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domingo - 25/11/2018 - 08:40h

Populismo digital

Por Odemirton Filho

Os líderes são forjados a partir da retórica e das ações que fazem perante o meio no qual exercem influência, sobretudo, política.

Em tempos idos os líderes conseguiam cativar a massa-povo através de discursos inflamados que a inebriava e a conduzia.

Aquele que, no meio político, seduz a massa-povo através de sua retórica e assistencialismo consegue alçar o poder e, muitas vezes, manter-se por muito tempo.

A esse tipo de líder costuma-se nominar populista.

“Populismo é basicamente um “modo” de exercer o poder. Ou seja, dá-se uma importância ao povo, às classes menos favorecidas, cuida-se delas e, assim, conquista-se sua confiança o que permite que se exerça um autoritarismo consentido, uma dominação que não é percebida por quem é dominado”.

De se notar que o populismo pode ser de qualquer viés político-ideológico, seja de direita ou de esquerda. Não importa a tendência, o que vale é seduzir a massa, fazendo-a servil.

Lembremos do Papa Pio XII e a diferença entre povo e massa:

“O povo vive com vida própria, da plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais – em sua própria posição, segundo seu próprio modo – é uma pessoa cônscia de sua própria responsabilidade e de suas próprias convicções”.

“A massa por si mesma é inerte, e não pode ser movida senão por agente extrínseco. Ela espera um impulso que lhe venha de fora, fácil joguete nas mãos de quem quer que lhe explore os instintos e impressões, pronta a seguir, com inconstância, hoje essa, amanhã aquela bandeira”.

Entretanto, no mundo hodierno, uma nova modalidade de populismo tem ganhado força e veio para ficar. Trata-se do populismo digital, construído através das redes sociais.

Nunca se usou tanto as redes sociais para se construir a imagem de um líder. Agora, o populista tem em suas mãos o mundo e pode disseminar suas ideias, conquistando carisma.

Com a ajuda de séquitos que replicam as suas mensagens, incensando sua personalidade e ações, sedimenta-se o nome do populista.

As campanhas eleitorais, no Brasil e alhures, estão sendo marcadas pela guerra de informações, uma vez que todas as classes sociais têm acesso. Hoje, como sabido, a comunicação e as notícias são instantâneas, em tempo real.

Não importa a veracidade das informações que circulam nas redes sociais. O que vale é construir a imagem do populista.

Com efeito, as fake news são a “onda” do momento e os populistas “surfam” nessas “ondas”.

“Assim, o mundo virtual não seria o novo espaço de concentração de poder político, mas sim o mecanismo pelo qual as personalidades mais adaptadas a essa nova ferramenta de representação conseguem concentrar poder político”, diz o professor Emerson U. Cervi.

A construção de um populista se dá através de mecanismos que o credenciam perante à massa. Esta, por seu turno, absorve os ditames de seus líderes. Na realidade são mais que eleitores, são fidedignos seguidores.

Não se questionam as palavras ou ações que o populista espraia nas redes sociais. O que ele diz é lei. E ponto.

O populista valendo-se do alcance do mundo virtual lança as suas ideias e espera a receptividade da massa. Se essa repele a ideia, o líder recua em sua decisão, amoldando-se ao desejo dos seus seguidores.  Joga para a plateia e espera o resultado.

Se a construção de um populista hoje pode ser feita de forma rápida, através das redes sociais, a desconstrução de sua personalidade também é instantânea. Que o digam as notícias falsas.

Portanto, os populistas conseguiram se adaptar aos novos tempos, fazendo-se atual as palavras de Bertolt Brecht:  “infeliz a nação que precisa de heróis”.

Odemirton Filho é professor e oficial de Justiça

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Categoria(s): Artigo

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