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domingo - 15/12/2013 - 09:30h

O problema é a infraestrutura

Por Tomislav R. Femenick

Lendo as notícias econômicas sobre o Rio Grande do Norte nos jornais das últimas semanas, lembrei-me do general Golbery do Couto e Silva. Ele é conhecido como o teórico do golpe militar de 1964, formulador da doutrina de segurança nacional, criador do famigerado SNI, chefe da Casa Civil no governo Geisel e, também, como o idealizador da abertura política que deu fim ao ciclo dos presidentes militares, posicionando-se contra a linha dura e conduzindo o processo da reforma de 1979.

Porém pouco se fala de sua passagem pela iniciativa privada, no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, quando foi presidente da subsidiada brasileira do grupo norte-americano The Dow Chemical que, entre outras atuações, era sócio do antigo Banco Cidade de São Paulo.

Em 1972, levado pelo meu amigo José Vasconcelos de Alencar que era diretor do banco, foi trabalhar como assistente de sua diretoria. Uma das minhas primeiras tarefas foi preparar um estudo de viabilidade econômica para um empreendimento industrial na Bahia, no qual a instituição financeira deveria participar como sócia e financiadora.

Os estudos mostraram que na concepção fabril o projeto baiano era bom. Havia matéria-prima, os custos de produção seriam compatíveis, os lucros seriam suficientes para pagar os encargos financeiros e remunerar os investidores em níveis satisfatórios. Só que as estradas que levariam as matérias-primas até a fábrica eram ruins e, embora existisse uma boa estrada ligando a fábrica ao porto, este não possuía condições de armazenamento e embarque com um suficiente grau de segurança nos períodos de chuva.

Opinei contra o projeto, caso as condições viárias não fossem alteradas. Alguns diretores aceitaram meus argumentos.

Outros acharam que a minha análise tinha “preciosismo de mais”. Valeu o despacho do general: “Não há como contornar problemas de infraestrutura”.

Voltando ao presente. O grande problema do nosso Estado é justamente este: a nossa infraestrutura é um grave entrave para o crescimento econômico. Vejamos alguns exemplos. Produzimos energia eólica e não a aproveitamos por falta de linhas de transmissão que liguem as fontes produtoras ao consumo, linhas essas de responsabilidade da estatal Chesf, que promete entregá-las desde 2011 e agora adiou para meados do próximo ano. Por causa disso o Rio Grande do Norte – que já foi líder no setor – não conseguiu negociar nenhum dos 71 projetos apresentados no último leilão promovido pelo governo federal.

Outro caso emblemático é porto de Natal. Pequeno, com pouca profundidade, sem câmaras frigoríficas, localizado perto de uma ponte sem as devidas defesas dos pilares de sustentação e, ainda, com acesso por ruas estritas. Resultado, grande parte de nossas exportações de minérios e frutas estão sendo realizadas pelos portos do Ceará, Paraíba e Pernambuco.

O aeroporto de São Gonçalo, cujo projeto inicial era mais ambicioso, vai apenas substituir o de Parnamirim, principalmente no atendimento a passageiros, quando poderia ser um complexo aeroportuário intermodal, com ramificações para transporte de cargas, que daqui partem ou que aqui chegam, inclusive por outras vias – rodoviária, ferroviária e mesmo marítima –, interligando-o a outros pontos do Nordeste. Por sua vez, os projetos das Zonas de Processamento de Exportações (ZPE’s) de Macaíba e Assu patinam e não saem do papel.

Tudo isso é um cesto de problemas de infraestrutura, cujo reflexo é menos emprego, renda e tributos. Resultado: o agravamento do empobrecimento do nosso Estado.

Tomislav R. Femenick é mestre em Economia e contador

 

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Categoria(s): Artigo / Fórum de Debates (Grandes Temas)

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