• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
sábado - 01/09/2018 - 23:58h

Pensando bem…

“O homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais que o necessário.”

Sêneca

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Categoria(s): Pensando bem...

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    P Ô Q U E R

    Quando Henrique terminou de dar as cartas, Fernando gelou. Tinha recebido um rei, uma dama, um valete e um dez, todos do mesmo naipe. A quinta carta não teve coragem de olhar. E preferiu não vê-la de imediato.
    Zé Leite foi o primeiro a apostar e disse apenas que jogava.
    Fernando continuava sem coragem de olhar a quinta carta. Queria prologar o prazer que a perspectiva de estar de posse de um Royal Street Flash de mão lhe dava.
    O Luís dobrou a parada colocando várias fichas na mesa.
    Fernando sentiu-se tentado a olhar a quinta carta. Era a sua vez de falar. Tinha cinco cartas na mão, fechadas. Mas só tinha visto quatro.
    – As suas duas fichas, Zé Leite, as quatro do Luís e mais oito minhas.
    O ar superior de falar procurava transmitir aos outros jogadores a certeza de que era senhor da situação.
    Henrique, emérito jogador de pôquer, não disse uma só palavra. Apenas colocou sobre a mesa mais vinte e oito fichas. E não olhou para ninguém.
    Zé Leite resolveu abandonar as cartas. Preferiu perdeu duas fichas a investir mais.
    Luís pensou, pensou, finalmente completou as fichas para continuar na disputa. Não mais dobraria, mas também não abandonaria.
    Fernando sentiu-se tentado a olhar a quinta carta. Chegou mesmo a abrir lentamente o baralho. Mas ao chegar na quarta carta, parou. Além do mais sabia que se ela não fosse o ás de ouros, o que completaria o Royal Street Flash, poderia ser um nove de ouros, o que formaria um Street. E mesmo que não fosse um ás ou um nove de ouros, poderia muito bem ser uma carta do naipe de ouros, o que lhe daria ainda um bom jogo. Havia ainda a chance de, mesmo sendo uma carta diferente, poder arriscar pedindo uma carta e eles iriam pensar que estava com um four.
    – Vai jogar senhor Fernando. Estamos esperando.
    – Suas vinte e oito fichas e mais cinquenta e seis.
    -Suas cinquenta e seis e mais cento e doze.
    Henrique falou calmamente. Fernando e Luís trocaram um rápido olhar.
    – Eu passo, disse Luís.
    Fernando acendeu um cigarro. Passou a mão no queixo. Começou a abrir as cartas. Mas, novamente, parou antes de ver a quinta.
    – Aí estão as cento e doze fichas.
    “Como eu não redobrei, ele jamais vai imaginar que eu tenho um Royal de ouros. “
    Se esta quinta carta for o ás de ouros, eu quebro o Henrique.
    -Vai querer cartas, senhor Fernando?
    Aquele senhor colocado antes do seu nome pelo Henrique deu a Fernando a certeza de que o jogo do Henrique era grande. No mínimo um flash. Tá mais para um Street.
    – Vai querer cartas, SEU Fernando?
    Lentamente começou a olhar a quinta carta. Aos pouco um ás negro foi surgindo. E aquele ás de espadas parecia rir dele. Agora a dúvida. Tinha em mão uma sequência máxima. Se não pedisse carta, poderia pagar para ver o jogo do Henrique. Ele poderia estar também com uma sequência ou até mesmo blefando.
    -Vai querer cartas, SEU FERNANDO?!
    – Uma carta, apenas uma.
    – É o senhor quem aposta, SEU FERNANDO!
    Veio o impulso de, sem olhar a carta, apostar duzentas fichas. Daria ao Henrique a impressão de que estava com um four.
    Lembrou-se que estava jogando com o melhor jogador de pôquer do Rio Grande do Norte.
    Lentamente começou a “chorar” a nova carta.
    O ás vermelho começou a surgir. Quando o A ficou totalmente visível, parou. Não sabia se era de ouros. Sabia que era um ás vermelho.
    – Duzentas e vinte e quatro fichas, SEU HENRIQUE!!!
    Aí estão suas duzentas e vinte e quatro fichas e mais quatrocentas e quarenta e oito, seu Fernando.
    Sentiu que o Henrique não tinha Royal. Disto agora tinha certeza. Voltara a aposta, mas já não pronunciava as palavras com tanta firmeza. Tinha certeza que o jogo do Henrique era um Street. Bastava o ás ser de ouros , redobrar a aposta e passar uns seis meses farreando por conta do Royal.
    Começou a puxar o ás vermelho. Era preciso saber o naipe. Ouros era tudo, copas era nada. E quando o coração vermelho começou a aparecer, teve a impressão de que o seu coração subia pela boca.
    – Vai pagar para ver, SEU FERNANDO?!!!
    Não, não podia pagar, muito menos tentar um blefe desesperado. O tom de voz do Henrique deixava claro que tinha percebido a sua frustração.
    – Não, Henrique, desta vez você ganhou. Pode levar as fichas. Mas, por gentileza, posso ver que jogo você tem?
    – Estamos jogando pôquer, Fernando.
    – Sei, sei, mas é que foi uma parada tão interessante…
    Juntando as fichas e rindo, Henrique completou:
    – Melhor não olhar, Fernando. Melhor não olhar. O pôquer, Fernando, é como a vida. Nunca queira saber como seria se não tivesse sido como foi.
    INÁCIO AUGUSTO DE ALMEIDA

  2. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Certa vez, ouvi de meu padrinho de casamento, Senador Dinarte Mariz, uma frase que jamais esqueci ou esquecerei.
    “Pior do que a guerra é o medo da guerra.”
    Ouvir isso me tornou uma pessoa mais corajosa, às vezes, perigosamente corajosa. Não diminuiu a minha sensibilidade. Essa, não controlo. Sou folha.
    Parabéns, Sr.Inácio. “Pôquer” levou- me à reflexão e às lembranças.

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