Por Honório de Medeiros
Seu Antônio de Luzia uma vez me disse que os homens são tangidos por aqueles que dizem não. Ele não me disse assim, essa é uma “transcriação” minha, nem mesmo sei se ele a aprovaria.
Homem de muito poucas palavras, diz apenas o suficiente, quando fala é quase como um corte seco e definitivo de navalha.
Graciliano Ramos aplaudiria entusiasmado sua sisudez verbal.
O certo é que fiquei a pensar: ao longo do tempo parece que as coisas acontecem mesmo como Seu Antônio de Luzia me disse.
Uma longa lista de homens e mulheres notáveis, em certo momento histórico, nadou contra a correnteza do rio. E, de uma forma ou outra, fez a diferença.
Sócrates, Platão, Jesus, Buda, Freud, Marx, Einstein, Darwin… Eu os chamo de “outsiders“.
Os outsiders são muito interessantes. De forma alegórica estão presentes em um romance famoso na segunda metade do século passado, “Demian”, de Hermann Hesse.
Em “Demian”, Hesse nos apresenta a um adolescente que fica fascinado por seu colega de escola principalmente graças a mãe dele, mulher bela e misteriosa, iniciada em uma seita religiosa denominada “Cainismo”.
O que seria esse “Cainismo”? Quando essa questão aparece na convivência entre “Demian”, e seu interlocutor, aquele lhe apresenta, como ponto-de-partida para o conhecimento do Cainismo, uma longa relação de personagens condenados pela história oficial: é o caso de Caim, o irmão de Abel, cujo nome batiza a seita; é o caso de Eva; é o caso de Judas Iscariotes.
Vale ressaltar que o “Cainismo” foi resgatado da total obscuridade, no século XIX, por Lord Byron, e é possível que somente exista, enquanto referência histórica, em obras emboloradas de historiadores praticamente desconhecidos, a grande maioria existente apenas no “Cemitério das Obras Esquecidas”, que fica em Barcelona, segundo Szafón.
A pergunta que “Demian” faz a seu interlocutor durante todo o transcorrer da trama é se haveria Abel sem Caim; o Homem, sem Eva; Jesus, sem Judas.
Evidentemente, a pergunta implícita e fundamental por trás de sua doutrinação, é se haveria Luz sem Trevas; se haveria o Ser, sem o Nada. O que nos remete, cada vez mais longe no tempo, até o Maniqueismo do qual foi seguidor, por um bom tempo, ninguém mais, ninguém menos, que Santo Agostinho.
E que não se livrou de sua doutrinação inicial: que é a “Civitas Dei” senão a contraposição à “Civitas Terrena”, Deus versus Demônio? Luz versus Trevas?
Não seria essa percepção dualística da realidade o cerne do Catarismo, professado pelos Perfeitos, que a Inquisição, no Século XIII, varreu da face da França mandando matá-los todos naquela que seria a Primeira Cruzada e que foi liderada por ninguém menos que São Luis?
Voltando ao ponto de partida, e a Seu Antônio de Luzia: ele está certo, penso eu.
Todos esses homens disseram “não”, em algum momento da história. E esse “não” fez a diferença.
E cá para nós, somente é livre quem pode dizer não.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura de Natal e Governo do RN
Um belo texto, preparatório da gelada daqui a pouco. Tempos de cemitério de obras, monturo de ideias, esgoto do respeito à diversidade. Tempos do sim, também fico com o não.
NOTA DO BLOG – Na manguaça, né?
Como comandante-em-chefe plenipotenciário do Nosso Blog, admito que cumpro expediente quase normal neste domingo, cá na Serra de Luís Gomes, beiço com a Paraíba, depois de uma madrugada de “tromba-d’água” daquelas.
Não fosse meu lazer, estaria puto com a labuta deste domingo. “Arbeit macht frei” (“o trabalho liberta”), frase no portão de entrada de Auschwitz, deixa claro como devemos ter cuidado com essa invenção. O coronel Honório sabe bem.
Abraços.
Meu irmão François, um elogio seu é uma comenda. Inda mais no bojo de uma frase bela desse tipo, que vc constrói com uma facilidade que é uma maravilha! Se Carlos Santos não tivesse meio cansado, com um reumatismo renitente, qualquer dia desses iríamos ao Cajuais da Serra, para dois dedos de prosa…
Não. Nem gelada, posso. Cuido de netos. Não, não vou a bailes. Não, não dá. Ontem, quis ir ao Rio Sul. Não, não vá!
Muitos blocos nas ruas. Sim, vá ao Shopping mais próximo! Sim, fui. Com as crianças maiores. Pedimos aquelas cebolas fritas , batatas, sucos, uma coca e um sorvete. Tudo delicioso. Conta: 259,00. Não, não acreditamos, mas sim, era aquilo mesmo. Não, não olháramos os preços antes.
Sim, demos uma volta. Fantasiei-me com um laço amarelo nos cabelos. Sim, minha cor favorita.
Hoje, os pequenos têm baile e é aniversário de um dos maiores. 11 anos.
Não, não irei ao baile. Sim, cervas me esperam. Também, sou filha de Deus!
NOTA DO BLOG – Ela sim.
É isso mesmo, Doutora. Também somos filhos de Deus. Cabe umas cervejas, para lavar as canseiras…
Não, não, peça nada sem olhar os preços. Não, não pagaríamos aquele preço, culpa das batatas e das cebolas, embora deliciosas.
Detalhe: quando chegamos em casa ainda jantamos!
Não, as iguarias não mataram nossa fome!
Mas é Carnaval!
Meus amigos do Blog, diversão ou descanso para todos, porquê é Carnaval. Não, não permitam tristezas! Trégua.
Precisamos de um artigo de Naide Maria. Com certeza
irá abrilhantar nosso blog.
Contextualizo-me com a essência do eloquente artigo do Meu distinto amigo Honório de Medeiros. Entendo que a inteligência prende-se a arte de se dizer NÃO no oportuno momento. Abraçaço.
Prof.Odemirton. Aqui, sou sua aluna, gosto demais de seus Artigos e dos de outros componentes que me informam e, sorrateiramente, aproveito suas inteligências. Obrigada!