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domingo - 20/01/2019 - 06:22h

Entrelaçamento familiar como fator de povoamento do Oeste

Por Marcos Pinto

Dentre os  diversos  tipos  de  relações  sociais  existentes  na  história  da  humanidade, destaca-se  com  veemência  um  estatuto  dominante  denominado  de  tráfico  de  influência.  Costumo  dividi-lo  em  patrimonial  e   espiritual.  Naturalmente, é  encontrado em todos os  segmentos  sociais,  do  mais  humilde  às  tradicionais  famílias, espécies  de  castas  com  fito  único  de  predominância  sobre  os  menos  favorecidos  pelos  detentores  do  poder.  Nesse  contexto, assume  nuances  estonteantes,  quando  se  adentra  em  estudo  minucioso  sobre  o  desiderato  histórico  das   primitivas  famílias  que  povoaram  a  região  Oeste  potiguar.

Há  notórios  tipos  de  entrelaçamentos  familiares  seletivos, destacando-se  aqueles  entre  famílias  afrodescendentes  com  os  famosos  Caboclos, gente  oriunda  da  presença  do  elemento  branco  colonizador   preando  e   prenhando  índias  em  tenra  idade, denominadas  de  cunhãs.

Surgem, com destaques, os  famosos  entrelaçamentos  familiares  endogâmicos,  espécie  de  instituição  social  normativa-intuitiva, objetivando  a  manutenção  da  posse  e  domínio  das  terras  sob  o  comando  de  uma  mesma  família, consolidando,  assim, costumes  e  tradições  ético-familiares.   Neste quadro, destacamos o  fechado  grupo  familiar  caraubense    denominado  de  “Caboclos  da  Cachoeira”,  referencial  toponímico  às  terras  da  antiga  Data  de  Sesmaria  “Cachoeira”,  que  media  três  léguas  de  comprimento  por  uma  de  largura.

Tem  origem  povoadora  no  Tenente-General  Francisco  de  Souza  Falcão.

Afirma  a  tradição  que  este  militar  seria  português, tese  esposada  pelo  celebrado  historiador  Raimundo  Soares  de  Brito (“Município  de  Caraúbas, Ano  1958, Coleção  Mossoroense Série  B número  914, 1991). Já  o  renomado   historiador   e  genealogista  Marcos  Antonio  Filgueira   lançou  nova  tese  de  que “considerando  o  nome  desse  povoador  e  dos  seus  filhos, deve  ser  descendente  de  Vasco  Marinho  Falcão, marido  de  Ignez  Lins, tronco  dos  Marinhos  e  Falcão  do  Nordeste,  e  que  tiveram  um  filho  Francisco  de  Souza  Falcão (Marcos  Antonio  Filgueira  in  “Velhos  Inventários  do  Oeste  potiguar” –  Série  C – Volume  740 –  Ano  1992).

Há  outro  famoso  grupo  familiar   oestano-potiguar  em  Portalegre-RN,  denominados  de  Pêgas  ou  Caboclos  do  Pêga, em  referência  à  fechada  comunidade  rural  de  nome  “Pêga”.

Existe  estudo   histórico,  antropológico  e  cultural  ainda  inédito, que  sintetiza  a  história  desta  comunidade   vinculando-a  ao  fato  da  comprovada  existência  do  cacique  indígena  Tapuia  Paiacu  batizado  com  o  nome  de  João  do  Pêga, mencionado  em  documento  oficial  sobre  a  chacina  de  70  índios  tapuias  paiacus  no  sopé  da  serra  de  Portalegre-RN, no  ano  de  1825, tendo  escapado  milagrosamente  o  dito  João  do  Pêga.

No “Pêga” assentava-se  a  aldeia  deste  resistente  indígena.  Escravos  fugitivos  de  distantes  plagas   procuravam  refúgio  e  abrigo  nesta  comunidade, surgindo  com  o  passar  do  tempo  os  inevitáveis  entrelaçamentos  familiares  negro  com  índio,  nascendo  daí  o  Cafuzo.

Os  notáveis  historiadores  Rocha Pombo, Tavares de Lyra e Câmara Cascudo foram unânimes  na  afirmativa  de  que  o  processo  de  ocupação  e  povoamento  do  interior  do  RN  fora  lento, penoso  e  gradual.  É  certo  afirmar-se  que  o  primeiro  passo  para  a  ocupação  destas  terras  teve  o  Entradista  paraibano  Manoel Nogueira  Ferreira e  Ferreira (05/05/1655/ Aldeia  do  Lago  Pody  17/01/1715).

Estes mesmos   historiadores  afirmam que  Apodi  foi  o  polo  irradiador  de  todo  o  processo  de  ocupação  do  solo  nesta   citada  região, espraiando sua  influência  até  os  contrafortes  da  região  lindeira, divisa  com  os  estados  da  Paraíba  e   Ceará.   É  indubitável  que  todo  o   processo  de  povoamento  teve  como  elemento  norteador   na  presença   dos  famosos  Terços  militares  acossando  a  indiada   hostil  em  seus  feudos  naturais  Assu, Apodi  e  região  Jaguaribana.

Inté, amigo webleitor.

Marcos Pinto é advogado, historiador e pesquisador

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. jb diz:

    Alvíssaras! Estava sentindo faltas dos artigos do colunista, faço votos que a colaboração de Marcos Pinto com o nosso blog seja mais frequente!

    • Carlos Santos diz:

      NOTA DO BLOG – A pressão tem sido grande para ele arranjar um tempinho à escrita. Mas soube que só quer saber de incursões à vida manauara.

  2. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Excelente Artigo, Dr.Marcos Pinto. Informações importantes sobre o povoamento de nosso oeste . Bom para ler, melhor, ainda, para saber.

  3. Marcos Pinto. diz:

    ObrigAdooo de coração. Bondade dos ínclitos amigos.

  4. Maria Mônica de Freitas diz:

    Ótimo artigo. Muito esclarecedor no que diz respeito aos entrelaçamentos familiares. Só acrescento que os estudos antropológicos mais atuais colocam na mesma caracterização étnica o caboclo e o índio. Enfim, o caboclo é o índio que se misturou com outras etnias, mas, não significa que tenha perdido a sua ascendência indígena, simplesmente porque a etnia indígena era dominante na época da colonização por serem nativos. Os outros eram “visitantes”.

  5. Marcos Pinto. diz:

    Muito enriquecedor e de intrínseca contextualidade o comentário da minha nobre amiga, Confreira e conterrânea Professora-Doutora Mônica Freitas. Aproveito o ensejo para, com o devido beneplácito do jornalista Carlos Santos, dono do Blog, convidá-la a participar do seleto grupo de colaboradores dominicais. Com certeza, tem sucesso antecipado. Estou postado na fila de ansiosa espera. Forte ABRAÇO.

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