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domingo - 23/08/2020 - 12:16h

Jandaíra, nossa abelha sertaneja, uma operária da caatinga

Por Paulo Menezes

O Brasil é rico em abelhas sociais nativas, da subfamília meliponínea de diversos gêneros com as mais variadas espécies. São as nossas conhecidas abelhas indígenas sem ferrão, muito vulneráveis à intervenção humana na destruição das nossas matas e por isso mesmo tem se tornado cada vez mais raras com risco de extinção.Na região de Mossoró, situada na zona oeste do Rio Grande do Norte, como em outras localidades deste bioma chamado caatinga, há uma abelha pertencente ao gênero Melipona, que produz um mel muito delicioso e que por ser nativa, é de vital importância para o nosso ecossistema. Ao coletar o néctar que o transformará em mel, ele efetua o milagre da polinização preservando por via de consequência a vegetação do semiárido nordestino.

Trata-se da Melipona subnitida, popularmente conhecida por abelha Jandaíra.

Assim, a criação racional da jandaíra surge como uma importante alternativa econômica e social para a meliponicultura no nordeste brasileiro, tendo em vista ser o mel um produto nobre, raro e de grande aceitação no mercado, inclusive sendo largamente usado na gastronomia mais sofisticada por renomados chefs de cozinha.

Os preços variam muito chegando a ser até dez vezes superior do que o mel da Apis melífera (abelha africanizada), dependendo da qualidade agregada ao produto. O resultado de sua comercialização dá dignidade ao homem do campo na medida em que gera emprego e agrega renda ao seu orçamento doméstico.

Por muito tempo se criou o mito que não se devia criar a Jandaíra por ser uma abelha de pouco rendimento, preguiçosa, por isso mesmo sem perspectivas econômicas.

Ocorre que comparando-se a produção do mel da Jandaíra com o da abelha africanizada, o que se deve levar em conta é o fator populacional da espécie, e não, simplesmente a safra analisada isoladamente. Enquanto uma colmeia da primeira chega a ter no máximo 1.000 operárias, a segunda possui 80.000 campeiras, residindo aí a diferença na produtividade.

No entanto, se for comparada a produção relacionada ao preço de comercialização do produto, enquanto o litro do mel da Jandaíra é vendido entre R$ 150,00 a R$ 180,00, a mesma quantidade de mel da abelha africanizada é negociada entre R$ 10,00 a R$ 15,00, havendo portanto uma valorização de até 10 vezes mais o valor do mel da Jandaíra.

ALÉM DA VENDA DO MEL, o criador tem ainda como alternativa para aumentar seu lucro com o manejo adequado da meliponicultura, venda ou aluguel de colônias para polinização de culturas agrícolas em estufas. Cito ainda a comercialização de enxames a governos estaduais e municipais para projetos de desenvolvimento sustentado.

Meliponário do autor do artigo em Mossoró (Foto: cedida)

Há vantagem na criação de abelhas sem ferrão, ser o manejo extremamente simples, sem necessidade de roupas especiais, máscaras, botas, luvas, pois a Jandaíra não possui ferrão e é muito mansa. As caixas racionais são mais baratas e a multiplicação de enxames bastante simples, fazendo com que o criador em pouco tempo tenha seu Meliponário ampliado com quantidade expressiva de colmeias e viabilizando economicamente a criação para dela tirar o seu sustento ou, em última análise, agregar ao seu orçamento familiar um complemento de renda em uma região tão carente.

Ressalte-se ainda que a criação racional dessa abelha é de grande importância para a preservação ambiental, pois por ser nativa, desenvolve um imprescindível papel na polinização de nossa caatinga, tão ameaçada no momento, já que algumas plantas só conseguem se reproduzir com a intervenção deste inseto, devido à sua adaptação durante milhões de anos.

Assim, continuaremos a ter no panorama do semiárido nordestino uma vegetação onde predominam árvores como angico, aroeira, catingueira, imburana, jurema, marmeleiro, sabiá, mofumbo, pereiro, juazeiro e tantas outras que fazem a riqueza da paisagem sertaneja.

Acrescente-se ainda que atividades dessa espécie, por serem consideradas ações para o desenvolvimento sustentado, já que incluem restauração ambiental através da preservação e plantio de árvores que servem de locais para nidificação das jandaíras, recebem financiamentos através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), com juros subsidiados e de instituições de crédito como Banco do Brasil e Banco do Nordeste que geralmente apoiam projetos visando contribuir para o desenvolvimento regional.

Paulo Menezes é meliponicultor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Erione Pinheiro diz:

    Uma atividade prazerosa, e com bom manejo, poderá ter um bom retorno financeiro!

  2. Erione Pinheiro diz:

    Mossoró está inserida numa política de incentivo financeiro do Ministério do desenvolvimento regional, chamada Rota do mel da jandaira! Necessitando de um olhar do poder público local para a atividade da meliponicultora!

  3. Erione Pinheiro diz:

    Já está provado que na zona urbana de Mossoró, consegue -se produzir mel de jandaira de excelente qualidade, conforme algumas análises de mel no laboratório da UFERSA. Mas a atividade na zona urbana é muito prejudicada com a ação do carro Fumacê. Fumacê é uma política equivocada de combate ao mosquito Aedes aegypti, que não tem resultado eficaz, que a vigilância em saúde de Mossoró adotou como prática a vários anos.

  4. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Salve a Jandaíra. Excelente Artigo, Paulo Menezes .

  5. Paulo menezes diz:

    Muito obrigado. Boa semana.

  6. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Bravo, mais um oportuno esclarecedor artigo do meliponicultor Paulo Menezes!

    Em resumo em tempos Burro Narianos em que a grande maioria dos seus eleitores querem por que querem transformar o Brasil num imenso deserto de arvores e inteligências, Paulo Menezes nos ensina e diz claramente…PRESERVAR AS ABELHAS É ,TAMBÉM PRESERVAR A ESPÉCIE HUMANA. ..!!!

    Um baraço
    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

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