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domingo - 19/05/2019 - 09:12h

Autonomia universitária, livre pensar e aperto financeiro

Por Odemirton Filho

A universidade, como se sabe, é um espaço plural, no qual as mais variadas discussões devem prevalecer, fazendo-se uma ambiência de ideias e coloridos diversos.

Não cabe no âmbito universitário restrições ao pensar, ao discutir. O ensino, a pesquisa e a extensão são indissociáveis ao desenvolvimento de docentes e discentes, sobretudo, de uma nação.

Assim, para bem desempenhar suas funções, é imprescindível que a universidade detenha autonomia didático-científica, administrativa e financeira, a fim de enveredar por caminhos múltiplos, sem amarras que dificultem a circulação de tendências sociais, culturais e políticas.

Nesse sentido é o que preceitua o Art. 207 da Constituição Federal.

Entretanto, nos últimos dias, as universidades federais foram alvo de um contingenciamento de verbas o que, segundo alguns gestores, dificultará o seu regular funcionamento.

Com o escopo de diminuir gastos, o Governo Federal tem contingenciado verbas em quase todos os setores da Administração Pública, em decorrência da grave crise fiscal que atravessa o estado brasileiro.

Todavia, há uma grita em desfavor desse contingenciamento na pasta da Educação, porquanto deverá sacrificar, ainda mais, a sofrível educação brasileira.

Desse modo, em defesa das universidades, milhares de professores, servidores e estudantes foram às ruas na última semana contra esses “cortes”.

Por conseguinte, em seu costumeiro arroubo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) atacou os manifestantes, chamando-os de “idiotas úteis” e “massa de manobra” em favor de grupos específicos.

Ressalte-se que se houve a participação de pessoas defendendo políticos, apesar de não ser o objetivo das manifestações, não deslegitima o movimento, pois as ruas são palco de qualquer espécie de reivindicação.

A luta hercúlea do presidente e de seus seguidores no combate ao que nominam marxismo cultural é desmedida. Para eles o meio acadêmico se resume a uma guerra ideológica e a disseminação de ideais comunistas.

Se, efetivamente, existe essa “doutrinação” à esquerda, parece-me que o objetivo do novo governo é, tão somente, substituir por uma “doutrinação” à direita. Ou talvez promover a revolução conservadora apregoada pelo seu guru ideológico.

Na realidade, a universidade constrói conhecimento e produz pesquisa e extensão, mesmo diante de sua carência estrutural e humana.

Do exposto, quando milhares foram às ruas, ao contrário do que afirmou o presidente, não presenciei idiotas úteis, mas professores, estudantes e servidores em defesa de uma universidade pública e de qualidade.

Odemirton Filho é professor e oficial de Justiça

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Carlos diz:

    Nessa celeuma, algo primordial passa batido…
    As universidades não diferem da realidade do restante do setor público. Não são uma ilha de competência, quando trata-se do manejo das verbas públicas. Lá também gasta-se muito mal. Antes de falar de quantidade (e não é pouco dinheiro, apesar de que talvez não seja ainda o suficiente) já é hora de falar de qualidade. Não adianta ter rios de dinheiro e gastar de qualquer modo. Basta ver quanto e como é o gasto com diárias e passagens, para se ter uma noção.
    Obs.: Interessante também que contingenciamentos anteriores não geraram tanta revolta.

  2. Rosilene Rocha Soares Pinto diz:

    Esse desgoverno que aí está não tem interesse em pessoas instruídas, cabeças pensantes e consequentes questionamentos e cobranças!!

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