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domingo - 28/06/2020 - 08:40h

O piano

Por Francisco Edilson Leite Pinto Júnior

A arte existe para que a verdade não nos destrua” (Nietzsche)

Em uma reunião de amigos resolvi contar a minha paixão pelo piano. A ponto de ter comprado um, sem Viviane saber, e com a cumplicidade de Lucas, montamos na sala da nossa casa… Mas até agora só sei arranhar alguns acordes da música “The Scientist” da banda Coldplay…

Pois bem, assim que contei essa história, soube pelo meu ex-aluno Francisco Irochima, que o Shopping Midway Mall teve sua inauguração postergada até que fosse colocado um grande piano no seu hall principal e que após tocada a primeira música, o seu fundador Nevaldo Rocha disse:

– “Pronto! Está inaugurado o Shopping, eu não disse que isso ia dar certo, ter um piano aqui?!”.

O piano do Midway Mall tem proporcionado a mim raros momentos de felicidade. Fico horas vendo o pianista tocando e viajo em meus devaneios da imaginação.

Outro dia, estávamos, eu e Viviane, e ao ouvirmos a música – “Por una cabeza” de Carlos Gardel -, corremos de mãos dadas para ver de perto o pianista e qual não foi a nossa surpresa: quem tocava era uma senhora muito simpática, com vários anéis nos seus dedos ágeis.

Fiquei mais uma vez emocionado.

E comentando esse momento com uma ex-aluna minha Sheila Henrique, ela me disse:

– “Professor, essa senhora é minha tia Nalva. Ela adora tocar piano”…

Pois bem, ontem à noite (veja AQUI), soube da morte do Sr. Nevaldo Rocha – idealizador da ideia do piano no Midway Mall e responsável por tantos momentos de felicidade em minha vida.

Fiquei triste.

Mas ao mesmo tempo lembrei-me da advertência de Cora Coralina:

– “Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos”…

Francisco Edilson Leite Pinto Júnior é professor, médico e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. David Leite diz:

    Edilson, apesar de você ter saído de Mossoró muito novo, e por isso nem lembre do detalhe, mas seu vizinho, Ari Duarte, foi o primeiro professor de piano clássico na terra de Santa Luzia.
    Abraços
    David

  2. João Claudio diz:

    As poucas vezez que vou à Natal e as poucas vezes que vou a esse Shopping, fico a admirar esse piano e quem o toca no momento. Chego a passar mais de uma hora curtindo o que há de melhor da música clássica.

    Observo que, enquanto alguém toca belíssimas músicas, ninguém ou quase ninguém é visto ao redor dos mesmos.

    Certo dia, entre a pausa de uma música e outra, eu perguntei ao pianista que tocava:

    – E se ao invés de você e esse piano, estivesse aqui o Safadão de posse de uma sanfona tocando as pérolas do forró cearense? Faltava chão. Nera não?

    O pianista afastou a banqueta para trás, botou as mãos sobre os joelhos , balançou a cabeça e esboçou a dar uma boa gargalhada. Não o fez. Por educação, claro. Mas que sentiu vontade, sentiu.

    Dias depois eu me esbarro com o pianista em uma farmácia no Tirol. Ele me reconheceu e respondeu em voz baixa:

    – Se o Safadão estivesse no meu lugar, até o trânsito de automóveis na Bernardo Vieira e na Salgado Filho ficariam congestionadas. Ah, não ia faltar chão, porque o admistrador do shopping seria forçado a baixar as portas.

    Em Mossoró, quem dava um show grátis de piano era o saudoso Ari Duarte. Morava em uma casa por trás dos Armazéns Narciso. Da Praça do Pax dava pra ouvir o som do piano. Sempre nos finais de tarde, início da noite, na década de 70.

    Piano bem tocado é show pra levantar defunto.

    Me perdoe todos aqueles que nasceram com pinicos no lugar das orelhas.

  3. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Bela Crônica! Boa a lembrança de Cora Coralina. Faz a partida de Nevaldo Rocha menos dolorida.

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