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domingo - 08/03/2020 - 06:12h
Bárbara de Alencar

A inimiga do rei que se tornou a 1ª presa política do país

Um dos expoentes da Revolução Pernambucana é personagem praticamente esquecido da história

Por Camilla Veras Mota (Da BBC News Brasil em São Paulo)

Foram dias pendurada no lombo seco de um cavalo, com os braços acorrentados, até que Bárbara de Alencar percorresse quase 500 km entre o Crato e o Quartel da 1ª Linha em Fortaleza, onde seria encarcerada por oito meses por ter declarado a independência de uma pequena vila na capitania do Ceará de Portugal.

O ano era 1817 e ela tinha 57 anos. Era a primeira vez que uma mulher era presa por motivos políticos no Brasil.

Bárbara foi um dos expoentes da Revolução Pernambucana, movimento de oposição à monarquia que fundou uma república em parte do Nordeste mais de 70 anos antes de o marechal Deodoro da Fonseca dar fim ao Segundo Reinado e transformar o Brasil independente em República.

Capa do livro Bárbara, de Ariadne Araújo, que conta a saga de um nome quase desconhecido (Foto: reprodução)

Para a diretora executiva da Biblioteca Nacional, Maria Eduarda Marques, o movimento é o “berço da democracia brasileira” e, apesar de ter sido mais reprimido – e com maior crueldade – do que a Inconfidência Mineira de Tiradentes, é “pouquíssimo estudado”.

Em 2017, a Biblioteca Nacional fez uma ampla exposição sobre a Revolução Pernambucana. Entre os documentos daquela época, diz a historiadora, aparecem os nomes de apenas três mulheres: duas escravas e dona Bárbara do Crato, como era chamada.

“A Revolução Pernambucana foi um movimento que nasceu entre os padres carmelitas, com lideranças urbanas e participação ativa de intelectuais que estudaram em Coimbra, em Londres. O caso da Bárbara é interessante porque ela não era nada disso”, diz.

Um sertão sem fronteiras

Ela era uma rica proprietária de terras, de escravos e de um sobrenome bastante influente. Três de seus cinco filhos, assim com ela, lutaram para que o Nordeste se tornasse uma república.

O caçula, José Martiniano, é pai do escritor José de Alencar – autor do clássico Iracema e, ironicamente, defensor do regime monárquico durante o período de D. Pedro 2º.

“Não encontrei qualquer menção dele à avó”, diz o escritor Gylmar Chaves, que há 15 anos se dedica a pesquisar a vida da sertaneja e que se prepara para lançar uma biografia romanceada sobre sua vida.

Natural de Exu, em Pernambuco, Bárbara foi parar no interior do Ceará quando casou com o comerciante português José Gonçalves dos Santos, vendedor de tecidos, loções e miudezas na feira do Crato.

As viagens entre as duas cidades, separadas por 60 km de sertão, se tornaram comuns quando ela atingiu a adolescência e acompanhava o pai nas incursões pelas feiras que faziam do interior do Nordeste daquele Brasil um espaço muitas vezes sem fronteiras.

Livro de José de Carvalho publicado em 1917, que conta história de Bárbara (Reprodução: Biblioteca Nacional)

Aos 22, ela casou com um homem 30 anos mais velho, às escondidas, sem o consentimento do pai – e ainda convenceu um padre da Igreja Católica a sacramentar o matrimônio.

Não foi a primeira vez que Bárbara transgrediu os costumes da época, nem a última.

Depois de um ano vivendo no Crato, conta Chaves, ela já administrava em seu Sítio do Pau Seco um engenho onde fabricava rapadura e cachaça e produzia tachos e panelas.

Tudo à revelia do companheiro, que julgava que aqueles eram “negócios de homem”. Bárbara tornou-se viúva jovem, com pouco mais de 40 anos, mas virou uma matriarca muito antes disso.

“Ela não deu muito espaço para o marido (dominar)”, diz Chaves, divertindo-se.

Nos últimos quatro anos, o cearense rodou mais de 15 mil km a partir de Fortaleza para falar sobre Bárbara nas escolas.

O projeto, feito inicialmente de forma voluntária e hoje financiado pelo Edital Mecenas do Ceará, compreende entre 60 e 90 palestras por ano, para alunos de escolas públicas em sua maioria do ensino médio.

De matriarca a ‘inimiga do rei’

“Para dar a justa medida do papel das mulheres da época, ela era vista como masculina, o ‘macho’ da família, uma vez que tomava decisões e gerenciava os bens, sem conselhos dos homens”, diz Ariadne Araújo, autora do livro Bárbara de Alencar.

O caminho para que ela se tornasse revolucionária foi pavimentado dentro do Seminário de Olinda, em Pernambuco, por onde passaram dois de seus filhos.

Fundado em 1800 para formar clérigos para a Igreja Católica, o seminário foi criado pelo bispo Dom Azeredo Coutinho, que, apesar de ser inquisidor-geral de Portugal, era “mais progressista” quando se tratava de educação, conta George Félix Cabral de Souza, do departamento de História da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

“Ele acreditava que os sacerdotes deveriam ajudar as pessoas do sertão. Assim, a formação envolvia amplos conhecimentos e com viés prático – que incluía o estudo da Enciclopédia de Diderot e d’Alembert”, diz o historiador, referindo-se à obra referência do Iluminismo.

“Contaminados” pelos ideais iluministas e pela maçonaria inglesa – que difundia o pensamento republicano -, os padres carmelitas seriam protagonistas da Revolução Pernambucana, ressalta Maria Eduarda Marques, da Biblioteca Nacional.

Vista da cidade do Recife a partir do Forte de São João Batista do Brum por volta de 1800 (Reprodução: Biblioteca Nacional)

Amigo de dona Bárbara, o frei paraibano Manuel da Arruda Câmara, que circulava pelo convento em Olinda e foi idealizador do movimento, fundou a primeira loja maçônica do Brasil, esta de inspiração francesa.

Estudou filosofia natural na Universidade de Coimbra, em Portugal, e se mudou para a França revolucionária em 1790 – quando a Bastilha já havia sido tomada em Paris e a burguesia e os camponeses que haviam destronado Luís 16 realizavam a Assembleia Constituinte – para cursar Medicina em Montpellier.

Um de seus discípulos, o padre João Ribeiro, que o acompanhava nas expedições para investigar a flora do sertão e ilustrava seus livros de botânica, também estudou na Europa, onde teve contato com os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade – que, na prática, questionavam o caráter divino da figura do rei e a hierarquização estratificada da sociedade.

Professor do Seminário de Olinda, ele se suicidaria em 1817, com a derrota das tropas republicanas, enforcando-se em uma capela. Seu corpo sepultado foi violado, a cabeça separada do corpo e exposta espetada em um estandarte nas ruas do Recife.

“O padre João Ribeiro, ao lado do padre Miguelinho, estava entre aqueles que tinham as ideias mais radicais”, diz George Félix, da UFPE, citando também o nome do professor de retórica do Seminário.

Bárbara tinha contato com as ideias revolucionárias tanto através dos filhos radicados em Pernambuco – José Martiniano de Alencar e Carlos José dos Santos – quanto através dos religiosos com quem tinha amizade.

“Em sua casa do Sítio Pau Seco recebeu a visita de um dos mais ilustres ideólogos do sistema de governo republicano na colônia, o frei Manuel da Arruda Câmara, o qual fez menção sobre ela em sua carta-testamento, em 1810”, destaca Gylmar Chaves.

A partir de sua fazenda no Crato, ela “assumiu para si a missão de cooptar simpatizantes e fundar núcleos republicanos em fazendas e povoados”.

Dom João 6º como rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (Reprodução: Biblioteca Nacional)

Ariadne Araújo pontua que, naquela época, o clã dos Alencar gozava de poder e prestígio não apenas na região do Cariri, hoje o sul do Ceará, onde estava instalado. A influência da família se estendia a outras áreas da capitania como Barbalha, Jardim e Araripe – na divisa com o atual Estado de Pernambuco – e Várzea da Vaca, hoje conhecida como Campos Sales, no limite com o Piauí.

“Bárbara certamente não só apoiava as novas ideias de liberdade como as assumiu publicamente, ao apoiar o movimento. Isso que torna o papel dela importante para a época”, comenta a escritora.

Isso porque, no Nordeste do século 19, diz Maria Eduarda, da Biblioteca Nacional, a atividade política e as revoluções eram espaços praticamente exclusivos dos homens. As mulheres, em geral, nem emitiam opiniões sobre esses assuntos.

“As mulheres que viviam nos sertões nordestinos na época em que viveu Bárbara de Alencar não tinham direito a nada. Se ela teve o papel que teve nesse movimento político é porque veio de uma família com muita força, dinheiro, terras e prestígio, orgulhosos de sua independência”, acrescenta Ariadne.

“Estas condições transformaram Bárbara em uma mulher que sabia o que queria, forte e corajosa, com um espaço – muito raro por aqueles tempos e naquelas bandas do interior – para existir como sujeito.”

A escritora pondera que, ainda que a participação política tenha colocado a matriarca como ponto fora da curva, ela ainda era “fruto de uma cultura local extremamente moralista e católica”.

Nesse sentido, destaca-se o fato de que ela, até onde se sabe, não era abolicionista – ao contrário de alguns dos seus contemporâneos rebeldes. Bastante religiosa, exigia que os escravos seguissem preceitos do catolicismo e não permitia, por exemplo, que fossem amasiados.

Os cativos, entretanto, não dormiam em senzalas, não sofriam os maus tratos comuns da época e a chamavam de “madrinha”, lembra Chaves. Um deles, Barnabé, chegou a decepar a própria língua entre os dentes quando foi interceptado pelas tropas reais, para não denunciar o paradeiro da “sinhá”. Outra, Brasilina, acompanhou pela mata a peregrinação de Bárbara, depois de capturada, até a prisão em Fortaleza.

Por que o Nordeste queria se separar de Portugal?

A vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808, fugindo das invasões patrocinadas por Napoleão Bonaparte na Europa, mudou o eixo político e econômico da colônia – concentrado nos primeiros séculos na empresa açucareira do Nordeste.

Dom João 6º, então príncipe regente do Brasil, instalou-se com a corte no Rio de Janeiro e, dali em diante, parte considerável dos impostos arrecadados em todo o território passou a fluir para a capitania, que ganhou chafarizes, iluminação pública, praças e grandes avenidas.

Padre João Ribeiro é autor da bandeira da República de Pernambuco (Foto: Biblioteca Nacional)

“Pernambuco, que era uma capitania com superávits comerciais por causa do algodão, se sentiu sobrecarregada com a taxação imposta pela corte”, explica o historiador George Félix.

“A nobreza que expulsou os holandeses (que dominaram Pernambuco até 1654) se sentia como uma espécie de súdito privilegiado”, comenta Maria Eduarda.

“E se ressentiu com a mudança da coroa para o Rio”, acrescenta ela.

Combinado à difusão do ideário iluminista e das revoluções francesa e americana e à tradição de insurreição de Pernambuco, o aumento de impostos foi combustível para a Revolução Pernambucana.

Sai o vinho, entra a cachaça

Apesar de um início atropelado – os planos dos rebeldes foram descobertos um mês antes do início previsto para a deflagração da revolta e eles tiveram que entrar em ação antecipadamente – a República de Pernambuco durou 75 dias.

O padre João Ribeiro desenhou a nova bandeira, que é até hoje representa o Estado. No dia 7 de março de 1817, é instalada uma junta provisória e tem início a experiência de autogoverno.

Com a nova Constituição, que defende a república, os direitos humanos e a liberdade religiosa e de opinião, é abolida uma série de impostos.

Antônio Gonçalves da Cruz, o Cabugá, é enviado aos Estados Unidos como embaixador da república pernambucana com o objetivo de comprar armas e angariar apoio para a luta armada.

O vinho, visto como um produto ligado à metrópole, foi substituído por cachaça nas solenidades e as hóstias distribuídas nas missas, feitas de trigo, passaram a ser fabricadas com mandioca.

Em pouco tempo, a revolṳ̣o se espalhou, com apoio dos senhores de engenho Рque pediram como moeda de troca que os revoltosos ṇo advogassem pela aboli̤̣o da escravatura -, de intelectuais e das massas populares.

“Eles defendiam o pagamento de menos impostos e a redução do preço dos alimentos – duas mensagens muito simpáticas à população em geral”, diz o historiador da UFPE.

Decreto do governo provisório que extinguia o imposto sobre a carne (Reprodução: Biblioteca Nacional)

No Crato, ela chegou no dia 3 de maio de 1817 – para durar apenas 8 dias.

A república foi decretada durante a missa de domingo, com a leitura de uma carta do emissário José Martiniano, filho de dona Bárbara, acompanhado de cerca de 200 homens.

“Os revoltosos tentaram, a princípio, se organizar, convencer líderes políticos da região, testaram a adesão das novas ideias em reuniões secretas, aliciaram alguns e prometeram empregos e favores a outros”, conta Ariadne.

Três anos no cárcere

A repressão da monarquia foi rápida e truculenta. Os ataques às regiões separatistas envolveram cerca de 8 mil homens.

O saldo entre os rebeldes, segundo George Félix, foram 300 mortos em combate, 100 exilados, 11 executados em praça pública no Recife e outros 3 em Salvador.

Entre a prisão em Fortaleza, no Recife e em Salvador, Bárbara passou mais de três anos no cárcere e teve todos os bens confiscados.

Nas celas do Quartel da 1ª Linha, como narra Gylmar Chaves, os detentos estavam em meio às próprias fezes e urina, expostos a piolhos e pulgas.

A alimentação se resumia a vísceras de animais mal cozidas na água e sal, acompanhadas de uma pequena porção de farinha e servidas uma vez por dia nos mesmos cochos de madeira usados pelos porcos.

A pena, porém, não demoveu Bárbara de crença de que o Brasil deveria ser uma república. Em 1824, aos 64 anos, ela estava mais uma vez ao lado dos três filhos revolucionários, agora na Confederação do Equador. O Brasil já era independente de Portugal, mas governado pelo filho de Dom João, Pedro 1º.

No conflito separatista – que contaria, ao lado das tropas imperiais, com mercenários ingleses como o oficial Thomas Cochrane – ela perderia dois filhos, Carlos José dos Santos, o padre Carlos, e Tristão Gonçalves, que, depois de morto a tiros, teve a mão direita amputada por seus algozes e o corpo exposto por um mês ao sol.

Jurada de morte pelo coronel Pinto Madeira, dona Bárbara, já debilitada, se retirou na Fazenda Touro, na divisa com o Piauí.

Em 1833, um ano depois de o próprio coronel ter sido rendido e enforcado depois de participar de um movimento contrário à abdicação de Dom Pedro 1º, ela decidira voltar à Vila do Crato para ser madrinha de casamento da sobrinha.

Mas não chegaria ao destino: Bárbara de Alencar morreu aos 72 anos, na casa de um sobrinho de segundo grau, onde estacionara para descansar no caminho.

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Categoria(s): Gerais / Política / Reportagem Especial

Comentários

  1. François Silvestre diz:

    Já escrevi sobre isso. Uma revolucionária libertária e seus descendentes conservadores e vassalos da monarquia. O meu bisavô, João Antunes de Alencar, nascido no Exu, na mesma fazenda onde nascera Bárbara, era Juiz de Martins quando da proclamação da República. No dia seguinte renunciou à magistratura em solidariedade à monarquia. Ele era sobrinho-neto de Bárbara. Voltou para Fortaleza, onde tinha casa na Rua Sena Madureira, deixando acertado o casamento de sua filha Guilhermina, de doze anos, minha avó, (mãe-Guilé), com um filho de Bisinha Suassuna, de trinta e dois anos, meu avô. Casaram oito anos depois, ela com vinte e ele com quarenta. Se conheceram na semana do casamento. Bárbara não era citada por ninguém dos meus tios. Vim tomar conhecimento da sua existência por um padre, no Colégio Diocesano de Caicó.

    • Ailson Fernandes Teodoro diz:

      Isso me deixa muito triste. Uma mulher tão valorosa na luta por uma sociedade mais justa, ter como neto, o Escritor, Deputado Provincial e, um dos maiores vassalos da Monarquia. José de Alencar, que chegou a ocupar o Ministério da Justiça de 1868 até 1870, além de bajulador dos monarcas, travou duras brigas como Joaquim Nabuco, Senador e fiel defensor do abolicionismo. Mas o próprio regime monarca foi cruel com ele, quando indicado Senador, o neto de Bárbara, foi rejeitado pelo Imperador Dom Pedro II, que vetou seu nome por considerá-lo jovem demais! Nabuco honrou a história de lutas do povo Pernambucano. Lutou pela aprovação da Lei do Ventre Livre, aprovada e promulgada em 1871. Mas Zé de Alencar deixou essa mácula a sua imagem parlamentar e de cidadão.

  2. François Silvestre diz:

    O único descente dela, com expressão política, que reverenciou a sua memória foi Miguel Arraes. Nascido no crato. E a honrou em Pernambuco,

  3. Amorim diz:

    Como o texto é longo, me atrveoa disser: colhi esta informação no Crato, a Sociedade está lutando para que se reconheça a Sra. Bárbara de Alencar como a primeira Presidente mulher do Brasil.

  4. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Preciso ler no silêncio, para usufruir tudo, até os comentários. Importante demais, há um barulho que amo , em volta, mas que dispersam a minha concentração…

  5. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Homem, rapaz! Surpreendentemente tenho o prazer em conhecer Bárbara de Alencar, Bárbara do Crato. Saber de movimento considerado de importância como a Revolução Pernambucana, antecipando a de Deodoro em 70anos. Ora, o prenúncio libertário é atribuído à Inconfidência Mineira de Tiradentes, punida com suavidade se compararmos com o açoite aplicado à revolta pernambucana.
    Bárbara nasceu corajosa, não o foi pelo berço. Tinha independência em casa, ocupou todos os espaços que quis, não aceitou limitações impostas, comuns à época.
    Deveria ser um UFO familiar pois seus descendentes não a mencionam, à exceção de Miguel Arraes e de François Silvestre, bisneto de João Antunes de Alencar, sobrinho neto de Bárbara , e , gloriosamente, neto de mãe-Guilé. Salve, François, coragem está no seu sangue. Salve, Bárbara!

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