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domingo - 02/06/2019 - 07:22h

Ontem com cara de hoje

Por François Silvestre

As eleições presidências de 1945, após a queda do Estado Novo, foram realizadas sob o comando constitucional da Carta de 1937. Essa constituição foi um diploma de inspiração fascista, elaborada por Francisco Campos, que “evoluíra” do positivismo de Comte para o fascismo ítalo-brasileiro.

Ela serviu ao projeto político de Vargas, com o fim da federação e implantação de um Estado unitário. Cuja consecução deu-se simbolicamente com a queima das Bandeiras dos Estados.

Hoje, a diferença é mais de forma e menos de conteúdo. Continuamos a ser uma Federação de mentira, sob o amparo de uma Direita obtusa, que promete ética e entrega hipocrisia; e uma Esquerda confusa, que promete progresso e entrega esmola.

As eleições foram disputadas pelos novos Partidos. O PSD, de inspiração getulista, com sustentação conservadora e base eleitoral no coronelismo e na vida rural. A UDN, de inspiração no liberalismo americano, com força nas camadas urbanas, também conservadora e refratária às transformações sociais.

O PTB, getulista puro, aliava-se ao PSD, assumindo o comando do trabalhismo urbano. Indo do sindicalismo ao peleguismo. Tudo brasileiramente macunaímico.

Pois bem. A Carta de 37 não previa a figura do Vice-presidente. A coligação PSD/PTB derrotou a UDN. O candidato do PSD, General Eurico Dutra, que fora o sustentáculo da Ditadura Vargas, derrotou o Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato dos udenistas.

Ocorre que a Constituinte de 46 restaurou a investidura da Vice-presidência. E à própria Assembleia foi delegada, por legitimidade natural, a prerrogativa de eleger o Vice-presidente.

Nem precisa dizer que a briga de foice, na penumbra das conspirações, típicas da nossa formação política, foi deflagrada nas mumunhas do poder. O PSD lançou o nome do Senador catarinense Nereu Ramos, que não gozava do afeto pessoal do presidente Dutra.

Os dissidentes do PSD, sabendo dessa desafeição, conspiraram com os udenistas para derrotar Nereu. Dissidência política, no Brasil, não se dá por amor à pátria. Mas por interesses pessoais. Era assim ontem, é assim hoje.

Esses insatisfeitos procuraram Dutra e informaram que se eles lançassem outro candidato, da ala dissidente do PSD, teriam os votos da UDN e derrotariam Nereu Ramos.

Eurico Dutra, que ouvia muito e falava pouco, ouviu de ficar rouco. Depois falou: “Os senhores não tem o meu aval. Minha orientação é que votem no Nereu”.

Ante a perplexidade dos “dissidentes”, Dutra lecionou:

– “É verdade que eu não gosto do Senador Nereu Ramos. Mas a UDN o detesta muito mais do que eu. Se o Vice-presidente for alguém suave à UDN, ela vai conspirar todos os dias para me derrubar. Se for Nereu Ramos, eu ficarei tranquilo, pois A UDN não vai querê-lo no meu lugar”.

Assim foi feito e Dutra governou sossegado.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Roberto Mitre diz:

    François, não precisa dizer mais nada. Parabéns, pelo artirgo. Você conhece a história. Só merece meus elogios. Né não?

  2. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Aula, François Silvestre…uma aula.

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