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domingo - 04/02/2018 - 05:08h

A solidão do homem pós-moderno

Por Odemirton Filho

A vida em sociedade, como se sabe, exige múltiplos relacionamentos. O Homem, ser gregário por natureza, precisa do outro para satisfazer suas mais variadas necessidades, sejam pessoais, sentimentais, comunitária etc. Complementa-se no outro, ou busca-se esse complemento.

A modernidade, fundada no Iluminismo e no progresso da humanidade, trouxe o Homem à razão, como forma de ver e encarar o mundo. Outrora envolto em mística, é na modernidade que encontra a razoabilidade de sua conduta. Temos que:

O desenvolvimento de formas racionais de organização social e de modos racionais de pensamento prometia a libertação das irracionalidades do mito, da religião da superstição, liberação do uso arbitrário do poder, bem como do lado sombrio na própria natureza humana (Harvey, 2002, p.23).

Por outro lado, a pós-modernidade trouxe uma nova perspectiva, humana, social. Como salienta  Barbosa (1998, p. VIII)  “após se ter vivido a revolução técnico-industrial, que marcou profundamente os tempos modernos, pode-se dizer que a Pós-Modernidade traz, como principal característica, o seu aspecto cibernético-informático e informacional. Uma prova disso é que, no cenário pós-moderno, reinam mais estudos e pesquisas sobre a linguagem e a inteligência artificial”.

Pois bem. É o Homem um ser solitário. Apesar de viver cercado da tecnologia, com o mundo aos seus pés, resta o individualismo, marca inconteste da sociedade contemporânea. Vive-se para o outro, em razão de conceitos e paradigmas sociais que o impede de ser liberto. Isola-se em uma cúpula, poucos conseguem ser o que verdadeiramente são.

Os relacionamentos, sejam amorosos ou de amizade, desfazem-se de forma instantânea, ante a imperiosa necessidade de afirmar o próprio eu.  Renúncia e  tolerância são palavras proibidas.

Nas palavras de Bauman:

(…) “Mas quer dizer que estamos passando de uma era de ‘grupos de referência’ predeterminados a uma outra de ‘comparação universal’, em que o destino dos trabalhos de autoconstrução individual (…) não está dado de antemão, e tende a sofrer numerosa e profundas mudanças antes que esses trabalhos alcancem seu único fim genuíno: o fim da vida do indivíduo”. (BAUMAN, 2001).

A vida hodierna, nesse passo, nos leva a caminhos solitários, na busca incessante do ter, em detrimento do ser. A conquista do parceiro ideal e a cobrança de familiares e amigos exigem resultados, que nos fazem perder a individualidade, tornando-nos seres competitivos. Somos frios e, consequentemente, relativos na forma de se relacionar com o outro.

Não raro vemos em mesas de bar e confraternizações as pessoas se isolando no seu mundo virtual, sem ao menos se preocupar em travar um diálogo que os faça aproximar.

Vivemos longe, esquecemos o perto.

No campo sócio-político o isolamento é manifesto. Se unem momentaneamente, para acordos pontuais, esquecendo do objetivo público que deve permear sua vida. Apenas se toleram para alçar aos seus cargos públicos e se fecharem nos seus interesses.

Tem-se, portanto, que apesar de sermos gregários estamos nos individualizando, sempre na busca de nossos objetivos.

Estamos a esquecer o calor humano, de um aperto de mão ou de um abraço. Antes de ser moderno ou pós-moderno ainda somos humanos.

Odemirton Filho é professor e oficial de Justiça

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Rocha Neto diz:

    Seus artigos são bons, mais longos. Procure condensa-los.

  2. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Data Máxima Vênia à opinião do Web-leitor Rocha Neto, falar sobre a condição gregária dos ditos humanos no atual contexto contemporâneo, não só se faz oportuno, como necessário fazê-lo em maior profundidade, sem o que, entendo inoportuna a constatação quanto a suposta prolixidade.

    Caro Odemirton, acerca do artigo que escreveste, concordo em gênero número e grau. Posto que, deveras os seres humanos estão numa encruzilhada entre o fascino e a real necessidade que as maquinas podem proporcionar, sobretudo as que engendram o processo de comunicação social de perto e da distância, mais parecendo que, não só devemos nos isolar das pessoas mais próximas e supostamente ficarmos próximos das que estão à distância.

    Esse fascínio, claro, não é de hoje, porém o que encafifa, mormente os que ainda têm a pretensão de refletir a nossa trajetória e condição de gregários, e, por conseguinte nos traz real perplexidade, é a real dimensão do quanto e até onde essa inconteste dependência irá nos levar.

    Nessa teia de interrogações que comportam a atual tela da existencialidade dita pós moderna, indaga-se…AFINAL A CRIATURA IRÁ ENGOLIR SEU CRIADOR….!!!??

    Nesse contexto, peço vênia pra transcrever artigo do Tradutor:
    Luiz Roberto Mendes Gonçalves.

    CELULAR AFASTA AS PESSOAS E PREJUDICA RELACIONAMENTOS.

    Cada vez usamos mais os telefones celulares. Mas ao mesmo tempo eles estão se transformando em um dos principais obstáculos para a comunicação interpessoal. Os celulares nos aproximam dos que estão longe, mas cada vez nos afastam … –

    É difícil encontrar alguém hoje em dia sem seu telefone celular. As pessoas o levam na mão, como um sexto dedo, ou colado ao ouvido, ou vibrando e tocando no bolso da calça. Quase ninguém quer se separar dele. É como se algo pudesse acontecer se tocar e não responderem….

    Todos nos sentimos rejeitados quando, no meio da conversa, alguém prefere atender o telefone em vez de ignorá-lo. A mensagem é clara: quem está longe me importa mais que você. Se você conversa com alguém que não larga o celular, sabe que a qualquer momento poderá ser interrompido. Você vale menos que a próxima ligação.

    Estar na presença de um celular significa não estar 100% nesse lugar. Você está, mas sua atenção está dividida.

    É o que entenderam perfeitamente no restaurante Eva, em Los Angeles, cujos clientes ganham um desconto de 5% se não usarem o celular durante a refeição. A participação é voluntária, mas, segundo uma reportagem recente “Huffington Post”, quatro em cada dez clientes aceitam o desafio.

    Portanto, o verdadeiro luxo neste século 21 é conversar sem celulares. Não fui ao Eva nem sei se a comida e o serviço lá são bons, mas algum dia que pousar em Los Angeles irei ao restaurante como uma espécie de homenagem.

    O celular é má companhia. Foi a conclusão a que chegou um estudo da Universidade de Essex, na Inglaterra, que se perguntou em que grau a simples presença de telefones celulares afeta as conversas face a face. Em um dos experimentos, dividiram um grupo de 74 participantes em duplas. A metade das duplas conversou sem um celular à vista e a outra metade, com um celular em uma mesinha lateral. Pediram a todos que conversassem durante dez minutos sobre um fato interessante que tivesse acontecido com eles no mês anterior. Os resultados foram fascinantes.

    As duplas que se conheceram sem a presença de um celular relataram maior proximidade e uma melhor qualidade de relação que aquelas que conversaram com um celular à vista. O segundo experimento confirmou que as pessoas têm mais confiança e compartilham mais coisas pessoais quando não há um celular por perto.

    Essa é a conclusão do estudo feito por Andrew K. Przybylski e Netta Weinstein, publicado no ano passado em “The Journal of Social and Personal Relationships”: “A evidência dos dois experimentos indica que a simples presença de celulares inibe o desenvolvimento da proximidade e confiança interpessoais, e reduz os níveis de empatia e compreensão das duplas”.

    Isto é, a simples presença de um celular é um obstáculo para a boa comunicação entre duas pessoas. E se a isso acrescentarmos toda a carga informativa e o valor afetivo incluídos em nossos celulares – fotos, telefones, segredos, dados confidenciais, senhas, é claro que é muito difícil nos comunicarmos com alguém em pessoa sem também dar atenção ao pequeno aparelho.

    A tendência mundial é uma crescente migração dos computadores e televisores para os celulares. É verdade, não podemos ver vídeos e ler documentos com a mesma facilidade e clareza que em uma tela maior, mas isso é secundário diante da conveniência de ter quase todo o mundo na palma da mão.

    Portanto, é absurdo sugerir que não usemos o celular. Não podemos mais viver sem ele. Empresas, governos e famílias dependem dos celulares. Mas sim, podemos definir novos limites. É isso que se depreende dos experimentos feitos em Essex.

    Eu já fiz minhas próprias regras. Quando tenho coisas importantes para discutir, prefiro fazê-lo com os celulares em outro lugar. Não faço exercícios com o telefone na mão e passo várias noites apagando os sons do celular. Quando desperto, como exercício contra a dependência, tento não olhar para o celular como primeira atividade matinal. Tento que meu primeiro contato do dia seja com uma pessoa, e não com uma máquina. E posso relatar, com absoluta certeza, que o mundo não acabou e que meus níveis de estresse diminuíram alguns tracinhos.

    O celular o apaga. E meu propósito é tê-lo mais tempo apagado ou a uma distância saudável, como fazem alguns sábios clientes do restaurante Eva na Califórnia. Tenho certeza de que a comida lhes parece mais saborosa que para os que tem o celular no ouvido.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  3. Odemirton Filho diz:

    Obrigado pela deferência e sugestão, caro Rocha Neto. Irei tentar condensar os artigos. Forte abraço.

  4. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Prof. Odemirton. Parabéns, não podemos esquecer que somos humanos. Como faz falta o valor de um abraço: aquece.

  5. Odemirton Filho diz:

    Obrigado, diletos Fransueldo Vieira e Naide Maria. Forte abraço.

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