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domingo - 03/05/2015 - 07:08h

O processo civilizatório

Por Honório de Medeiros

Talvez seja falsa a noção de que é possível, coletivamente, e conscientemente, construirmos valores que norteiem um processo civilizatório semelhante àquele que sempre evocamos quando voltamos nossos olhos para a história em busca de entendimento e orientação, qual seja a civilização grega, o senso de “Arete” que perpassa a vida do cidadão ateniense, sua “Paideia”, como magnificamente nos mostra Péricles, em sua “Oração aos Mortos na Batalha de Maratona”, preservada por Tucídedes.

O olhar crítico acerca desse preâmbulo há de apontar, de início, duas falhas: a fragilidade da mundivisão ateniense que não resistiu aos próprios conflitos internos e a Alexandre, o Grande; e a impossibilidade daquela experiência sublime ter sido resultado de qualquer planejamento, mas, sim, de fatores tão circunstanciais quanto, por exemplo, para o surgimento da filosofia, a especial qualidade e característica da língua grega.

A tais críticas é possível responder dizendo que não se trata de repetir, por igual, tamanho feito. Isso seria impossível.

Trata-se, no entanto, de fazer sobressair o aparato tecnológico construído pelo homem ao longo dos séculos colocando-o à disposição de uma política da Sociedade – nunca de Governo – que deliberadamente, envolvendo todos, construa, firmemente, esses pilares onde se fulcra uma civilização pela qual tenhamos orgulho e respeito. Caso contrário, as piores previsões possíveis de serem construídas a partir das teorias que sobreviveram à passagem do século XX para o XXI irão se concretizar.

E, nós, ao contrário do que pensava Karl Popper ao combater tenazmente a ideia de determinismo histórico ao qual estaríamos subjugados mesmo que com certa liberdade limitada, estaríamos marchando a passo batido para o caos – esse limite último da entropia – ou para o resultado possível da seleção natural, que como sabemos não tem finalidade moral em seu percurso a ser encontrado em um planeta Terra esgotado pelo que dela se tirou sem qualquer cuidado: o fim da espécie humana.

Catastrófico? Talvez. Possível? Com certeza.

Coincidentemente o mundo volta seus olhos, apavorado, para a Terra e os transtornos climáticos e catástrofes naturais que estão acontecendo cada vez mais freqüentemente. Já há trabalhos científicos demonstrando ser insuportável continuar extraindo, do nosso planeta, e da forma como é feita, sua riqueza natural.

Desmatamentos, degelos, extinção de espécies, extração de riquezas do subsolo, dizimação de florestas, aquecimento global – parece não haver fim para tudo quanto o homem possa fazer nessa empreitada de autodestruição.

Se não abrirmos os olhos, não construirmos um novo pacto civilizatório que deixe para trás o modelo ao qual temos nos aferrado ao longo de nossa existência, não haverá por que não dar razão aos Cátaros, aqueles hereges dizimados pela Igreja Católica medieval, que diziam ser o mundo da matéria uma criação do mal.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Governo do RN

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. ROSANA diz:

    O ser humano está de fato regredindo , os valores morais se resumem em desejos egoístas , não existe mais o pensar no coletivo , o individualismo cada vez mais virando regra .A natureza castigada por nós , também nos castigam . O ser humano trocou a sobrevivência pela soberba , movido pela ganância que é um combustível da desigualdade , que devidamente abastecida gera violência , que não perdoa ninguém , é o nosso fim .

  2. françois silvestre diz:

    Honório, o seu texto é um discurso de Cícero. Pena que tenha sido aparteado pelo conselheiro Acácio!

  3. françois silvestre diz:

    “A natureza castigada por nós, também nos castigam”. Nem na sintaxe pré-camoniana ou na morfologia pré-gilvicentiana poder-se-ia encontrar tal pérola de concordância!

    • ROSANA diz:

      François , não vi nada tão grave nesta frase ,” A natureza castigada por nós , também nos castiga “, quanto as mentiras que você escreve , ” O primeiro é o jegue moralista,/ que rincha./ Do barulho, não deixa a vizinhança da liberdade dormir. ” por que um moralista se incomodaria com a vizinhança da liberdade ? Aqui você mentiu sobre o moralista , que precisa ser livre até para ser moralista .

  4. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Meu Caro François, como já muito provavelmente deveras deve ter notado.

    Comentário tão “brilhante”, mais ainda eivada de muitas e sui generis concordâncias, e, sendo de autoria de quem foi… HOSANA NAS ALTURAS… SALVEM-NOS!!!

    Pois, seja na sintaxe ou na morfologia, sejam elas pré ou pós camonianas e gilvencentinas, temos mais é que tacitamente concordar sob pena de sermos vitimados por outra, igual e contagiante pérola como resposta.

    Caro François, tenho plena convicção que não seio ler, falar e escrever corretamente, tento compensar o meu desconhecimento técnico através de constante leitura e da intuição – exatamente por isso exercito todos os dias – , porém, como oportunamente assinalastes, temos que minimamente atentar pelo menos quanto às regras de concordância, sob pena mínima , de não sermos compreendidos, e, sob pena máxima de sermos compreendidos na direção contrária a qual pretendíamos direcionar a nossa mensagem, terminado por assassinar o nosso interlocutor.

    É de conhecimento mediano que os falantes de uma língua adquirem natural e gradativamente o conhecimento necessário para usar a língua da comunidade a que pertencem, cuja estrutura já tem, predeterminados convencionalmente, os signos linguísticos e as possibilidades de combinação entre eles, o que permite a comunicação. À soma dos conhecimentos linguísticos de uma língua chamamos gramática.

    Por termos o conhecimento da gramática da língua, conseguimos associar uma sequência de sons a um conceito, formando palavras, ou construir frases, escolhendo as palavras e a ordem adequada dessas palavras no enunciado para nos comunicar. Trata-se, pois, de uma gramática natural da língua que permite entender enunciados e fazer-nos entender através deles.

    É daí que surge o conceito de gramaticalidade e agramaticalidade, conceitos que muito provavelmente passam ao largo do conhecimento e do interesse da Sra. ROSANA.:

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  5. ROSANA diz:

    Sr. Fransuêldo ,é uma pena que seu grande conhecimento gramatical ,só sirva para fazer bajulações desnecessárias , pois o François sabe se defender sozinho . Se afirmou que não sabe ler , falar e escrever corretamente , com que autoridade se mete na conversa ? A autoridade de um intelectualóide ? Me poupe .

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