• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 26/10/2014 - 06:43h

Involução

Por François Silvestre

Hoje termina a fúria do campeonato eleitoral. O Brasil é uma involução democrática. Do ponto de vista da grandeza de quadros, de métodos, de ação, o cenário que se montou desde as “diretas Já”, seguidas da eleição de Tancredo Neves, não produziu evolução.

Desde o lastimável governo Sarney, passando por Collor, com o intervalo razoável de Itamar Franco, o Brasil entrou num embate entre o neoliberalismo econômico e o neopopulismo social. É essa a disputa de hoje. Eterna e monótona, como a seca.

E ambos os lados, por mais que se digam antagônicos, são complementares. Ambos bebem na fonte mais atrasada do capitalismo. Entre a retórica do democratismo econômico e a demagogia do paternalismo caritativo. Duas faces cruéis do esperneio liberal. Não há socialismo nem evolução democrática nesse cenário.

Vinte anos do mesmo ramerrão. E até o entusiasmo parece a caricatura de uma festa repetitiva.

A única coisa que salva esse embate é a sua comparação com a Ditadura. Melhor do que os tempos de coturno e chumbo. Mas o Brasil não pode passar o resto dos tempos justificando retrocessos, por ganharem em comparação com uma ditadura morta e sepultada.

É bem verdade que a humanidade, nesses últimos vinte anos, evoluiu em tecnologia mais do que nos dois últimos séculos. Porém, involuiu em caráter humano a níveis inferiores ao tempo do iluminismo.

A continuar nessa marcha acabaremos quadrúpedes, dominando máquinas cada vez mais sofisticadas e nos tratando mutuamente como feras sedentas de sangue. Antropófagos da robótica.

FICO ME DELICIANDO com a estultice explícita de patrulheiros; ingênuos e agressivos, deselegantes e arrogantes, cada qual se achando portador de um facho libertário. Nos dois lados. Tochas a iluminar uma corte dividida entre a retórica e a demagogia.

Porém, sem eles e sem essa histeria, os protagonistas do embate não teriam sustentação nem justificativa. Há um complô entre enganadores e enganados.

O Brasil é uma republicona bananeira, com escassez de bananas. Os símbolos do embate são duas figuras carimbadas. Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva. Para dar nome aos carreteiros, vez que os bois somos nós.

São as duas margens do rio seco. O resto é figurante. Ou melhor, o resto é o leito do rio, imprensado numa dialética de faz de conta. Se um é o símbolo da retórica, do Estado capitalista do conicato; o outro é o arquétipo da demagogia, do Estado capitalista das prebendas.

Ambos tentam o riso sem graça, no picadeiro de um circo de lona encardida. Sociólogos da “bondade étnica”. Um país violentíssimo, com anemia cerebral, sob o mando de instituições corporativistas e sedentas de privilégios. Tudo num conluio midiático, onde a aparência esconde as intenções.

A bajulação cega mais do que o diabetes. E até a santidade, em excesso, faz mal.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no periódico natalense Novo Jornal.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Francisco Alves Filho diz:

    Os dois partidos em disputa não querem discutir o ponto chave da questão. O endividamento brasileiro. Sem modificar a conta de cerca de 1 trilhão de reais que país paga todo ano aos credores internos e externos(juros e capital da Dívida Brasileira), não há como deixar ser um país injusto.
    Sem este ponto, não haverá mudança possível no Brasil.
    Padrão de vida melhor só se consegue com divisas e distribuição honesta dos impostos arrecados.
    O resto é conversa fiada.
    Este é o objetivo maior.
    Como fazer tem várias formas. Para empreender é necessário agir sem desvios e aprimorar no que for necessãrio, sem benefícios de grupos de qualquer espécie.
    Assim, seremos um país verdadeiramente independente e mais humano.

  2. AVELINO diz:

    A comparação que o autor faz com os tempos da Ditadura, penso não diferencia-se muito dos tempos de hoje não, pois a nossa despreparada polícia sempre traz junto com seus coturnos muito chumbo e cassetetes roliços pra distribuir com o pessoal, mas só quando o protesto tem como protagonistas estudantes, professores ou médicos desarmados!!! Diferente se faz quando a coisa tem o MST e suas bandeiras bloqueando as ruas e rodovias, pois ela sempre vem recheada com foices, enxadecos, peixeiras e facões nas mãos dos democráticos participantes com o intuito de melhorar as negociações dos seus pleitos onde o comando da repressão policial nem aparece, pois o mesmo tem juízo mesmo que não o use na maioria das vezes…

    Aqui, os sobreviventes dos protestos das ruas ainda têm a sua inteira disposição para degustação indigesta essa sutil ditadura Chavista-Bolivariana que o criminoso PT está desesperadamente e sorrateiramente tentando implantar no país quando rejeita veementemente a democrática “alternância do poder” ao logo dos seus 3 mandatos (12 anos) e, agora, junto e misturado com o patrocínio da PTrobras em suas campanhas, requisita hoje mais um mandato para fechar igualdade com o falecido presidente da Venezuela, Hugo Chaves, em 16 anos de poder ininterruPTo e corruPTo!!!

  3. Edilson Pinto diz:

    Excelente e oportuno artigo!
    Parabéns!

    • Carlos Santos diz:

      NOTA DO BLOG – Deixe de moleza, homem. Cadê sua produção? Vou acabar cortando seu “soldo” e suspendendo aquelas férias solicitadas, haja vista sua folga por decisão unilateral.

  4. lampejao diz:

    Falou e disse Avelino, Parabéns!!!!!!!

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