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domingo - 30/09/2018 - 08:28h

Entrar na selva da política sem conhecer as feras

Por Francisco Ferraz

A política é onipresente nas relações sociais. Você não se livra dela na sua vida pessoal, profissional e social. Na “selva da política” há todos os tipos de “animais”. Há leões e raposas, como há serpentes, hienas e abutres. Há também uma farta coleção de cordeiros. Com estes últimos, você não precisa se preocupar muito, mas com os primeiros toda a atenção é pouca.Não é tarefa fácil sobreviver nesta selva. Também não é nada fácil impor seu poder e sua vontade, em meio a tantos riscos e desafios. Sua primeira missão é, pois, conhecer a selva e os seus habitantes.

Todo o erro de avaliação neste meio tem um custo pesado. Se você tratar um leão como raposa vai se dar mal, se você demorar em reconhecer uma serpente, vai descobri-la pela mordida.

O que torna a vida nesta selva ainda mais complicada, é o fato de que você, não pode desconhecer esta realidade, mas também não pode defender-se dela, adotando uma atitude de crônica insegurança e desconfiança. Esta atitude induz a timidez, à hesitação permanente e, em última análise, à sua irrelevância política.

Não há saída. Você precisa conhecer a selva e tornar-se um mestre na arte de avaliar as “feras” que nela habitam.

O político com uma aguda capacidade de observação e um julgamento maduro e equilibrado decifra intenções, antecipa-se a surpresas, surpreende manobras, conhece os pontos fortes e fracos, e sabe os limites das pessoas com quem lida.

Como diz Baltasar Gracián: “Ele não é precipitado nem para amar, nem para crer”. A precipitação no julgamento é um sinal de fraqueza e imprudência que conduz a situações embaraçosas e a desfechos litigiosos.

Alguns habitantes da floresta

O pessimista Há pessoas que são, por natureza, melancólicos e pessimistas. Estão sempre prevendo desgraças e problemas, sob as aparências da prudência e da previdência. Não esqueça nunca, você precisa saber distinguir o pessimista do prudente. O pessimista é a caricatura do prudente.

O arrogante É hipersensível e hiper orgulhoso. São pessoas muito perigosas para ter a seu lado. Na realidade só se comprometem consigo mesmos. Sua lealdade cobra o alto preço das permanentes manifestações de apreço, prestígio e deferência. Apontar um erro, submetê-lo a uma admoestação, fazer-lhe uma crítica, costuma ser percebido por ele como um crime de lesa-honra, a exigir vingança como compensação. Afaste-se deste tipo de pessoa.

O desconfiado Este é outro tipo de pessoa, que esconde a sua insegurança crônica, sob as aparências da prudência. Para ele, ninguém é confiável. Sua capacidade de observação e julgamento está sempre comprometida, pela sua obsessão. A vítima pode variar. Pode ser ele a pessoa a quem os “outros” querem prejudicar, ou pode ser você. O alvo da desconfiança, porém, também pode variar: podem ser outros, mas também pode ser você…

O passional É, de certa forma, o oposto do pessimista. Tende a ser monotemático, obsessivo e muito propenso a fantasiar. Apaixona-se por uma ideia ou projeto e somente enxerga aquilo que reforça sua convicção. Sua relação com o real está profundamente comprometida por sua paixão.

selva da politicaA serpente ofendida Este tipo é um dos mais perigosos de manter junto a si. Você nunca sabe quando ele se ofende ou se decepciona. Ele guarda a mágoa escondida de todos e a cultiva no seu interior. Aparentemente tudo parece estar bem com ele. Mas é calculista, frio, e sabe esperar. Na hora certa, quando você menos espera, ele dá o “bote” e se vinga da “ofensa” sofrida, sem ter dado a você a oportunidade de repará-la. É também um dos tipos mais difíceis de identificar. Como toda serpente, já terá mordido alguém no passado.

O formalista leal Este é um tipo interessante. Ele é um “Catão”, sempre atento aos deslizes dos outros – inclusive os que você comete – rígido no aspecto moral e jurídico, obsessivamente apegado à legislação positiva, com uma verdadeira devoção aos princípios da hierarquia e da ordem. Ele é um “xerife, um “zagueiro” e tende a ser encarado pelos outros como um “chato”, um “empatador”, uma pessoa que só vê dificuldades, ilegalidades e riscos nos projetos e planos deles. Por este último aspecto, ele tende a ser uma pessoa extremamente leal a seu chefe, assumindo a condição de seu protetor. Embora formalista, ele deve possuir alguma maleabilidade que lhe permita moderar sua postura intransigente, para combinar a necessária proteção com a igualmente necessária capacidade de correr riscos.

O inseguro Este é um tipo que vê perigo por todos os lados, que hesita em decidir e agir para não correr riscos. O inseguro é sempre uma pessoa indecisa. É um tipo fronteiriço com o desconfiado e o pessimista, usando os argumentos de um e de outro, para revestir a sua insegurança nas aparências da prudência. Não o designe para funções que exijam agilidade administrativa, capacidade de ação, iniciativa e criatividade. Pode ser um assessor útil, uma vez que sua insegurança exige que ele seja preciso e minucioso no trabalho que desenvolve. Esta não é, contudo, uma qualidade profissional. É um defeito pessoal que pode, numa função de aconselhamento, tornar-se uma virtude.

O otimista incurável Muito próximo do passional, dele difere por não ser monotemático. Encara tudo na perspectiva positiva, sempre vê o “lado bom das coisas”, acredita que tudo é possível. Cuidado com a capacidade de envolvimento que ele possui. Ele administra em doses generosas um “veneno doce”. Muitos governantes têm “um fraco” por este tipo. Afinal no governo muitas são as notícias ruins e uma boa dose de otimismo é pois, sempre bem-vinda. O otimista incurável é um guia para a ilusão, para a fantasia, para o mundo dos desejos. Haverá ocasiões em que ele tem razão em ser otimista, mas será por um acaso e não o resultado de uma análise objetiva.

Francisco Ferraz é professor de Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Sensacional!
    Encontramos essas variantes em nosso dia a dia. Até nos achamos meio parecidos com alguns.
    No entanto, na esfera política, há de se cuidar para que não se conte com os que ultrapassam as estribeiras de características humanas, vez por outra, semelhantes às de bichos.

  2. François Silvestre diz:

    Ressalvada a expressão “ciência política”, pois ciência não é, o texto é uma delícia. O engraçado é que me identifico em vários pontos, nos mais variados conceitos, inclusive nos antagônicos. Parabéns!

  3. Cruz diz:

    Parabéns.

    Ótimo artigo.

    Um belo ponto de vista. Sobre o que é política. Um profundo estudo de uma partida de Xadrez. É uma metamorfose.

  4. Paulo Carvalho diz:

    SOCIALISTA de IPHONE: politicamente correto, acredita na paz mundial praticando uma ideologia que mais assassinou pessoas no mundo. Prega a igualdade mas é muito feliz em utilizar todas as maravilhas que o capitalismo oferece e tudo faz para dividir a sociedade em categorias como a cor da pele, gêneros infinitos (ABCDE….K+e^1000) e relativizar TUDO desde que seja favorável à narrativa da lacração. A publicação no instagram é suficiente para fazer parte do clube.

    ZUMBI LACRADOR: ao acordar faz autoflagelação porque ele é da CASA GRANDE, tem camisa do Karl Marx, Che Guevara e acredita que Brasil 247, mídia ninja e carta capital são mídias independentes. Uma avalanche de contradições toma posse de seu cérebro, deixando-o incapaz de analisar qualquer tipo de argumentação baseada em fatos. Os Estados Unidos são malvados e opressores e algum sindicato / DCE / sede de movimento social é o templo de adoração e renovação da fé revolucionária.

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