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domingo - 15/10/2017 - 07:26h

De Lacerda a Aécio

Por François Silvestre

A política se faz em ciclos, lições e consequências. O grave é que os ciclos não se completam coerentemente, as lições não são apreendidas e as consequências fogem do controle.

Quando o governo Jango chegou às vésperas das eleições presidenciais, marcadas para 1965, o próprio Jango pensava num saída legal para ser candidato. O PSD já lançara, em convenção, a candidatura de Juscelino Kubistchek, e a UDN fizera o mesmo lançando Carlos Lacerda.

Nas paredes dos muros do Brasil havia a chamada do marketing da época: JK-65. Lacerda flutuava favorito, nas pesquisas. E Jango “incendiava” o país com a proposta das reformas de base. Brizola promovia agitação das massas.

Jango fazia o jogo da oposição. Oposição quer instabilidade. O comício da Central do Brasil, no início de Março de 64, foi o pretexto que a Direita precisava para estimular o apoio material, e militar se necessário, dos Estados Unidos, ao golpe de Estado que vinha sendo costurado desde a eleição de JK, em 1955.

A disputa entre americanos e soviéticos, pelo domínio e controle do planeta, punha o Brasil na condição estratégica do interesse do Tio San. Não suportariam uma “grande Cuba”. E era essa a impressão que a Direita demonstrava aos EEUU com as fotos e filmes daquele comício.

Nos quartéis, havia um partido político sem filiação eleitoral. Aqueles generais nunca foram militares, no sentido castrense do termo. Políticos desde que tenentes, nos Anos Vinte; coronéis, nos Anos Quarenta; e generais, nos Anos Sessenta. Políticos e politiqueiros. Só o PSD e a UDN não percebiam isso.

O golpe retirou Jango da disputa e da vida pública. Lacerda participara do núcleo da conspiração. Queria caminho livre. Juscelino apoiou o golpe, depois de consumado, e votou em Castelo Branco, que lhe prometera manter a calendário eleitoral.

Se Castelo fosse militar teria cumprido a promessa. Mas era político, e mentiu. Cassou Juscelino. Lacerda, dessa forma, pensava livrar-se dos únicos candidatos capazes de vencê-lo.

Só que os políticos da caserna tinham outros planos. No segundo governo da Ditadura, Lacerda foi preso e cassado. Para tirar Jango do jogo, Lacerda e Juscelino caíram do cavalo e foram pastar no ostracismo. Sem o apoio deles, a milicada não teria chegado ao poder.

Sem fazer comparação de mérito com o quadro atual, por serem absolutamente distintos, numa coisa há semelhança: A sucessão.

Aécio Neves quase derrota Dilma. Tinha tudo para chegar ao pleito de 2018 na condição de líder inconteste da oposição. Tinha. Passado imperfeito.

A queda de Dilma, acusada de “pedaladas”, mudou o cenário. Primeiro pela fragmentação política da liderança de Aécio, depois pelo seu envolvimento nas mesmas práticas que tanto denunciara.

Pobre de líderes o cenário aposta na mediocridade. Os fanáticos não aposentam os chavões; à direita e à esquerda. Há de tudo, menos Inteligência política e espírito público. Nunca, como agora, a ignorância foi tão atrevida.

Té mais.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Augusto Heleno diz:

    Perfeita análise!

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