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domingo - 28/05/2017 - 08:58h
Letra, Música e História

Para lembrar Caymmi nós vamos juntos à “Maracangalha”

Por Carlos Santos

Na série “Letra e Música” que pontualmente postamos aos domingos, já tínhamos veiculado “Maracangalha” de Dorival Caymmi (1914-2008), no dia 24 de junho de 2006.

Mas nesse final de semana, conversávamos numa confraria sobre assuntos variados, quando emerge essa canção linda na voz de Diogo Nogueira. Alguém pergunta então, como ela nasceu; outro indaga qual seu ano de criação etc. “Maracangalha é uma praia, existe mesmo?” – cobraram.

Daí veio a vontade de fazer uma pesquisa e republicar um vídeo histórico.

Este vídeo acima é uma benção. Presente para todos nós.

Em 1991, Tom Jobim e Dorival Caymmi (seu filho Danilo na flauta) juntam-se no Rio de Janeiro, num encontro familiar, sob a companhia de outros músicos, e fazem um show idílico com Maracangalha.

Aglomeram-se na casa de Jobim no Jardim Botânico e resolvem saudar a vida. A letra de Caymmi e o ‘tom’ descontraído da música, em novo arranjo improvisado, falam por si.

Maracangalha (1956)

(…) Eu vou pra Maracangalha
Eu vou!
Eu vou de liforme branco
Eu vou!
Eu vou de chapeu de palha
Eu vou!
Eu vou convidar Anália
Eu vou!
Se Anália não quiser ir
Eu vou só!
Eu vou só!
Eu vou só sem Anália!
Mas eu vou.

A letra tem uma origem inusitada. Maracangalha existe, é um distrito do município de São Sebastião do Passe na Bahia e ponto turístico onde há a Praça Dorival Caymmi (em forma de violão, 1972).

Dorival tinha um amigo de infância, Zezinho, que costumava dizer “Eu vou pra Maracangalha…”. O assunto todo surgiu, porque Zezinho contou a Dorival que tinha uma amante, “Áurea”, em Itapagipe, e com ela, quatro filhos. Só que Zezinho era casado com Damiana e ‘tinha’ que arrumar um jeito pra ver sua outra família.

Para isso, ele bolou todo um esquema para ter o motivo de saída de casa e a prova, na volta, de que havia sido ‘sincero’.

Zezinho se abriu com o amigo compositor, explicou que ele enviava um telegrama a si mesmo onde dizia que sua atenção era necessária em negócios no vilarejo.

A partir daí, avisava em casa que precisaria viajar, coberto pela própria lorota.

Na volta, Zezinho trazia um saco de açúcar, para comprovar que tinha ido a Maracangalha, pois a Usina Cinco Rios era uma das maiores fontes de movimentação econômica da região e ficava no lugarejo. Pronto, o ‘álibi perfeito’.

Maracangalha existe (Foto: reprodução)

O samba foi feito num fôlego só, assim, de uma vez, só porque, naquela tarde de julho de 1955, Dorival tinha transformado em palavras seu encanto pela sonoridade do nome do pequeno distrito, assim como a inusitada história que o levou a ficar com essa ‘fixação’ por Maracangalha.

A história é contada por Fernando Sagatiba, do Blog Raiz do Samba e o livro “Dorival Caymmi: o Mar e o Tempo”, escrito por Stella Caymmi (neta do compositor).

Outros detalhes interessantes permeiam a música. Dorival nunca conheceu o distrito de Maracangalha, mas em sua homenagem foi construída uma pracinha em forma de violão no lugar, em 1972.

Conta Stella, que Zezinho era constantemente convidado para conhecer o Rio de Janeiro, onde Caymmi passou a viver, mas nunca também apareceu por lá. Repetia: “Eu vou pra Maracangalha…”

A música foi lançada pela gravadora Odeon em 1956. De lá para cá, nós sempre vamos juntos para lá.

* No segundo boxe-vídeo desta postagem, o próprio Dorival Caymmi conta em áudio como fechou letra e melodia dessa canção atemporal.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Cordeiro diz:

    E Anália existiu sim. Certo dia vi na Cultura uma reportagem.

  2. João Claudio diz:

    Conheça a Praça do Pau Mole, localizada na Praia de Caixa Prego, Ilha de Itaparica-BA.

    Conheça também Cabaceiras, uma cidade paraibana, cujo acesso se dá a poucos quilômetros de Campina Grande, pela BR 104, sentido Caruaru.

    E, para quem acha que panela velha é que faz comida boa, visite ”Piranhas Velhas”, também na Paraíba.

  3. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Dori, Dori, Dori…Dorival Caymmi o talento em sua baianidade mais que talento em sua simplicidade de musicas que varam o tempo e o espaço daqueles que ainda possuem a capacidade de contemplar letras, músicas, melodias e composições que não só otimizam o dançante, o saracoteio, mais ainda o pensante…!!!

    Para quem não sabe, além de cantor e compositor…Dorival caminhou com talento as passarelas da pintura e das artes cênicas, se vivo fosse, Dorival Caymmi faria 103 anos. De voz inconfundível, o filho do descendente italiano Dorival Henrique Caymmi e da mestiça de africano com português Stella Maris foi (e ainda é) uma das vozes mais influentes no país.

    Inspirado na cultura baiana, mais precisamente no que diz respeito a afro-brasileiridade presença forte nos costumes baianos, Caymmi traz para o cenário da música popular brasileira a comida, a reza, a roupa, as divindades, o ritmo e o canto dos ilês e se destaca pela melodia cadenciada, comovente e emocionante de suas composições.

    Quem sabe num porvir não tão distaste, apareça mais um Caymmi no chão de estrelas da música brasileira, atualmente, infelizmente, deveras deserto de talentos, para não dizer …Não um BREU…!!!! Sobretudo a partir do que a indústria fonográfica e a oligopolizada e corrompida mídia dispõe ao chamado povão brasileiro.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DEA RAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

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