• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 16/08/2020 - 09:46h

O Cigano Feiticeiro e o Homem do Carneiro Verde

Por Odemirton Filho

“Pau dos Ferros, o cigano chegou”. (Aluízio Alves, em discurso)

As campanhas eleitorais de Aluízio Alves, nos idos de 1960, são memoráveis, conforme aqueles que viram e ouviram o “cigano feiticeiro”. Por onde ele passava arregimentava multidões. Era a Cruzada da Esperança.

Mas por que o apelido de “cigano”? Porque, segundo o próprio Aluízio, o seu adversário afirmou que Aluízio passava o dia pelas estradas, não almoçava nem jantava na casa de líderes políticos que o apoiavam e, se dormia, era nas estradas. Aluízio, então, adotou a alcunha e, depois, acrescentou o “feiticeiro”, de acordo com uma música composta para ele.

Assim, em quase toda cidade, havia aqueles eleitores que acompanhava o “cigano feiticeiro”, como todo partidário apaixonado por política e pelo seu líder.Em Mossoró não poderia ser diferente. Seu Pedro, conhecido como “o homem do carneiro verde”, era um desses fiéis eleitores. Todos os dias o carneiro ficava amarrado ao tronco de um pé de castanhola que fazia sombra na frente da residência.

Ali o carneiro ficava à exposição das pessoas. O animal recebia um banho de verde da marca xadrez e ficava preso em um cabresto, quando acompanhava as caminhadas e as passeatas de Aluízio Alves.

Era comum, quando chegava a Mossoró, Aluízio Alves ir à casa do “homem do carneiro verde”, que ficava na rua Felipe Camarão, para tomar um café e prosear sobre política.

À noite havia o grande comício na praça do Codó, a qual ficava lotada até altas horas da madrugada. O povo ia aos comícios segurando nas mãos um lenço verde ou um galho de árvore. As músicas da campanha, “Marcha da esperança”, “Frevo da Gentinha”, entre outras, eram entoadas pelos adultos e crianças.

Em seu livro, O que eu não esqueci, Aluízio Alves nos conta que: “os comícios e passeatas atravessavam a noite e a madrugada. No começo, de 20 horas até 6 horas da manhã. (…) Dia e noites inteiras, o povo cantando e famílias esperando nas estradas, para receber um lenço que eu atirava de cima do caminhão da esperança”.

E acrescenta o cigano feiticeiro:

“Foi a primeira vez na história da República que a campanha política deixou de ser um encontro de chefes e os ajuntamentos da cidade, para invadir todos os bairros, os sítios, o povo nas estradas só para receber um cumprimento ou um lenço” (…)

Não era nascido à época. Aliás, lembro-me somente a partir da campanha eleitoral de 1982. Infelizmente não cheguei a conhecer Seu Pedro e o famoso “carneiro verde”. Assim, perdoe-me o leitor eventuais omissões e erros na narrativa.

Para escrever esta crônica me socorri da leitura das reminiscências de Aluízio Alves e do amigo Rocha Neto, do Restaurante Prato de Ouro, que me passou valorosas informações.

Me disse Rocha Neto que “nos comícios todos ficavam esperando pela grande preleção política do gênio chamado Aluízio Alves, que era tão amado e odiado pelos que habitavam a terra de Santa Luzia”.

Enfim, “o homem do carneiro verde”, sem dúvida, faz parte da história das campanhas eleitorais de Mossoró. E Aluízio Alves, “o cigano feiticeiro”? Foi um dos grandes líderes políticos do Estado, admire-se ou não a sua trajetória política e de homem público.

Ah, e “veio do sertão lá do Cabugi”. . .

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

* Fotos cedidas pela página Relembrando Mossoró (Lindomarcos Faustino)

Compartilhe:
Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. “NETINHO MAGNATA” diz:

    Sensacional!!!!

  2. Roncalli Guimarães diz:

    Perfeito , também não foi do meu tempo mas cresci ouvindo essas histórias de Aluísio e minha mãe ainda relembra sobre homem do carneiro verde . Parabéns professor , suas crônicas são um deleite para nossa memória.

    • Odemirton Filho diz:

      Meu caro, como já disse, esta crônica devo a sua
      mãe, que me lembrou o “Carneiro verde”.

      Obrigado pelas palavras. Forte abraço.

  3. Esdras Marchezan diz:

    Ótima crônica, amigo. Muito bom.

  4. Mércia Fernandes diz:

    Como é bom relembrar as coisas da nossa terra com uma narrativa tão leve e enriquecedora!Parabéns meu irmão,vc nos traz textos preciosos

  5. Ailson Fernandes Teodoro diz:

    Ótimo!

    Muito bom seu texto. Parabéns Professor, as histórias dessas campanhas são reminiscências que sempre estarão presentes no imaginário popular. O livro de memórias de Aluízio Alves, também deve ser lido pelos norte-rio-grandenses que gostam de política e mitologia popular.

  6. Alan Jones diz:

    E os jingles heim? Verdadeiros hinos cantados e entoados a todo pulmão pelos cidadãos apaixonados, época dos grandes comícios!

  7. Rocha Neto diz:

    Crônica irretocável, me arremeto ao passado e o coração sangra com saudade de tantas figuras e acontecimentos vividos no universo desta amada terra de Souza Machado, abençoada por Santa Luzia.
    Tá bom de vc caro amigo Odemirton, escrever sobre Aluízio, Monsenhor Walfredo Gurgel e Marlene Otto. Dois ex-governador e uma ex ‘vereadora, tem coisas pra rir e chorar. Pergunte a Célia e Luiz Fausto (seus sogros) se eles se recordam desta frase “É O PADRE MARLNE” , isso levou muita gente da delegacia e fez muitos familiares sem se cumprinentarem. O resto conto pessoalmente…kkkkkkkkk

    • Odemirton Filho diz:

      Meu dileto, sua ajuda foi fundamental, como assinalei.
      Vou procurar saber sobre o que disse como meu sogro e sogra.

      Obrigado e um grande abraço.

  8. João Claudio diz:

    Eu não perdia nenhum comicio de Lulu. Na Praça do Codó, eu assistia tomando umas Antacticas ‘casco verde’ na calçada do Bar Pinguim, do saudoso Manél Capé.

    Lembrando que os comicios do cordão encarnado, liderados pelos Rosados, acontecia simultâneamente na Praça da Redenção. A praça parecia um ‘Modess’ usado; bem vermelhim.

    O ponto alto das campanhas de Lulu, era a chegada do trem da esperança procedente de Caraúbas (participei de todas), a carreata dos galhos verdes (participei de todas) e as virgilas com duração de três dias e três noites sem tirar de dentro (participei de todas).

    Mas a cereja do bolo foi uma caminhada a pé de Mossoró a Natal (perticipei também).

    – Vô, o Sinhô num tinha o que fazer, não?????

    – Joãozinho Claudinho, eu era chefe da ala moça ‘As Abacateiras dos Paredões’, e ainda por cima eu era o motorista do caminhão Chevroket VERDE que transportava o mulheril. Tinha que estar em todas. Néra não.

    – Assim néra. Né? À época o Vô já comia muito?

    – Todas.

    – Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia! Perguntei de besta.

    – Ah, tá!

  9. João Paulo diz:

    Meu caro, como admirador da sua escrita e do seu blog lhe faço uma pergunta (ou sugestão) já escreveu algo sobre Bezerrinha?
    Já ouvi muitas histórias sobre ele, mas nunca ouvi nada de concreto sobre…

    O que acha de um texto sobre este tema?

    Abraço!

    • Odemirton Filho diz:

      João Paulo, lembro-me de Bezerrinha. Vou procurar conhecer
      algumas de suas histórias.

      Muito obrigado pela sugestão. Abraços!

  10. David Leite diz:

    Odemirton, Dona Hilda, minha mãe, é uma dessas remanescentes do aluizismo dos anos 60… E com fotos, flâmulas e outros objetos, constituiu (de forma amadora, mas que causou admiração na museóloga responsável pela instalação do Memorial Aluizio Alves, em Natal, que esteve lá em busca de alguma doação, no que foi atendida no que havia de repetido) em sua sala o que foi por ela denominado de “Acervo Bacurau”. Hoje, com quase noventa anos de idade, ela cantarola todas as músicas das campanhas de Aluizio Alves. Quando possível, faça uma visita e, detalhe, assine o livro de visitas com caneta verde…
    Abraços
    David

  11. rocha neto diz:

    É O PADRE MARLENE*

  12. Sidney diz:

    Não se faz mais política como antigamente,lembro que muitas vezes minha mãe me acordou cedinho para ir ali para a esquina onde era a Preolar ali na 12 nos para vê as carreatas passar indo deixar o candidato lá no aeroporto para pegar o avião,tempos bons onde víamos alegria no rosto das pessoas.Vi muito o Carneiro do Seu Pedro amarrado na nessa castanhola,isso acontecia quando as vezes meu pai me levava para cortar o cabelo na barbearia do seu Piroca,que ficava juntinho ali do sinal onde hoje é a drogaria Renato,sempre que passávamos na calçada do Seu Pedro ali estava o saudoso Carneiro verde.Que tempos bons que não voltam mais…

  13. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Valeu meu Caro Odemirton, narraste com leveza e maestria… reminicências, histórias e realidades de um passado político não muito distantes …!!

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DEA RAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  14. João Claudio diz:

    Li a postagem ouvindo a ‘Lambada do Tiburso’, by Os Populares de Igarapé-Mirim, e escrevi os dois comentários relembrando os integrantes da Cruzada da Esperança, ao som da ‘Marcha da Esperança’, by Claudionor Germano.

    Eiiiiiita tempo bom que não volta mais.

    – Traga oooooooutra, Capé.

  15. Odemirton Filho diz:

    Obrigado a todos pelas palavras. Me incentiva a continuar resgatando
    bons momentos.

    Abraços.

  16. Fernando diz:

    A campanha do
    Capim x Touro, foi a maior de todos os tempos da história política de Mossoró. É o capim
    Meu filho , é capim minha filha.

Faça um Comentário

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2024. Todos os Direitos Reservados.