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domingo - 03/05/2015 - 04:55h

Aos da minha geração (À memória de Juan Ponce de León)

Por François Silveste

Você não é velho do olhar de dentro,/ do que mantém interno o sentir-se jovem./ Sua velhice é do olhar dos outros,/ dos espelhos que você não quebra./

As murrinhas do corpo são de todos os tempos./ Sarampo, caxumba, bexiga, rubéola, vacina./ Depois; polução, convulsão, broxura, paixão./

Da vez de amadurecer,/ vem junto do duro a dureza./ Rinite, colite, hepatite, trombose, oração./

Do que fora osso duro/ vem torcicolo, reumatismo, comunismo, ganância, militância,/ ressaca e depressão./

Alheios olhos dos detetives da desgraça,/ a oferecer de graça os serviços de informar:/ “você tá ótimo”./

Não creia, você não tá ótimo./ Tá jovem nos seus olhos de dentro./ Esqueça os olhos de fora,/ ignore os espelhos,/ deixe que a espuma acaricie os pelos camaleões ./ Furta-cores./

Encontrei dona Etelvina Gato/ na Praça de Umarizal./ “cabelos negros, dona Etelvina”?/ Ela responde:/ “Pois é; na cabeça, onde só teve atropelo,/ tá tudo preto./ Lá embaixo tá tudo branco, e só foi diversão”./

A vida é assim./ Nem sempre o preto tá no branco ou o branco no preto./ Somos, na vida, os cabelos ou os pentelhos de dona Etelvina./

Que tempos vivemos?/ jovens ou velhos tempos,/ a imitar a repetida velhice./ Ou tempos de repetir a mocidade,/ deixando para o relógio o tiquetaquear das horas./

Minha geração foi tudo, menos velha./ Teve caxumba, catapora, gonorreia e esperança./

Onde anda o código de cada geração,/ de que falou Paulo Francis? A de hoje deve uma promissória ao seu tempo./ E não se entende./ Falta-lhe um código./ Ou a decodificação.

E você é que é velho?/ Exiba suas rugas ante a lisura da pele dos que se negam a enrugar sua mocidade triste./ Será que é preciso a repressão para despertar o entusiasmo?/

Não. Não precisa./ Pague o preço do seu tempo,/ enfrente os demônios,/ pois toda época possui hospedeiros do inferno./

Na Bíblia, há as bestas do apocalipse./ Coisa para luta de heróis./ Não é tarefa pra nós./ Agora, são os jegues do eucalipto./

Na minuta daqui do tempo confuso,/ entre mofumbos e parafusos,/ são três os jegues do monturo./ Velhos, fantasiados de jovens./ Imundos e pousados de limpos./

Assim enumerados,/ sem números, não se conta./ O primeiro é o jegue moralista,/ que rincha./ Do barulho, não deixa a vizinhança da liberdade dormir./

O segundo é o fundamentalista, que escoiceia./ Aos gestos estúpidos da violência,/ confunde coragem com histeria./

O terceiro é o intolerante, que bufa./ Emprestado dos outros,/ nada ouve além do rincho,/     murcha as orelhas, mas falta-lhe o coice./

Vivam todas as idades/Todos os afetos/Todas as saudades!

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Poesia

Comentários

  1. Marcos Pinto. diz:

    “…Ponha as mãos na nuca, estique as pernas, boceje e se espreguice à vontade. Nessa hora é provável que você ouça o ranger de suas próprias vértebras, qual estranha orquestra de ossos, que talvez lhe esfrie o sangue e desperte na consciência a sensação de impotência com gosto de remorso”.(ANTONIO NORONHA PINTO – Antonio Tom).

  2. ROSANA diz:

    François Silvestre , não confunda liberdade com libertinagem , um moralista não se opõe a liberdade , até porque ele precisa ser livre para ser moralista . Este texto transmite muito rancor , não existe geração melhor ou pior que a outra , existem humanos melhores ou piores que outros , em todas as gerações .

  3. françois silvestre diz:

    Rosana, vá dar lição de moralidade pra sua líder!

    • ROSANA diz:

      François Silvestre , se você está insinuando uma “lider” religiosa , saiba que nem religião eu tenho , na verdade meu Deus é o Bem , que é o que almejo , e minha Religião é a Justiça , que é o que pratico . Considero Jesus Cristo um grande humanista , e quero muito que o Deus cristão exista , mas é só torcida . É muito estranho essa reação ‘agressiva” , só por uma pequena observação que fiz sobre seu texto . Você não acha que está um pouco “grandinho” para não saber lidar com críticas ? . Por isso que digo que escritores fazem as pessoas pensarem com a cabeça deles , e definitivamente eu não quero pensar com a sua .

  4. françois silvestre diz:

    Pense não, Rosana. Basta usar a sua, sem pensar. Que a carga já é bastante pesada. Crítica eu sou obrigado a acatar e agradeço por recebê-las. O que não recebo é lição de quem confunde moralidade com moralismo. Quem já confessou aqui mesmo ignorância literária. “Não gosto de literatura, mas de coisas práticas”, disse você. Ou não disse? Mesmo assim, respeito suas opiniões. Não suas lições. Para ensinar é preciso primeiro aprender. E pelo seu texto, inclusive com erros crassos de português, como está num comentário seu lá no Texto de Honório, fico autorizado a respeitá-la pela opinião e dispensá-la como professora.

    • ROSANA diz:

      François , minha observação foi para o sentido errado que seu texto mostra , repito , um moralista não se opõe a liberdade , e sim a libertinagem . Passar uma mensagem mentirosa , é mais grave que um texto com erros crassos de português . São tantas pessoas que cometem erros de português , e de todos os níveis sociais , que só posso achar que se trata de tirar o foco da grave e certeira acusação que lhe fiz . Não sou professora e se fosse escritora , seria mais responsável com o significado das palavras ,e não somente com a sua escrita .

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