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domingo - 01/01/2017 - 22:58h

Democracia de exceção

Por François Silvestre

Não se compara, nem de longe, com a exceção das ditaduras; vez que não há repressão política nem restrições à cidadania.

O tipo de violência que vivemos é de outra natureza. Insegurança na monstruosa incompetência do Estado, onipresente na desumanização e ausente no amparo. Tempo de exceção institucional.

Quando a Ditadura de 64 exauriu-se, apodrecida na lama do sangue que derramou, quis fugir do banco dos réus. E o fez negociando com ex-aliados que abandonavam o barco e com antigos inimigos que tinham pressa em abocanhar o poder.

Uma aliança dessa natureza não poderia produzir uma ordem institucional séria nem duradoura. E foi o que ocorreu. Uma constituinte, desfigurada pelo congresso constituído, para redigir a Carta Magna das Corporações. Remendada e piorada a cada remendo. Cidadania de retórica e patronato de privilégios.

Aliados antigos e beneficiários do regime decaído assumiram o comando da transição.

Para assegurar sossego ao domínio dessa desordem foi escancarada uma porteira para o estouro das corporações. Castas elevadas à condição de inalcançáveis pelos poderes tradicionais. Se há uma coisa que necessita de tradição é a prática democrática.

No Brasil, inovou-se para pior. Negou-se a tradição inaugurada em 1946 e recriou-se a cavilação. Da esperteza nobiliárquica do legalismo, do bacharelismo e do corporativismo “meritocrático”.

Sem falar na manutenção do Jaboticabal da vitaliciedade em cargos de indicação política, sem o concurso exigido na própria Carta. A vitaliciedade só se justifica na Magistratura. Só. Fora disso, é contorcionismo de malandragem.

Repito o que já disse aqui: O constituinte de 88 salvou sua biografia ao prever, no Ato das Disposições Transitórias, uma reforma geral da Carta após cinco anos da sua promulgação. Seria a forma de corrigir equívocos e chamar à ordem o feito que produziu um monstrengo ao calor do afogadilho. Essa reforma recolocaria a redemocratização nos eixos.

Os mesmos que aí estão, ou por seus descendentes, não fizeram a reforma prevista. Atores da mesma peça bufa, da burlesca encenação. Em não sendo feita a reforma, chegou-se à senilidade institucional.

Tudo desaguado nessa democracia de cangalha. Estado Democrático de Exceção.  Confissão pública dos outros Poderes da incapacidade atributiva. O País entregue ao quem sabe e ao talvez. A vida merecendo o risco do talvez e do quem sabe.  Com licença de Alencar Furtado, no discurso libertário. Tempo em que a vida também valia pouco.

Hoje, a vida vale nada! Todo o aparato repressivo volta-se para a defesa do patrimônio “público”. Sem prevenção. Só repressão, ineficiente e inútil. A corrupção faz a festa, dos corruptos e dos seus “combatentes”.

Enquanto as ruas são propriedades dos bandidos e as casas presídios desguardados.

Té mais.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. naide maria rosado de souza diz:

    Santo Inácio de Loyola!
    Eis a chaga : repressão sem prevenção.
    François mostrou , com a facilidade que a inteligência lhe faculta, a ferida que, sem a medicação, pode infectar.

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