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terça-feira - 19/02/2019 - 17:48h
Humanidade

Ode à impureza

Por François Silvestre

A impureza é tão necessária ao coletar o puro, quanto a limpeza se abastece do sujo. Sem uma a outra não teria dimensão. Porém, esse antagonismo não resolve a completude do mundo nem satisfaz sua existência pelo extremado do imundo.

Há contidas, no meio dos extremos, incontáveis configurações. Inumeráveis. Assim como nos matizes das cores, também incontáveis nas suas misturas.

O azul é mais distância do que cor. Quanto mais longe, mais azul. A limpeza, a beleza, a pureza são iguais ao azul. Quanto mais perto, mais turvo. Mais sujo.

O Brasil é pacífico, comparado ao Iraque. Por ser o Brasil pacífico? Não. Por ser o Iraque distante. Mas se a distância é azul, por que o Brasil, de tão perto de nós, parece mais azul do que o Iraque, que de longe, parece-nos mais cinzento?

É aí onde reside a falsidade da pureza. Das cores? Não. Da nossa visão conveniente sobre as cores. Nenhuma consideração dos filósofos, desde a antiguidade, consegue a pureza de aceitação.

Negar a verdade não é mentir, é reconstruir outra versão, sobre o túmulo do conceito morto.

A única verdade absoluta é que não há verdade absoluta. O único “inquérito veraz” é o que não aponta inocentes. Não há réu inocente, nem promotor inocente, nem advogado inocente, nem juiz inocente.

A Justiça inocente, felizmente, ainda não foi inventada. E a mídia, que faz a cobertura da impureza, agasalha-se com lençóis furados, no meio do charco.

Isso é ruim? Porra nenhuma. Assim não fosse, não haveria humanidade. Haveria répteis, pássaros, mamíferos, peixes, cetáceos. Haveria tudo, menos nós.
Nós somos criaturas da imundície do mundo. Bendita sujeira. Sem ela, não teríamos sobrevivido.

A angústia das perguntas não se acautela na ciência, que produz outras perguntas. Deságua nas seitas, que oferecem respostas fáceis.

O conforto aconchegante que inventa a imortalidade. Posto que a morte é a mais caudalosa nascente das angústias.

Fuja dos “puros”. São aprendizes de ditadores. Lambuze-se honestamente da impureza humana e faça-se humanidade.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Ode à impureza faz parte do seu precioso alfarrábio ou nasceu em Artigo Retrato de nosso momento?
    Suponho que é recente. Muito igual.

  2. François Silvestre diz:

    E um pedaço de um texto antigo, amiga Naide. Como vai o Rio? Ganhei mais um neto. Bom “falar” com você.

  3. Amorim diz:

    Texto límpido e flúido.
    Botou pra lascar.
    Cordiais saudações,
    Des. Ignorante.

  4. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Parabéns pelo novo neto! Que felicidade! Dê minhas boas-vindas ao pequeno!

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