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domingo - 12/11/2017 - 07:24h

Ilusão emergente

Por François Silvestre

Não faz muito tempo corria mundo uma informação de que o Brasil estava incluído no rol dos emergentes, com amplas chances de virar potência econômica. Com a descoberta do pré-sal, substituiu-se a demagogia do biocombustível pela mentira da autossuficiência energética.

É bem verdade que não se chegou à ingenuidade de incluir o Brasil entre os países de níveis sociais aceitáveis. Seríamos uma potência econômica, com desigualdades sociais ao modelo quase haitiano. O emergente, hoje, é o Paraguai.

Dentre outros emergentes, caso da Rússia, África do Sul e Índia, o quadro não é tão diferente. Exclui-se a China pelos motivos especialíssimos que cercam aquele mundão de riqueza e miséria habitando o mesmo espaço.

A China fica fora dessa comparação exatamente por ser incomparável. Uma ditadura de casta estatal, indevidamente chamada de comunista, praticante do capitalismo de Estado. Usando mão de obra sub-humana, de baixo custo, enquanto empanturra o mundo com produtos baratos e de qualidade duvidosa.

A Rússia, que saltou do feudalismo para o bolchevismo de 1917, sem esgotar as fronteiras do próprio feudalismo nem iniciar as relações capitalistas, da previsão de Marx sobre o processo revolucionário de superação dos sistemas econômicos, vive a incerteza de uma economia frágil numa democracia de faz de conta. Saltou etapas, patina nas patas. Potência militar, ainda da herança soviética. Tão corrupta e corruptora quando o Pindorama de frei Coimbra.

O Brasil, semelhante na euforia emergente, difere bastante da China e da Rússia. Não tem um mercado internacional de trocas sequer próximo ao da China, nem a influência política da Rússia.

Levamos algumas vantagens internas. Somos uma democracia consolidada; ingênua e marota, esperta e bocó, mentirosa e corrupta, mas formalmente livre. Só formalmente. Materialmente, ainda estamos longe da liberdade. E a ética, por aqui, é o paraíso dos privilégios. Castas polpudas, à tripa forra, a escarnecerem da miséria reinante.

Não se pode chamar de liberdade material uma realidade onde o poder público não tem autoridade sequer para combater criminosos comuns. Um aparato caríssimo dos poderes constituídos e seus agregados, perdidos na escuridão, no meio de uma briga de foice e bala. Os órgãos de controle só controlam os próprios privilégios.

O poder público vai de foice e a bandidagem de metralhadora. Tráfico de drogas e armas às escâncaras, sem política de prevenção. E a repressão ineficiente.

Pois bem. De emergente para a emergência. O Produto Interno Bruto empacou, encruado na estagnação. Inflação diária. Liberdades públicas só na Lei, sem alcançarem as ruas e as casas.

Potência? Só se o resto do lado rico do mundo empobrecer, chegando a nós.

Demagogia e mentira armam a tenda e se aboletam no poder. Mentem governo e oposição.  A atividade política regrediu no caráter e prosperou no embuste.

Economia, sem rumo.

Segurança pública, um terror. Saúde pública, um tumor. Educação pública, uma lástima. Creio no futuro do Brasil, por ele mesmo, mas não confundo esperança com ingenuidade ou fanatismo.

Té mais.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Amorim diz:

    Momento Cultural!
    “”A frase do Stephen Zweig é somente “o Brasil é o país do futuro”. A frase “O Brasil é o país do futuro, e sempre será”, foi popularizada pelo arrogante de Gaulle quando Brasil se negou a formar com a França um terceiro bloco durante a guerra fria, mas tem origem bem anterior, na década de vinte.”
    Praedictóre!

  2. william diz:

    Na próxima faça uma avaliação dos EUA e países puramente capitalistas.

  3. François Silvestre diz:

    Dos países “puramente” capitalistas, meu caro Willian, eu aprendi, desde a juventude, que não posso esperar nada. A não ser exploração do homem e destruição da natureza. Portanto, tento entender os que não são capitalistas “puros”, mas apenas arremedo de alternativas. A pré-humanidade, que nós somos, é incompatível com o socialismo, pois a ganância e o egoísmo estão grudados em nós feito tatuagem. Os EEUU são um modelo de riqueza, estupidez e desumanidade. Nem pra eles servem. Taí Trump que não me deixa mentir.

  4. naide maria rosado de souza diz:

    Brasil, assim gigante…
    De proporção continental,
    ilude-nos a cada instante,
    não emerge, nem com pré-sal.
    Falam bons entendedores
    de investimento na eólica,
    só ficam os rumores…
    numa paisagem bucólica.
    Levanta país espoliado,
    pelos mares de corrupção,
    Mostra que não é fadado
    a receber extrema-unção…
    Desperta, Brasil amado,
    mas não desnude sua fortuna,
    aguarde nova regência
    após saída da corja gatuna.

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