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domingo - 13/05/2018 - 03:50h

Por que a economia não engrenou?

Por Josivan Barbosa

Responder a essa questão não é tarefa fácil e as explicações estão longe de serem definitivas e consensuais. Mas há um conjunto de fatores que são candidatos potenciais.

Em primeiro lugar os níveis de incerteza se encontram bem elevados na economia brasileira. O calendário eleitoral e o desfecho imprevisível da corrida presidencial estão na base desse processo. Períodos de incerteza aguda geram adiamento das decisões de consumo e de investimento, afetando, portanto, a recuperação da economia.

Em segundo lugar, mesmo com a forte queda da taxa básica de juros, que está em seus níveis mínimos históricos e assim deve permanecer por algum tempo, observa-se que as taxas de juros para prazos mais longos continuam elevadas.

Em terceiro lugar está o mercado de crédito, onde tem se verificado uma lenta redução das taxas de juros ao tomador final devido ao comportamento dos spreads bancários.

Em quarto lugar está o desempenho de um setor muito importante, mas que está bastante atrasado no processo de recuperação, o da Construção. Trata-se de um setor altamente intensivo em mão de obra e, portanto, com fortes efeitos multiplicadores da renda e do emprego.

Em quinto lugar está o processo de desalavancagem das empresas e por fim, ao longo das últimas semanas, a taxa de câmbio sofreu uma depreciação rápida, saindo do patamar de R$/US$ 3,20 para valores superiores a R$/US$ 3,50. O comportamento da taxa de câmbio joga, de forma quase definitiva, uma pá de cal na já incipiente recuperação da economia.

Estradas, que estradas?

Na última terça-feira viajamos para Campina Grande – PB para proferir uma palestra no III SIMPROVS – III Simpósio Nacional de Estudos para Produção Vegetal no Semiárido. Fizemos a viagem pelos trechos das BR 110, 226 (Estado do Rio Grande do Norte) e BR 230 (Estado da Paraíba).

As condições de tráfego da BR 110 já começam a preocupar. Há trechos entre Campo Grande e Upanema que estão completamente destruídos. A BR 226, no trecho entre Triunfo Potiguar e Campo Grande encontra-se também em péssimas condições.

Mas, o trecho que se encontra sem qualquer condição de uso é o que compreende a estrada estadual que liga o município de Jucurutu ao município de Caicó. O trecho (RN 118) representa o que existe de mais desorganizado na atual estrutura administrativa do nosso RN sem Sorte.

Uma viagem que poderia ser feita em apenas 30 minutos entre os dois municípios mais importantes do Seridó e que são importantes polos de produção de laticínios, demora-se mais de 120 minutos. Tivemos a infelicidade de transitar após 21h no retorno de Campina Grande.

Eram muitos os veículos quebrados e com pneus furados ao longo daquela rodovia estadual. Isto tudo, sem falar do perigo que cada ocupante de veículo é submetido pela facilidade de se expor aos assaltantes.

3Corações avança

O Grupo 3corações (conhecido por nós como Santa Clara), líder no mercado de café no Brasil, deu mais um passo em sua estratégia de apostar em marcas locais como uma das formas de alavancar o seu crescimento. A empresa, joint venture entre a São Miguel Holding e a israelense Strauss, acaba de fechar a aquisição das marcas e maquinários da Café Manaus, que tem sede na capital amazonense e pertencia à família Assayag.

Essa é a quarta aquisição feita pelo grupo desde 2016, um sinal de que no pulverizado segmento de café brasileiro, há bastante espaço para consolidação. No começo de 2016, a 3corações adquiriu as marcas de café e derivados da Cia Iguaçu de Café Solúvel e no primeiro semestre do ano passado, comprou em leilão a marca pernambucana Cirol.

No segundo semestre de 2017 também adquiriu a marca Toko, de Juiz de Fora (MG). De 2015, antes dessas aquisições, até o ano passado, a receita líquida da empresa subiu 46%, para R$ 3,7 bilhões. E assim, aquela pequena torrefação da Serra de São Miguel do RN vai ganhando o mundo.

Um governo que exclui

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 900 mil pessoas deixaram de integrar as classes A e B no ano passado. Somente na classe A – composta por famílias com renda mensal de R$ 11.001 ou mais – foram 500 mil a menos. Essa elite passou a ser formada por 10,3 milhões de indivíduos em 2017, o que representava 4,9% da população.

O retrocesso foi maior na classe B (renda familiar per capita superior a R$ 3.566). O contingente desse topo social recuou de 13,1 milhões para 12,8 milhões de pessoas, uma baixa de 2,3%.

De modo geral, o declínio dos brasileiros para camadas menos favorecidas refletiu a crise ainda presente no mercado de trabalho no ano passado. Apesar do início de recuperação do emprego, essa melhora se deu por postos de trabalho informais, geralmente de baixa qualidade e menores salários.

Ao mesmo tempo, o setor privado seguiu fechando vagas com carteira assinada.

Compreendendo a situação da Argentina

O efeito-dominó funciona assim: os Estados Unidos elevam os juros para combater a inflação; os capitais aplicados nos emergentes batem em revoada para buscar segurança em títulos do tesouro americano; o dólar se valoriza e torna-se escasso nas economias mais frágeis; as moedas locais, consequentemente, se desvalorizam; começa a faltar dólar para pagar a dívida externa.

Para atrair dólares, conter a fuga de capitais e interromper a depreciação da moeda, os bancos centrais jogam os juros na lua; os mercados se acalmam, enquanto o governo ganha um tempinho para dar um passo politicamente difícil – negociar um empréstimo com o FMI -, especialmente neste cantinho do planeta, onde as pessoas acham que os responsáveis por nossas mazelas estão localizados em dois números da avenida Pennsylvania, em Washington: no 1.600, onde fica a Casa Branca, e no 1.900, sede do Fundo.

A Argentina cumpriu exatamente esse roteiro e, agora, está na fase de pedir dinheiro ao FMI. O que este faz é conceder um financiamento para reforçar as reservas cambiais do país.

RN fora do Fundo Brasil-China

É muito rara a possibilidade do nosso RN sem sorte emplacar algum projeto que possa captar recursos do Fundo Brasil-China. Depois de uma peneira inicial, autoridades brasileiras e chinesas selecionaram cinco projetos – quatro de infraestrutura e um na área industrial – para receber aportes de US$ 2,4 bilhões do Fundo Brasil-China de Cooperação para Expansão da Capacidade Produtiva. O dinheiro poderá ser concedido como financiamento a taxas privilegiadas ou como “equity” com participação acionária de até 40% nos empreendimentos.

Anunciado em maio de 2015, durante encontro do primeiro-ministro Li Keqiang com a então presidente Dilma Rousseff em Brasília, o fundo demorou quase três anos para ser estruturado e chegar à lista final de candidatos para receber os primeiros desembolsos.

Os nomes dos escolhidos são guardados em sigilo por causa das cláusulas de confidencialidade. No mercado, especula-se que empreendimentos como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) – de Figueirópolis (TO) a Jequié (BA) e o terminal portuário multicargas de São Luís (MA) devem estar na lista.

Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA)

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Categoria(s): Artigo

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