• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
segunda-feira - 31/05/2010 - 16:49h

Além dos limites de Mossoró

Com uma população de quase 250 mil habitantes, Mossoró não deve ser analisada a partir desse volume demogrático. Seus números são mais grandiloquentes.

Até aqui, praticamente nenhum prefeito tem pensado e agido no trato de questões públicas, da organização de trânsito à urbanização e economia, vendo o município sob esse prisma. Mossoró não é ela em si. É multifacetada. Muitas numa só.

Esse perfil começou a se formar a partir da avassaladora seca de 1877, num triênio que praticamente quadruplicou a população local, de pouco mais de 6 mil pessoas para mais de 24 mil.

Temos uma cidade miscigenada, gregária e que vai bem além de seus limites territoriais tecnicamente postos pela cartografia oficial.

Sem entender isso, os governantes de hoje e de um passado não muito remoto, comprometem o próprio futuro dos mossoroenses. Também dificultam a vida dos que afluem para esse espaço, em passagens episódicas ou à fixação.

Um exemplo até bizarro de tamanho amadorismo, é o relacionamento da Prefeitura de Mossoró com mais de 2,5 mil veículos alternativos e congêneres, que despejam milhares de pessoas diariamente na cidade. Eles vêm do Vale do Jaguaribe (CE), Vale do Açu, Alto e Médio Oeste, além da região Salineira.

Há alguns meses, essa gente trabalhadora e de forte importância econômica, simplesmente foi banida do centro urbano, sem garantia de infraestrutura mínima nas áreas em que foi jogada.

É provável que Mossoró tenha população flutuante acima dos 20 ou 30 mil indivíduos/dia. Uma superpopulação desprezada, tratada com desdém ou mesmo imperceptível aos gestores públicos, que até aqui trabalham no improviso, no “achismo” ou sob a batuta de velhos modelos gerenciais.

Muitos de nós não entendemos o crescimento de Mossoró, sobretudo quando circulamos por sua periferia. Muitos não compreendemos o boom imobiliário e a migração de grandes grupos econômicos para essa terra.

Conjuntura

Os mais inocentes ou passionais, creditam tudo aos inquilinos da prefeitura. Outros, tão-somente à conjuntura nacional-internacional etc. A maioria não percebe que independentemente de fatores exógenos e algumas políticas públicas acertadas, pesam a extraordinária localização e potencial natural do lugar.

O West Shopping não foi instalado em Mossoró em nome do belo sorriso da prefeita Fátima Rosado (DEM). Algumas indústrias não estão se espraiando por mero incentivo do governo estadual. Híper Bom Preço, Lojas Americanas, Marisa, Renner e a indústria do petróleo não jogam âncora na cidade por nossa temperatura suíça.

Se na antiguidade todos os caminhos levavam à capital do mundo, Roma, na região de influência de Mossoró (cerca de 800 a 1 milhão de habitantes) todas as estradas/veredas – em especial do meio circulante – acorrem para esse lugar. Qualquer estudo canhestro – ou de reconhecida qualidade científica – mostrará isso.

Cada fábrica instalada em Grossos, Tibau, Governador Dix-sept Rosado etc. termina “despejando” dinheiro em Mossoró. De um simples Carnaval (Areia Branca) à indústria de cimento (Baraúna), temos moeda engordando a economia local, numa migração óbvia.

Deve ser observado, ainda, que Mossoró está se robustecendo como polo acadêmico. Milhares de jovens e adultos estão desembarcam diariamente na cidade em busca de conhecimento, a grande chave para o progresso pessoal e coletivo de qualquer povo.

Apesar de todas essas evidências, o poder público é convencional e atrasado, míope e primário em termos de gestão. Mossoró teima em ser provinciana, incapaz de avançar além dos arrabaldes de sua mentalidade política oligárquica, reducionista, patrimonialista e iníqua.

O futuro, dizem os mais fervorosos na fé, “a Deus pertence”. Em nome dessa fé, é bom lembrarmos: “Façamos nossa parte”.

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Categoria(s): Opinião da Coluna do Herzog

Comentários

  1. Marcos Aurélio Aquino diz:

    Carlos, seu texto é elucidativo, converge para uma avaliação cientifica e prática. Pura verdade. Até quando vamos aguentar os desmandos desta casta politica ? Tomara tememos consciência e mudemos os rumos políticos, pro nosso próprio bem.

  2. Paulo Roberto diz:

    Há muito tempo não via comentário tão preciso, coerente e realista como esse, mostrando porque essa cidade cresce. Alguns céticos afirmam categoricamente que Mossoró não cresce, apenas incha a sua periferia, incapazes de perceber o óbvio. Compete aos poderes constituídos fazerem a sua parte, disciplinando os espaços urbanos, construindo as obras estruturantes de verdade, os corredores de adensamento e as vias para onde essa cidade certamente crescerá. As gerações que virão serão fortemente beneficiadas.
    Quem viver verá.

  3. Fabio alves valentim diz:

    Parabéns Caro Carlos pela analise perfeita da atual conjuntura mossoroense, que os senhores do poder percebam esse polo de desenvolvimento multifacetado que é nossa cidade e invistam mais aqui! E que mossoró continuem crescendo , mas, de forma projetada!

  4. ze roberto diz:

    Uma análise,simples,completa e elucidativa,que necessita de todos os nossos olhos,ENXERGANDO MOSSORÓ,de uma forma bem mais MACRO,bem além de projetos familiares.

  5. Rui Nascimento diz:

    Gostaria de entender porque cidadãos comuns como você, eu e a sociedade como um todo consegue enxergar de forma simples e objetiva uma coisa tão explícita como a que você acaba de relatar neste feliz e realista comentário, mas nossos políticos insistem em fazer de conta que não veem, que não sabem, que essa realidade não existe. Afinal, para que serve essa gente? Deus nos presenteou com todas as riquezas que permite a esta “província” se desenvolver por ela própria, mas até quando isso perdurará? Já não seria a hora da sociedade cobrar de quem usufrui tanto e faz tão pouco por este lugar tão rico, mas ao mesmo tempo tão pobre? Quanto ainda Deus terá que disponibilizar do seu tempo, fazendo por esta querida e amada “província”, o que aqueles que se acham seus donos poderiam e deveriam fazer? Acordemos logo, pois amanhã poderá ser tarde. Deus poderá perder a paciência!

  6. WILLIAM PEREIRA diz:

    Entra num ouvido e sai no outro. Um olho não enxerga e o outro faz que não ver. Essa é a filosofia dos governantes de Mossoró, só interessa a manutenção no poder custe o que custar, o saber, a arte, a cultura, a economia tem de desenvolver somente de acordo com os interesses politiqueiro deles.

  7. Andréa Melo diz:

    Ao ler seu texto imaginei-o tendo sido escrito por um geógrafo legítimo, parabéns. Vou considerá-lo uma homenagem pelo dia deste importante mas nem sempre valorizado profissional que ocorreu no último dia 29. Voltando ao seu texto, concordo com cada palavra. Escolhi essa cidade para morar e fazer carreira, especialmente por enxergar nela um potencial que não enxergo na nossa capital, Natal de onde sou oriunda. Felizmente não dependemos apenas dos “políticos” que daqui fazem um CABIDE sem tamanho DE EMPREGOS, que se um dia não puderem mais ser políticos “POR PROFISSÃO” aí deles! Espero, sinceramente que esse dia não tarde, mas para tanto deveremos abrir nossos olhos o quanto antes. Aproveitemos o pleito que se aproxima para analisar com clareza e a realidade que temos e aonde podemos TODOS, chegar.

  8. Halan Vieira diz:

    Perfeito o texto! Resume bem o estado atual de nossa Cidade. Parabéns

  9. Gilmar Silva diz:

    Parabéns pela relevância da matéria que deve ficar em evidência neste blog para discussao pelo tempo que for necessário. Vamos discutir a cidade de Mossoró, essa jovem bonita, porém, mal-arrumada.
    Sempre tive interesse nessas questoes. Recentemente, elaborei um projeto para o ensino de lingua portuguesa para estrangeiros pela faculdade de letras da UERN que parece ter ficado fora “dos limites de Mossoró”.

    Reitero que é bastante relevante pôr em debate esse desenvolvimento moroso e bastante pausado desta cidade.

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