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domingo - 21/03/2021 - 09:50h

No caminho da agricultura irrigada em nosso semiárido

Por Josivan Barbosa

Nas nossas visitas à diversas regiões do nosso Semiárido, é comum a pergunta: quais as razões do sucesso da agricultura irrigada nas microrregiões do Médio Jaguaribe (CE), Médio Oeste (RN), Vale do Assu e outras circunvizinhas? Embora não se desconheça, a história na íntegra, mas, no início dos anos 80, havia apenas uma agroindústria de sucesso na fruticultura, a Mossoró Agroindustrial S/A (MAISA) – veja AQUI, que cultivava caju gigante.

Desenvolvimento tecnológico ao longo das últimas décadas levou agricultura a avanços (Foto ilustrativa)

Desenvolvimento tecnológico ao longo das últimas décadas levou agricultura a avanços (Foto ilustrativa)

Na microrregião do Vale do Rio Açu (RN), as experiências com a fruticultura estavam apenas iniciando, pois a região apresentava sérias limitações com água, o que melhorou a partir da inauguração da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves no ano de 1982.

Nas microrregiões do Médio Jaguaribe (CE) e Médio Oeste (RN), não havia experiências de êxito ligadas à atividade de produção de frutas irrigadas.

Sem querer atribuir o sucesso unicamente aos esforços da então Escola Superior de Agricultura de Mossoró, hoje, Universidade Federal Rural do Semiárido, é preciso reconhecer que, obrigatoriamente, esta instituição teve importância ímpar no processo.

Em 1979 a então direção da ESAM conseguiu aprovar, juntamente com mais cinco universidades do Nordeste que tinham competência instalada na área de Ciências Agrárias (UFC, UFPI, UFRPE e UFPB), um importante projeto de desenvolvimento tecnológico dentro do PDCT (Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Nordeste). A ESAM foi contemplada com recursos da ordem de 45 milhões de dólares por um período de cerca de seis anos.

Os recursos eram provenientes do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e do Governo Brasileiro, através do CNPq na proporção de contrapartida de 1:1. Foi o maior projeto da história dessa instituição de ensino superior. Os principais benefícios do projeto para o desenvolvimento da nossa IFES foram:

  • Contratação de 110 profissionais de nível médio e superior (laboratoristas, engenheiros agrônomos, trabalhadores de campo, motoristas, técnicos de informática e técnicos agrícolas)
  • Construção dos Laboratórios de Água e Solos e Hidráulica
  • Construção da Biblioteca Central Orlando Teixeira
  • Aquisição de inúmeros equipamentos científicos de apoio à pesquisa
  • Ampliação do Laboratório de Sementes
  • Ampliação dos Laboratórios de Alimentos
  • Instalação de módulos demonstrativos de irrigação nos municípios de Touros, João Câmara, Mossoró, Baraúna, Gov. Dix-Sept Rosado, Pau dos Ferros, São Miguel, Zé da Penha e Rafael Fernandes. Os módulos eram instalados em áreas particulares, após rígido trabalho de seleção dos beneficiados feito pelos pesquisadores.

Projetos de desenvolvimento tecnológico

A instituição instalou experimentos de pesquisa em várias microrregiões do Estado. Cada módulo demonstrativo era composto de uma área irrigada (2 a 4 hectares de fruteiras – banana, mamão, goiaba, graviola e maracujá), apicultura de sequeiro (capim buffel) e caprinos (10 matrizes e um reprodutor). Após três anos de instalação dos módulos, eram feitas avaliações. A área de sequeiro mostrou-se ineficiente. A única área de sequeiro que mostrou bom rendimento para o produtor foi o plantio de abacaxi no município de Touros (RN).

Abacaxi teve avanço (Foto: Portal do Agronegócio)

Abacaxi teve avanço (Foto: Portal do Agronegócio)

O abacaxi foi testado na área do Sr. José Joventino. Naquele município, já havia uma experiência de um produtor oriundo do município de Sapé (PB). Na época, a região plantava apenas 180 hectares de abacaxi. Após os trabalhos de pesquisa desenvolvidos pelos técnicos da antiga ESAM houve um considerável aumento da área cultivada com abacaxi, atingindo o pico de cerca de três mil hectares no início dos anos 90, incluindo os municípios de Ielmo Marinho, Pureza e Touros.

Nas áreas de sequeiro com capim buffel e algaroba não houve registro de nenhum caso de sucesso. A apicultura foi regular e o destaque ficou por conta das áreas irrigadas, nas quais o produtor conseguia excelentes rendimentos. Um bom exemplo de sucesso foi o plantio de bananeira em consórcio com tomate. Uma das culturas que, também, mostrou excelente rendimento foi o mamão formosa. A cultura que se mostrou mais rentável para o produtor foi a banana, seguida de goiaba, graviola, mamão e maracujá. O sistema de irrigação utilizado era o xique-xique (mangueira de polietileno com furos e vazão de 45 – 50 litros/hora).

O sucesso das pesquisas

O sucesso obtido nos experimentos da ESAM (hoje UFERSA) com a cultura do mamão, é, em parte, responsável pelo incremento no cultivo desta fruta nos últimos anos no Estado do RN e no Estado do Ceará. Antes de 2012, nas microrregiões de Mossoró (RN) e, mais especificamente, no município de Baraúna e Baixo Jaguaribe (CE), incluindo os municípios de Quixeré e Limoeiro do Norte, o cultivo do mamão formosa passou a ser a principal cultura complementar do binômio melão-melancia.

Hoje, a fruta é exportada e muito bem aceita nos  mercado local, regional, Sudeste e internacional (Europa). Um dos principais produtores dessa fruta em Baraúna (RN), era o engenheiro agrônomo Wilson Galdino de Andrade, formado pela antiga ESAM, e não por coincidência, foi o técnico executor das pesquisas nos módulos instalados no projeto piloto em 1979.

Na região Agreste (RN), no município de Ceará Mirim, no início dos anos 2000 se instalaram três conceituadas empresas produtoras de mamão papaia (Caliman, Gaia e Batia) cuja produção de mamão era predominantemente exportada pelo Porto de Natal para a Europa e Estados Unidos. A agroindústria Caliman chegou a se instalar, também, na região de Baraúna, com infraestrutura para exportar mamão formosa para a Europa. O mamão formosa produzido na região de Baraúna possui qualidade superior (formato do fruto, cor e teor de açúcar).

O sucesso da banana

No caso da banana, o Polo de Agricultura Irrigada RN – CE (principalmente, Quixeré, Russas, Jaguaruana, Tabuleiro do Norte, Limoeiro do Norte, Aracati e Icapuí e  Baraúna, Apodi, Felipe Guerra, Upanema, Assu, Ipanguaçu e Alto do Rodrigues ) possuía antes de 2012 uma área instalada acima de cinco mil hectares. Na microrregião do Vale do Açu (RN) predominava o cultivo de banana para o mercado externo (Mercosul e Europa).

Bananas no semiárido (Foto: Grupo Cultivar)

Bananas no semiárido (Foto: Grupo Cultivar)

Já no projeto de irrigação DIBA (Distrito Irrigado Baixo Açu)  e na microrregião do Médio Oeste (RN), na Chapada do Apodi, o cultivo da banana era direcionado ao  mercado interno. Antes de 2012, somente uma agroindústria instalada naquela microrregião, produzia individualmente, 1.200 hectares e mais 600 hectares, terceirizados, de pequenos produtores agregados.

Atualmente o cultivo de banana para exportação foi reduzido na microrregião do Vale do Açu (RN), embora tenha sido ampliado na microrregião do Baixo Jaguaribe (CE), mais especificamente em Limoeiro do Norte, onde há duas empresas instaladas com cerca de 800 hectares. Nessa região as empresas utilizam água do canal de irrigação do DIJA (Distrito Irrigado Jaguaribe-Apodi). Recentemente, não temos avançado com a cultura da banana em função da limitação de água na barragem do Castanhão nos últimos 10 anos.

Outras fruteiras

As outras fruteiras (goiaba e maracujá), como demonstrado nas pesquisas feitas pela antiga ESAM, começam a ganhar importância na região. A goiaba é uma fruteira muito cultivada em Petrolina (PE), mas os pomares instalados naquela região têm sido dizimados por nematóides.

O maracujazeiro amarelo foi plantado em grande escala, no final da década de 80 pela MAISA, mas devido à alta incidência de pragas, principalmente fusariose, a empresa foi obrigada a erradicar a cultura.

Atualmente, algumas empresas de agricultura irrigada situadas nas microrregiões Médio Jaguaribe (CE) e Médio Oeste (RN) estão iniciando projetos com o cultivo do maracujá.

A graviola ainda é pouco cultivada e há poucos plantios nessas microrregiões. O cultivo é direcionado para a produção de polpa para atender ao mercado regional.

Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA)

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Luis Rodovalho diz:

    Excelente artigo Dr. Josivan enaltecendo a grande importância da nossa EsAM no desenvolvimento da nossa fruticultura.
    Gostaria de outro artigo sobre o tamanho a abrangência do nosso aquífero.

  2. Evangelista diz:

    Excelente análise, parabéns ao pesquisador.

  3. Allisson Leitao diz:

    Maravilhosa retrospectiva redigida pelo professor Dr. Josivan Barbosa. Nossa região Ce/RN é realmente muito rica, com imenso potencial. Ficamos no aguardo da análise da história do melão também em nossa região, reconhecido em todo mundo pela sua qualidade.
    Parabéns professor, por nos transmitir um pouco de seu rico conhecimento.

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