"Aquilo que se faz por amor, está sempre além do bem e do mal." (Nietzsche)
Meu caro amigo,
“Mas é claro que o sol/ vai voltar amanhã. Mais uma vez, eu sei… escuridão já vi pior/ de endoidecer gente sã; Espera que o sol já vem…”.
O problema é este, caro amigo, somos por demais agoniados, impacientes e imediatistas: queremos resolver o problema de séculos em questão de segundos. Mas não se esqueça do que nos ensinou o grande Guimarães Rosa: “Moço, Deus é paciência! O contrário é o diabo”.
Bem… é verdade que o diabo não existe, eu sei. O que existe é “homem humano”. “Homem humano” que machuca os outros; “homem humano” que está do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá…
Ah! Meu caro amigo, como tem gente enganando a gente: veja a nossa vida como está!… Veja a classe médica, sujeita à “pró-ratas” da vida; sujeita a trabalhar em condições desumanas, aviltantes e insalubres; sujeita a salários ridÃculos; sujeita a processos de todos os lados; sujeita, portanto, a todos os males… e quem deveria defender a gente, na verdade, está defendendo são os seus interesses pessoais…
E aÃ, meu caro amigo, elas não medem esforços para nos usarem como trampolins, afinal o que vale é o poder, o que vale é o pódio: é estar sempre por cima.
Amizade, lealdade, respeito ao passado, tudo isso é relegado ao lixo. O que vale é ganhar, sem se importar como… “Os fins justificam os meios”…
Portanto, se você quiser alguém em quem confiar: confie em si mesmo! Confie que a retidão moral, a ética, a vida reflexiva, etc. etc. não são coisas menores, como nos querem fazer acreditar aqueles que gostam de levar vantagem em tudo. Não!
Esses princÃpios que aprendemos em casa – no nosso berço-, são eles que devem ser os nossos referenciais. São eles que nos conduzem a felicidade.
Meu caro amigo, o poeta William Blake tem um poema que começa assim: “Uma marca encontro em cada rosto,/ Marcas de fragilidade, marcas de desgosto…”. Então, basta olhar para essas pessoas que não sabem amar, que não sabem o verdadeiro valor da amizade, que não compreendem o que você, certa vez me disse: “Amigo, nada nesta vida, absolutamente nada, nem dinheiro, nem status, nem posição social ou bens suplantam a importância de uma verdadeira amizade”…
Olhe para elas! Veja os seus semblantes.
Veja a máscara que usam para enganar: que estão de bem com a vida… só que ninguém consegue enganar a si mesmo… elas são tão infelizes. Infelizes, por não saberem amar… Desistir?! Jamais! “Isto não faz parte do nosso vocabulário”, me ensinou, recentemente, o mestre-amigo Gilmar Amorim: “Nós, Cristãos, não podemos desistir nunca!”.
Afinal, é claro que sol vai voltar amanhã… é claro que um dia, a classe médica acordará desse marasmo – dessa dependência de falsos lÃderes-, e saberá lutar pelos seus direitos, resgatando e defendendo, com unhas e dentes, a dignidade da nossa profissão.
Eu sei que um dia a gente aprende…
Mas, enquanto isso não acontecer, meu caro amigo, deveremos continuar a nossa missão de semeadores. Educar os jovens. Os alunos. São neles em quem deveremos apostar na mudança. Além disso, deveremos continuar a amar.
Amar até mesmo a falta de amor, como diz Drummond.
Amar até mesmo essas pessoas que estão nos enganando, afinal, elas nos dão a maior lição: o contra-exemplo. Como não deveremos nos portar; como não deveremos agir.
Por fim, deixo as sábias palavras de Nietzsche, para a sua reflexão: “Amor fati: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que a minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!”…
Sim! Ao sonho que vale a pena lutar, pois quem acredita sempre alcança…
Francisco Edilson Leite Pinto Júnior é professor, médico e escritor
BelÃssima crônica! Sou professor e sei o quanto somos tratados com indiferença pelos gestores públicos. Seria essencial se as pessoas podessem analisar de maneira critica os mais diversos aspectos do pensamento de sua época e procurar estabelecer uma ligação entre o passado bárbaro da humanidade e o estado (atual!) em que se encontra nossa sociedade. Partindo desse pressuposto, cabe a nós (a coletivdade) não mais aceitar as inverdades, os preconceitos, a prática polÃtica imposta e desumana, porquanto unicamente capitalista (por que se faz polÃtica pensando nas conveniências…) e tirânica. Por isso, “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, observa Renato Russo.
NOTA DO BLOG – Nossos webleitores estavam com saudades do seu texto umectado de humanismo, cartesiano, dilacerante. De seu jeito intenso e incisivo de provocar a dialética tão necessária à raça e ao planeta.
Médicos que não carregam o humanismo no coração, isto sim. Óbvio, existe exceção por ai… Todavia, o que salta aos meus olhos é a frieza e desumanidade da classe, a qual enxerga objetos, e, não, seres humanos.