• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 03/12/2017 - 04:14h

‘Casa da saudade’

Por Jânio Rêgo

Sobre a parede do açude seco de Zé Melquíades diminuo as passadas contemplando a casa lá no alto.

Ideias velhas e novas que me trazem de volta praqui misturam-se às antigas memórias de infância de minha mãe e meus avós maternos.

Estamos em pleno estio de novembro, as serras estão cinzas, o verde deu lugar ao amarelo nos roçados e há muito menos gente morando nas redondezas.

Não há mais o barulho do engenho de rapadura lá em tia Zefinha e o bicudo há muito tempo expulsou a alvura do algodão pelos arredores das casas e os capuchos nos galhos secos dos caminhos.

Não há barulho de cascos mas de forrageiras e motocicletas.

Vou andando e me lembrando que não é uma casa tão velha como devia ser aquela do forró de Flávio José e mesmo se fosse, penso, eu jamais a trocarei por causa de um ‘amor novo’.

Tudo nela me é profundamente familiar, uterino… Odores, poeira, o piso de cimento frio, o vento que sopra no meu rosto quando abro a folha superior da porta virada para o nascente.

É também uma ‘Casa da Saudade’ essa que vovô morou, mamãe herdou e passou pra mim.

Por isso que nunca entendi a letra desse forró… parece expressar mais um sentimento de paulista… penso, e vou logo cuidar de cozinhar o arroz vermelho que a fome acaba de me tirar do devaneio.

Jânio Rêgo é jornalista

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. François Silvestre diz:

    Beleza de texto e de fotografia. Aliá, duas fotografias.

  2. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Concordo François Silvestre, mais lhes digo, parece um quadro expressionista tal a clareza e o realismo visceral com que restam fotogrados as nuances do nosso sertão semi-arido nordestino.

    Caso fosse indicado à algum turista gringo, ser uma pintura de Francis Bacon (1561 – 1626), Goya (1746 – 1828), Edvard Munch (1863 – 1944) e Van Gogh (1853 – 1890),com certez o gringo porventura iria acreditar ser, tão somente uma pintura, e não nossa realide nua e crua, tão bem descrita através da belezura do Texto e da impaga´vel fotografia em destaque, por obra e graça de Jânio Rêgo.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  3. Honório de Medeiros diz:

    François já disse tudo.

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