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domingo - 28/06/2015 - 06:35h

Os Leite de Chaves e Mello na serra do Martins

Por Marcos Pinto

A paradisíaca serra, em sua exuberante beleza natural, contempla os viandantes que perlustram o venerando solo da antiga “Serra da Maioridade” com nostálgica e misteriosa transcendentalidade. Tais predicados tem como referencial a atual cidade denominada de Martins, no Rio Grande do Norte. É emblemática em exponenciais figuras da Magistratura potiguar, tendo sido berço de nascimento de seis Desembargadores.

O referencial toponímico pioneiro foi “Serra do Campo Grande”, denominação constante do requerimento do Capitão-Mór Aleixo Teixeira, e da concessão de Carta de Data de Sesmaria datada de 20.07.1736. Aleixo era Capitão-Mór da então Aldeia de São João Batista dos Tapuias Paiacus, do Lago Pody, atual Apodi, onde também foi concessionário, no lugar que ficou conhecido como “Data do Aleixo”.

Como o Capitão Aleixo caiu em comisso, ou seja, não efetivou posse na sesmaria que lhe foi concedida, seis anos após, precisamente a 1º de Março de 1742, foi concedida a mesma Data de Sesmaria ao Capitão Francisco Martins Roriz, que residia na Ribeira do Jaguaribe, Capitania do Ceará, que fundou no alto da serra ainda inabitada, uma fazenda e currais de gado, que passou a ser conhecida pelo nome de seu proprietário – “Serra do Martins”.

Emoldurando o perfil histórico desta tradicional família, detentora da nobreza de quatro costados, consigna-se que é oriunda da Ilha Terceira, do arquipélago dos Açores. A história dessa família no Brasil começa no início do século XIX, com a vinda de Portugal, do Ajudante de Cavalaria Alexandre José Leite de Chaves e Melo. Esse militar prestou importantes serviços à coroa portuguesa.

Em 1805 acompanhou o 2º Governador da Capitania do Ceará, João Carlos Augusto de Oeynhausen em expedição ao Ipú-CE, com o objetivo de prender o Coronel Manoel Martins Chaves e seus sobrinhos, o Capitão Francisco Xavier de Araújo Chaves e Bernardino Gomes de Franco, tendo o Ajudante José Leite, desempenhado importante papel nessa missão.

Em 1817 vamos encontrar Alexandre José Leite de Chaves e Mello no posto de Coronel, Comandante das Fronteiras e Inspetor das Milícias do Jaguaribe, onde impede que a “Revolução Pernambucana de 1817”, que subvertia a ordem nas Capitanias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, se alastrasse até o Ceará.

Quando o Crato aderiu à causa da Revolução, o Governador mandou o então Coronel Leite marchar sobre o Cariri, a fim de sufocar a revolta.

Nos preparativos para descer sobre o Cariri, eis que Alexandre recebe, oriundos do Crato, onde já havia sido deflagrada a contra-revolução, os presos: irmãos Alencar (Tristão e o padre Carlos), Francisco Pereira Maia, Pereira dos Santos e José Francisco de Gouveia Ferraz, remetendo-os para Fortaleza.

Recebidos os reforços normais constantes de tropas regulares, contingentes de índios e tropas de milícias, e como já não fosse mais preciso marchar sobre o Cariri, ordenou que se postassem piquetes nas estradas que davam acesso às Capitanias vizinhas, e marchou em fins de maio para o Rio Grande do Norte, onde pacificou o Apodi, Martins, Portalegre e Pau dos Ferros, fazendo numerosas prisões e obrigando o povo a acatar o governo português.

Consta que Alexandre José Leite de Chaves e Mello trouxe da terra natal dois irmãos: Leandro Leite Chaves e Melo e Francisco Álvares Afonso Leite de Chaves e Melo, que no Brasil viveram e deixaram frondosa descendência. O primeiro ter-se-ia localizado no Rio Grande do Norte, transferindo-se depois para o Rio de Janeiro, deixando prole numerosa e ilustre.

Francisco Álvares Afonso se radicara no Rio Grande do Norte, onde deixara muitos filhos, entre os quais: Manuel Álvares Afonso Leite, Maria Afonso de Chaves e Melo Pereira “Mariazinha”, Antonio Leite de Chaves e Melo e Alexandre Leite de Chaves e Melo.

Mariazinha casou-se com o português Francisco Emiliano Pereira, latinista e educador de grandes méritos, tendo sido professor de seu sobrinho o Senador Almino Álvares Afonso. Sua filha Maria Joaquina Chaves, “Maroca” casou-se com o primo Ildefonso Leite de Araújo Chaves e Melo.

Manuel Álvares Afonso Leite morava entre Patu e Martins, no Rio Grande do Norte, tendo deixado dois filhos: Francisco Manuel Álvares Afonso e Viriato Afonso. Viriato foi Coletor em Independência, Ceará e Advogado em Martins e Francisco Manuel era pai do Senador Almino Álvares Afonso.

Adentrando, ainda, na contextualidade do título que encima este despretensioso artigo, é possível afirmar que há possibilidades de a fixação inicial dos Leite de Chaves e Mello na “SERRA DO MARTINS” ter sido objeto de concessões de atenuantes feitas aos revoltosos ali residentes pelo Coronel Alexandre José Leite de Chaves e Mello, destacando-se entre estes a inolvidável figura do Capitão Antonio Alves Cavalcanti, que é o mesmo Antonio Alves Cavalcanti citado no livro “Documentos Históricos”, publicação da Fundação Biblioteca Nacional.

Encantado com as belezas naturais e do clima ameno daquela aprazível serra, teria o Alexandre, passada a turbulência do movimento revolucionário, instalado o seu irmão Capitão Francisco Afonso de Chaves e Mello, em terras que teriam sido confiscadas dos partícipes revolucionários.

Marcos Pinto é advogado e escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Marcos Pinto. diz:

    O renomado historiador e genealogista cearense Carlos Feitosa, autor de “A descendência de Antonio Leite de Chaves e Mello, Revista do Instituto do Ceará, 68: 155-177, 1954, diz que na sepultura de D. Luisa Candida Teles de Menezes, mãe de Almino Afonso, no Cemitério São João Batista, de Fortaleza, lê-se esta inscrição: “Natural da cidade de Aracati, Província do Ceará, casada no Rio Grande do Norte com Francisco Manoel Álvares Afonso, filho de Manoel Álvares Afonso e Francisca Moura, neto maaterno do Capitão-Mór Geraldo Bandeira de Moura, ficando viúva pobrezinha, educou heroicamente seis filhos”. (FONTE: “Velhos Inventários do Oeste Potiguar” – pág. 33 – Coleção Mossoroense Série C – Volume 740 – ano 1992.) Esse livro tem leitura facultada para leitura virtual em arquivo PDF].

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