Por Marcos Pinto
Dentre os diversos tipos de relações sociais existentes na história da humanidade, destaca-se com veemência um estatuto dominante denominado de tráfico de influência. Costumo dividi-lo em patrimonial e espiritual. Naturalmente, é encontrado em todos os segmentos sociais, do mais humilde às tradicionais famílias, espécies de castas com fito único de predominância sobre os menos favorecidos pelos detentores do poder. Nesse contexto, assume nuances estonteantes, quando se adentra em estudo minucioso sobre o desiderato histórico das primitivas famílias que povoaram a região Oeste potiguar.
Há notórios tipos de entrelaçamentos familiares seletivos, destacando-se aqueles entre famílias afrodescendentes com os famosos Caboclos, gente oriunda da presença do elemento branco colonizador preando e prenhando índias em tenra idade, denominadas de cunhãs.
Surgem, com destaques, os famosos entrelaçamentos familiares endogâmicos, espécie de instituição social normativa-intuitiva, objetivando a manutenção da posse e domínio das terras sob o comando de uma mesma família, consolidando, assim, costumes e tradições ético-familiares. Neste quadro, destacamos o fechado grupo familiar caraubense denominado de “Caboclos da Cachoeira”, referencial toponímico às terras da antiga Data de Sesmaria “Cachoeira”, que media três léguas de comprimento por uma de largura.
Tem origem povoadora no Tenente-General Francisco de Souza Falcão.
Afirma a tradição que este militar seria português, tese esposada pelo celebrado historiador Raimundo Soares de Brito (“Município de Caraúbas, Ano 1958, Coleção Mossoroense Série B número 914, 1991). Já o renomado historiador e genealogista Marcos Antonio Filgueira lançou nova tese de que “considerando o nome desse povoador e dos seus filhos, deve ser descendente de Vasco Marinho Falcão, marido de Ignez Lins, tronco dos Marinhos e Falcão do Nordeste, e que tiveram um filho Francisco de Souza Falcão (Marcos Antonio Filgueira in “Velhos Inventários do Oeste potiguar” – Série C – Volume 740 – Ano 1992).
Há outro famoso grupo familiar oestano-potiguar em Portalegre-RN, denominados de Pêgas ou Caboclos do Pêga, em referência à fechada comunidade rural de nome “Pêga”.
Existe estudo histórico, antropológico e cultural ainda inédito, que sintetiza a história desta comunidade vinculando-a ao fato da comprovada existência do cacique indígena Tapuia Paiacu batizado com o nome de João do Pêga, mencionado em documento oficial sobre a chacina de 70 índios tapuias paiacus no sopé da serra de Portalegre-RN, no ano de 1825, tendo escapado milagrosamente o dito João do Pêga.
No “Pêga” assentava-se a aldeia deste resistente indígena. Escravos fugitivos de distantes plagas procuravam refúgio e abrigo nesta comunidade, surgindo com o passar do tempo os inevitáveis entrelaçamentos familiares negro com índio, nascendo daí o Cafuzo.
Os notáveis historiadores Rocha Pombo, Tavares de Lyra e Câmara Cascudo foram unânimes na afirmativa de que o processo de ocupação e povoamento do interior do RN fora lento, penoso e gradual. É certo afirmar-se que o primeiro passo para a ocupação destas terras teve o Entradista paraibano Manoel Nogueira Ferreira e Ferreira (05/05/1655/ Aldeia do Lago Pody 17/01/1715).
Estes mesmos historiadores afirmam que Apodi foi o polo irradiador de todo o processo de ocupação do solo nesta citada região, espraiando sua influência até os contrafortes da região lindeira, divisa com os estados da Paraíba e Ceará. É indubitável que todo o processo de povoamento teve como elemento norteador na presença dos famosos Terços militares acossando a indiada hostil em seus feudos naturais Assu, Apodi e região Jaguaribana.
Inté, amigo webleitor.
Marcos Pinto é advogado, historiador e pesquisador
Alvíssaras! Estava sentindo faltas dos artigos do colunista, faço votos que a colaboração de Marcos Pinto com o nosso blog seja mais frequente!
NOTA DO BLOG – A pressão tem sido grande para ele arranjar um tempinho à escrita. Mas soube que só quer saber de incursões à vida manauara.
Excelente Artigo, Dr.Marcos Pinto. Informações importantes sobre o povoamento de nosso oeste . Bom para ler, melhor, ainda, para saber.
ObrigAdooo de coração. Bondade dos ínclitos amigos.
Ótimo artigo. Muito esclarecedor no que diz respeito aos entrelaçamentos familiares. Só acrescento que os estudos antropológicos mais atuais colocam na mesma caracterização étnica o caboclo e o índio. Enfim, o caboclo é o índio que se misturou com outras etnias, mas, não significa que tenha perdido a sua ascendência indígena, simplesmente porque a etnia indígena era dominante na época da colonização por serem nativos. Os outros eram “visitantes”.
Muito enriquecedor e de intrínseca contextualidade o comentário da minha nobre amiga, Confreira e conterrânea Professora-Doutora Mônica Freitas. Aproveito o ensejo para, com o devido beneplácito do jornalista Carlos Santos, dono do Blog, convidá-la a participar do seleto grupo de colaboradores dominicais. Com certeza, tem sucesso antecipado. Estou postado na fila de ansiosa espera. Forte ABRAÇO.