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domingo - 24/02/2019 - 09:20h

Os atropelos da família Buscapé

Por Paulo Linhares

O celibato é algo que está na contracorrente da natureza, qualquer que seja a sua motivação, vez que impede a reprodução da espécie. Ora, ao menos no âmbito da raça humana, a preservação da espécie se dá fundamentalmente a partir do encontro do material genético da mulher e do homem, fêmea e macho, numa linguagem mais simples. E que pode ser estendida para todas as espécies de mamíferos, répteis, aves e peixes. Mesmos no mundo vegetal, muitas espécies dependem, também, dessa  interação biológica de gêneros.

Enquanto manifestação cultural, o celibato visa impedir que homens e mulheres procriem e, sobretudo, formem famílias, pelas mais diversas razões. E pode ser objeto de convencimento racional a partir de normas de proibição ou, em casos mais graves, mediante sérias mutilações de homens ainda na fase infantil, transformados em eunucos, eis que eram castrados.Hoje, entende-se o  celibato, em seu sentido genérico, como  a condição de quem, por opção, não contrai matrimônio, sendo igualmente norma regulamentar em determinadas instituições, como é o caso da Igreja Católica cujos clérigos são obrigados a fazer voto de celibato.

Até o século 10, os padres católicos podiam casar. Além de São Pedro, outros seis papas viveram em matrimônio. Até o Concilio de Elvira, que o proibiu no ano 306, um sacerdote podia inclusive dormir com sua esposa na noite anterior a celebrar a missa. Isso começou a mudar dezenove anos mais tarde, quando o Concilio de Nicea estabeleceu que, uma vez ordenados, os sacerdotes não podiam mais casar-se.

O papa Gregorio VII impôs o celibato, em 1073, definindo  o matrimônio dos sacerdotes como heresia, por desviar os sacerdotes  do serviço religioso  e contrariar o exemplo de Cristo. A verdade é que  nessa decisão de impor o celibato havia a intenção de evitar que os bens dos bispos e sacerdotes casados fossem herdados por seus filhos e viúvas em vez de beneficiar à Igreja.

Aliás, nada indica que a Igreja Católica vá rever essa norma a curto prazo, mas o próprio papa Francisco já afirmou: o celibato clerical, ou seja, o voto que obriga os padres a permanecerem castos, não é um dogma de fé – e, sim, um regulamento da Igreja: “O celibato não é um dogma de fé; é uma regra de vida que eu aprecio muito e acredito que seja um dom para a Igreja. Não sendo um dogma de fé, sempre temos a porta aberta. Neste momento, contudo, não temos em programa falar disso”, afirmou recentemente o papa, em conversa com jornalistas.

Certo é que a existência dessa regra de celibato sacerdotal, nos últimos dez séculos, tem sido positiva para a Igreja Católica, embora apresente, também, alguns efeitos colaterais indesejáveis,  como o dos escândalos sexuais que envolvem religiosos católicos em vários países, inclusive, muitos casos de pedofilia e têm merecido veemente condenação e medidas enérgicas da parte do papa Francisco.

E não é apenas na Igreja Católica que esposa, filhos e outros parentes podem atrapalham. Na política os estragos são maiores. As ingerências de esposas, maridos, filhos, irmãos, pais e outros parentes nos negócios de governo e das atividades políticas têm sido fatores de muitas confusões, nas mais diversas latitudes e épocas históricas.

A discrição dos familiares de um governante ou de líder político evita muitas atribulações. Ademais, não é razoável alguém que não esteja investido legalmente no exercício de cargo público eletivo possa tomar decisões ou ter benefícios apenas em função de seu parentesco. Não sem propósito, na família real inglesa os seus membros são proibidos de opinar publicamente sobre temas políticos.

No Brasil, o país do nepotismo, a mistura de parentesco com política ainda é uma prática corrente e aceita. Não é de estranhar que com a eleição de tantos parentes, nas eleições de 2018,  as dinastias políticas se fortaleceram no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas e na ocupação dos governos estaduais. Só na família Bolsonaro foram eleitos, além do presidente da República, dois filhos, um para o Senado e outro para a Câmara dos Deputados. Além disso, lembre-se que Carlos (Pitbull) Bolsonaro é vereador pelo Rio de Janeiro.

Em menos de dois meses de governo, a prole do presidente Bolsonaro tem causado enormes contratempos, bem mais do que toda a oposição tem feito ao novo inquilino do Palácio da Alvorada.

O problema começa com o completo desconhecimento do clã Bolsonaro acerca da liturgia que cerca o exercício da presidência da República, a exemplo da atitude infantil do vereador Carlos Bolsonaro que, no desfile presidencial pela Esplanada dos Ministérios, quando da posse em 1º de janeiro de 2019, subiu na traseira do Rolls Royce que conduzia o pai e a atual esposa deste, Michelle, para uma ridícula e indevida ‘carona’.

Os Bolsonaro, pai e filhos, falam pelos cotovelos e o que lhes vem à cabeça, com intenso uso das redes sociais. E provocam crises diárias no governo. A última envolveu o presidente, seu filho Carlos, a quem ‘carinhosamente’  chama de “meu Pitbull” e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL e um dos principais articuladores  da candidatura de Bolsonaro à presidência. Ele foi gratuita e grosseiramente exposto – chamado de “mentiroso” – nas redes sociais, pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro, com publicações que acabaram sendo compartilhadas pelo presidente, que as corroborou, para jogar  o governo numa baita e desnecessária crise. Mesmo que Bebianno tenha unido em seu favor os segmentos político e militar do governo, não tem condições de permanecer no cargo. Claro, Jair prefere o seu pitbul.

Os meninos de Bolsonaro têm atacado em especial os membros do PSL, o partido ‘alugado’ por Jair para levá-lo ao Palácio do Planalto e fazer do filho Eduardo o deputado federal eleito com a maior votação  do país, em  2019, além da eleição de Flavio a senador pelo Rio de Janeiro. Inúmeras desavenças vêm ocorrendo, pelas redes sociais e fora delas. Parece claro que o clã Bolsonaro  está disposto a ter um partido “para chamar de seu”: vai exumar a velha União Democrática Nacional (UDN), a sigla fundadora em 1945  e  que se tornou o grande estuário da direita brasileira. A proposta atual segue no mesmo rumo, agora com os Bolsonaro. O pedido de registro da UDN já tramita no TSE.  Seguindo uma tradição tupiniquim – “se há governo, sou a favor” -, logo a UDN será um dos grandes partidos da cena política brasileira.

É a nova família Buscapé, em sua versão brasileira, que está em ação. E vai aprontar muitas nos próximos quatro anos. No mínimo, os humoristas terão um riquíssimo filão a explorar. No geral, os meninos de Bolsonaro tendem a comprovar o triste vaticínio do poeta latino Horácio, no verso das Odes (III, 6, 46-8) sobre pais e filhos:

“Nossos pais, piores do que os seus, geraram-nos / ainda mais celerados do que eles; nós, por nossa vez, geraremos  / filhos mais perversos do que nós” (Aetas parentum peior avis tulit / nos nequiores, mos daturos / progeniem vitiosiorem).

Paulo Linhares é professor e advogado

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. João Claudio diz:

    Já existe à venda no mercado a ‘Oração do Aceite’, o ‘Chá de Conformismo’ e o livro de cabeceira ‘Como Conviver com o Fim da Era da Canalhice’.

    Faça a sua escolha e BOA SORTE.

  2. Menezes diz:

    Lula da preso babaca!!

  3. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    UM POUCO DA EXTREMA DIREITA BRASILEIRA, ONTEM HOJE E SEMPRE GOLPISTA DE CARTEIRINHA.
    ATUALMENTE SOB AS COORDENADAS DA CAVALGADURA BURRO NARIANA….!!!

    Desde sempre existe à venda no mercado, psicotrópicos capazes de mitigar a insanidade de um bando de midiotas BURRO NARIANOS suposta chibata do moralismo de plantão…!!!

    No que tange a real percepção do que levou os BURRO NARIANOS optarem pela cavalgadura que passou 30 anos como DEPUTA, apenas e tão somente apostando e investindo na corrupção e no conhecido e manjado fisiologismo pra enriquecimento seu e da família laranjal e miliciana, razões não vão faltar para que os BURRO NARIANOS, cedo ou tarde, acordem.

    Já bem antes, muito antes , do que na prática, haveríamos de constatar, até por uma questão lógica derivada do processo histórico político e social brasileiro. Temos as indicações ministeriais, que agora, na prática, se ridicularizam e se processam ante a opinião pública como as mais esdrúxulas paranoicas e deploráveis que se possa imaginar. Sendo atualmente, até motivo de chacotas, face as mais simplórias e simplistas constatações que haveriam de eclodir e que agora se revestem ante uma realidade política nua e crua.

    No Ministério das Relações Exteriores, temos uma figuras absoluamEnTe alheia ao conjunto da realidade geo -política internacional escrevendo e pronunciando sincopes verborrágicas supostamente assentadas em lógica diplomática, lógica essa, que como vemos , que não cabe em nenhum dicionario nem do período da guerra, pois o Discurso e a prática do Sr. EMBAIXADOR ERNESTO ARAÚJO, beira à pretensão e a tentativa de voltarmos à idade média no conjunto das relações internacionais.

    Há também,, possibilidades de indicações de ALBERTO FRAGA milico reacionário , torturador, fisiologista e corrupto de carteirinha, bandido fardado como de praxe boa parte dos milicos nacionais. Fraga é coronel da reserva da Polícia Militar e lidera a Frente Parlamentar da Segurança Pública, a chamada “bancada da bala”, que pretende relaxar os critérios para posse de arma de fogo. Parte das postagens nas redes se refere a Fraga como novo ministro do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e aponta que ele é condenado na Justiça por corrupção.

    As postagens também falam da nomeação do deputado Onyx Lorenzoni (DEM) como ministro da Casa Civil, o que já era amplamente ventilado antes da eleição, mas antes da eleição o eleitorado Bolsonarista estava em transe, só pensava no ódio ao PT. Agora, surpreende-se com a indicação de acusados de corrupção como Fraga e Lorenzoni, acusado de corrupção

    Outra queixa dos eleitores de Bolsonaro que não enxergavam nada antes de votar nele é a fusão do ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente e as constantes falas do presidente eleito vertidas ANTES da eleição que avisavam que ele quer entregar a Amazônia aos norte-americanos.

    Àqueles que tergiversam de todas as formas e não querem tomar a laranjada contaminada com o germe do patrimonialismo, da corrupção e do moralismo de goela, não esqueçam, mais cedo ou mais tarde, queiram ou não, haverão de tomá-lo em doses cavalares e fatais…!!!.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  4. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    CLARO, ÓBVIO E ULULANTE, que, não existe jeito de Bolsonaro corresponder às expectativas de seu eleitorado. Como ele venceu a eleição simplesmente espalhando antipetismo para gente que não se lembrou de perguntar que mais ele faria além de xingar o PT, vai decepcionar todo mundo rapidamente.

    O eleitor de Bolsonaro achou que xingar o PT consertaria a economia e geraria empregos; achou que as promessas de matar qualquer suspeito de crimes iria reduzir a violência e a criminalidade, como se as polícias brasileiras não fossem as que mais matam no mundo.

    Nada disso vai acontecer. Além do que, a promessa de Bolsonaro aos empresários de retirar direitos dos trabalhadores – coisa que o eleitor médio dele não quis ouvir – irá empobrecer a população ainda mais rápido do que as políticas de Michel Temer. Assim, a popularidade do novo governo irá se tornar idêntica à do governo atual. E não vai demorar muito.

    Daqui a seis meses, achar um eleitor de Bolsonaro será tão difícil quanto foi encontrar um eleitor de Fernando Collor em 1990, poucos meses após ele tomar posse e confiscar a poupança – coisa, aliás, que muitos suspeitam que Bolsonaro pode fazer, já que ele é um craque em ter ideias idiotas.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  5. João Claudio diz:

    Menezes, eles são surdos. Por favor, aumente o volume, ok?

  6. João Claudio diz:

    Tónha diz:

    – Vai pra caaaaaaaaasa, Padilha.

  7. Menezes diz:

    O Fransueldo tem medo de não saberem que ele tem carteira da OAB Lula tá preso babaca

  8. João Claudio diz:

    ‘Adevogado’ eu se preza anda com os bolsos da calça, camisa e paletó abarrotados de cartões de visita onde se lê:

    O seu nome antecedido da palavra ‘dotô’, mesmo sem nunca ter feito o curso de doutorado; O NÚMERO DS OAB abaixo do nome; o número do telefone e o endereço. Ao andar nas ruas, praças, supermercado, shoppings, fila de bancos e loterias, ele retira um cartão do bolso e sem que ninguém o peça, ele entrega e diz:

    – ‘Amigo’, se precisar de alguma coisa…Tâmus aí. É só ligar.’

    E sai de fininho sem dar ouvidos a reação silenciosa do ‘amigo’:

    – (Ridículo, né não?)

    Os mais ‘afoito$’ dão plantão em portas de delegacias e nas juntas do trabalho. Fato, fato e fato.

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