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domingo - 02/08/2015 - 06:48h

Ainda sobre golpes

Por François Silvestre

Após a publicação do texto de Domingo passado, recebi várias perguntas sobre os golpes não mencionados naquele texto. Essas questões só reforçam as teses ali defendidas, sobre a nossa vocação golpista.

Pouco tempo após a posse, Juscelino enfrentou a primeira tentativa. Aeronáuticos e insatisfeitos do Exército, de tradição antigetulista, organizaram uma revolta, com base em Jacareacanga, no Pará. Pretendiam bombardear palácios do governo e órgãos estratégicos da segurança oficial.

Controlada a revolta, os envolvidos fugiram do país. JK, num gesto de serenidade, enviou ao Congresso um projeto de anistia irrestrita, excluindo qualquer punição aos revoltosos.

Mas não recebeu de volta o mesmo gesto. Esse mesmo grupo, cerca de dois anos depois, organizou outra tentativa de golpe. Agora, com base em Aragarsas, no Goiás. Com o mesmo objetivo e mesma estratégia. Novo fracasso.

Nesse segundo levante, Carlos Lacerda, ao perceber a fragilidade estratégica, traiu os companheiros, informando as manobras e localizações. Quem conta isso? O próprio Lacerda, nas suas memórias.

Juscelino fora militar, médico da Polícia, tinha noção do ideário da caserna. “Não tema o que o inimigo quer contra você. Tema o que ele pode contra você”, costumava repetir o General Odílio Denys.

Certa vez, o Ministro da Guerra, Teixeira Lott, informou que iria prender um Major subordinado do Gen. Juarez Távora, que perdera as eleições para JK. Juscelino então desautorizou. “Não, Ministro. Se o senhor prender o Major, Juarez me derruba. Prenda Juarez, que o Major se recolherá e o general nada poderá fazer”. E assim foi feito e nada aconteceu.

JK só errou e feio no episódio de 64. Acreditou em Castelo Branco, que lhe prometera eleições, e apoiou o golpe consumado. Votou em Castelo, no Congresso. Tancredo Neves vaticinou: “Você vai pagar caro por esse voto”. E pagou.

Ao assumir a Presidência, Prudente de Morais adoeceu e foi substituído pelo Vice Manoel Vitorino. Ao sentir-se melhor, Prudente informou a Vitorino a decisão de reassumir o cargo. Vitorino ignorou e manteve-se no posto.

Após quatro meses, sem que Manoel Vitorino desse sinais de atender a determinação do titular, Prudente de Morais informou-se sobre a hora de início do expediente de Vitorino. Ao saber, deslocou-se ao Palácio e ocupou a sua Cadeira.

Quando Vitorino chegou, encontrou Prudente devidamente sentado, que disse secamente: “Reassumi meu posto, sem formalidade de transmissão. Reassuma a Vice-presidência”.  Talvez tenha sido, na história dos golpes, a única tentativa que foi frustrada por um traseiro na cadeira.

Trata da desmistificação da nossa historiografia o livro que estou escrevendo. Do golpe de 1889 até a eleição negociada de Tancredo Neves com a Ditadura moribunda.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Meu Caro François Silvestre, mais uma vez, obrigado por nos brindar com seu conhecimento histórico e sua escrita notável escrita em sua peculiaridade e capacidade de síntese que poucos conseguem.

    Verdadeiramente basta breve analise do estuário da nossa autoritária historia política e social, para constatarmos, o quão sempre e sempre agimos sob o signo do imediatismo e da autocracia, seja na esfera dita civil e por vezes democrática e igualmente quando na esfera do chamado Manu militare.

    Não obstante esses aspectos aludidos , O Brasil, sob a coroa, alcançou relativa solidez nas instituições políticas, unidade territorial invejável, benéfica paz social e racial, profícuo florescimento na cultura e reconhecido prestígio internacional,claro, conjugados o tempo e espaço político e econômico de uma época e período histórico, deveras distinto da atual realidade que a todos nós perpassa.

    Oportuno não esquecermos, que, sempre e sempre e de maneira muitas vezes manifesta, fomos guiados por interesses econômicos e modismo e forma de governo alienígenas. Tanto que em pouco tempo, tivemos que absorver e conviver com o tumultuado golpe republicano que veio pôr termo a este processo histórico.

    Sobredito processo que redundou no golpe da chamada república de 15 de Novembro de 1889, baseada em ideários americanos e franceses, foi “bestializado, atônito, surpreso” tanto que que o povo assistiu à proclamação da República. A confissão é insuspeita e partiu da pena de Aristides Lobo, um dos principais articuladores do movimento republicano. Ainda hoje estes termos parecem adequados para caracterizar a reação de muitos diante dos desmandos da República.

    Dado a nossa condição autocrática e gênese autoritária, em pouco tempo novo regime dito republicano, verdadeiramente se inoculou de um viés e prática persecutória contra os antigos participantes do outrora governo monárquico.

    Como dito, a República enfeitara-se dos ideais revolucionários que haviam inspirado a Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – e que constituíam o ideário de certo sectarismo político. Mas, em poucas semanas seus instintos libertários se tornaram liberticidas: criou a República um tribunal de exceção com a finalidade de julgar em corte marcial os que “conspirassem”, por palavras, escritos ou atos, contra a República. Uma atitude bem diversa da ampla liberdade de que gozavam os republicanos durante o Império. E, em 1891, a primeira Constituição republicana vedava qualquer proposta de modificação da forma republicana de governo.

    Não obstante alguns progresso de cunho institucional, a pretensa igualdade republicana gerou, ao longo destes 122 anos, uma oligarquia política, descolada dos verdadeiros anseios da Nação, que se aproveita do Estado para proveito próprio e para a manutenção de projetos de poder, por vezes de cunho autoritário.

    Nisso tudo, temos que a atual campanha de moralismo político repaginada mais uma vez , sob a capa UDENISTA do combate a corrupção, encampada mais uma vez pela monopolizada mídia nacional. Deveras não se reproduz como mera coincidência, exatamente por estamos em período, sobretudo nos últimos doze anos, vivendo e vivenciando um processo pleno de democracia , liberdade de expressão e com uma rara e insuspeita inserção e mobilidade social direcionada para os que historicamente jamais foi oportunizada.

    Então, infelizmente, mais uma vez assistimos em toda sua dialética consensual e em todos os eus movimentos característicos, a consequente insurgência da insuspeita direitona em seu ideário permeado de ignorância, golpismo e servilismo junto aos interesses do conhecido e manjado patronato nacional, estes direta e simbióticamente vinculados aos conhecidos e manifestos interesses alienígenas.

    O mais são sofismas, tergiversações e verborragias disseminadas pelos de sempre, sobretudo em momentos tormentoso da vida nacional e situações políticas tais e quais.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  2. ROSANA diz:

    JK errou em vários episódios, um mau político, um péssimo homem, machista mau caráter que tinha até amante lixo, não respeitava nem a própria família. Espero que esteja no inferno, justiça !

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