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domingo - 14/06/2020 - 07:30h

Cidades inteligentes – espaços de esperança

Por Zildenice Guedes

Alguém antes de mim, já afirmou categoricamente que a cidade é o lugar do encontro (LEFEBVRE, 2001). Não posso deixar de concordar. Para Harvey (2000), a cidade é um espaço em transformação. Estamos no século XXI e a cidade continua a ser o local para onde nos mudamos sob diversas perspectivas. Afinal, inúmeros de nós viemos a cidade para realizar nossos sonhos, para melhorar de vida, para conseguir um emprego, para dar um ensino de qualidade aos filhos, para cursar aquele curso universitário dos sonhos.

É da compreensão da cidade enquanto um espaço de transformação e diferença, encontro com o outro, lugar de reprodução da vida e suas condições materiais que hoje proponho refletirmos o tipo de cidade que temos, seus desafios, e de onde podemos alocar esperança para (re)construção de uma cidade pautada pelo princípio do desenvolvimento sustentável.Estima-se que até 2050, mais de 75% da população mundial estará morando nas cidades (ONU, 2017). A cidade é caracterizada por maior densidade demográfica, maior demanda de recursos (água, sistema de energia, transporte, etc), relações contratuais e econômicas, bem como aspectos afetivos também. Afinal, é comum alguém não querer sair do lugar em que seus pais e avós passaram toda a vida.

Com isso, cada vez mais tem se intensificado a compreensão de que a cidade do século XXI demanda recursos naturais, mas também demanda o uso sustentável destes, que está relacionado ao uso coletivo, portanto, as cidades encontram-se frente a desafios muito importantes, tais como, as mudanças climáticas e todas as suas consequências. Entende-se assim, que as cidades precisam defender também um aspecto humanista em que se considere como fundamental a inclusão de todas as pessoas que habitam esse espaço, e por ser um espaço heterogêneo, tem também, demandas distintas.

Nesse sentido, tem se tornado comum a apropriação de conceitos para o espaço urbano, tais como, cidades inteligentes, em que defende-se o uso racional dos recursos naturais, maior participação da sociedade civil, difusão de tecnologias que potencialmente podem favorecer a melhoria na qualidade de vida dos cidadãos e cidadãs. Assim, afirma Navarro, Ruiz e Pena (2017, p. 273 apud Cortese et al 2019):

Os diversos conceitos de cidades inteligentes presentes na literatura incluem o uso da tecnologia para melhorar a comunicação entre empresas, coletivos, instituições e indivíduos; para soluções ambientais como produção de energia e gerenciamento de resíduos; para melhoria do acesso a serviços, como os de transporte, saúde, educacionais e culturais, ampliando o funcionamento operacional da rede, bem como para ampliar a eficiência na forma como os serviços são prestados e controlados.

Se antes pensar na cidade em uma perspectiva tão ampla era apenas utopia, hoje, trata-se de uma condição necessária para a sociedade de uma forma geral. Todos os problemas de uma cidade estão interligados. Se não há educação de qualidade, se não há acesso e garantias desse direito previsto na constituição, por exemplo, outros problemas advirão, tais como o aumento da violência, a falta de mão de obra qualificada, aumento das áreas de periferia e suas vulnerabilidades.

Se uma cidade não conta também como uma gestão inteligente de resíduos sólidos, ocorrerá igualmente uma infinidade de problemas, tais como, aumento de doenças, aumentando problemas de saúde pública, áreas perderão valor comercial, recursos naturais serão comprometidos.

Podemos citar muitos outros exemplos de como as problemáticas se intensificam na medida em que os direitos à população não são garantidos, na medida em que a cidade não se configura como uma cidade inteligente e, portanto, sustentável, pois “com planejamento e gestão eficientes, as cidades podem se tornar incubadoras para inovação e impulsionadoras do desenvolvimento sustentável” (CORTESE et al., 2019, p.138).

A necessidade de construir e (re) pensar o espaço urbano em uma perspectiva de sustentabilidade é uma necessidade para ontem. Nunca se reconheceu de forma tão clara o quanto as cidades precisam ser conduzidas por uma perspectiva de sustentabilidade a longo alcance. A ideia, nesse sentido, é fortalecer o dinamismo local pensando no global.

As cidades demandam uma série de resoluções para uma diversidade de problemas, tais como: mobilidade urbana, violência, desemprego, falta de assistência social, falta de inclusão social, moradia, sobretudo projetos de moradia que contemplem a vida real dessa família, pois, nesse quesito, o que temos visto é projetos de habitação que alocam as pessoas para bairros completamente distantes dos seus locais de trabalho, escola dos filhos, problemas intensificados com a falta de transporte público, falta de incentivo a participação popular nas tomadas de decisão. Afinal, as pessoas precisam sentir que pertencem a esse espaço e que são importantes para o desenvolvimento sustentável da cidade.

As cidades são organismos vivos e dinâmicos e por isso precisam incorporar novas tecnologias e processos que mais que tudo, objetivem diminuir a emissão de carbono na atmosfera, para dentre outros benefícios, diminuir os efeitos das mudanças climáticas na vida das pessoas.

Somos convidados ainda a (re)pensar o que a cidade simboliza para nós em um convite a coletividade, pois como afirma Harvey (1998, p.24) “é o poder do espírito humano, em vez do revólver, que encerra a chave para o futuro”. Que para todos nós a cidade represente em sua essência, esse espaço de esperança.

Zildenice Guedes é professora-doutora em Ciências Sociais pela UFRN

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Evanice Fernandes diz:

    Que riqueza de texto, Parabéns Carlos, por nós trazer conhecimento através da professora Zildenice , que inteligência

  2. Thais Ariane de Souza diz:

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