéns Inácio.