• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 29/12/2019 - 10:10h

Por um financiamento público do jornalismo

Por Esdras Marchezan

Instrumento crucial à sobrevivência e fortalecimento da democracia em qualquer sociedade, o jornalismo é, acima de tudo, um serviço público compromissado com o bem informar à população, sobre fatos e acontecimentos que impactam no cotidiano, e sobre as consequências na vida de cada cidadão.

No modelo industrial adotado no Brasil, com o jornalismo vinculado e dependente de empresas interessadas na informação como mercadoria, este compromisso é, vez ou outra, atravessado por interesses e cenários econômicos e políticos, que vão definindo o tempo de vida deste perfil mercantilista do uso do jornalismo. Reféns de toda esta engrenagem: os jornalistas. Trabalhadores como qualquer um, que precisam de uma renda econômica para sobreviver.Chega de hipocrisia. Jornalismo sério se faz com amor. Mas custa caro, e alguém tem que pagar por isso.

As crises econômicas que sucederam-se nos últimos anos em diversos países, inclusive no Brasil, junto à quebra das estruturas econômicas promovida também pelo avanço da internet e de gigantes nascidas a partir dela, como Google e Facebook, jogaram os modelos tradicionais de negócio do jornalismo numa espécie de ostracismo.

Com isso, as pessoas passaram a contar com menos veículos estruturados de informação, e os jornalistas com menos oportunidades de emprego. Do outro lado, redes de notícias falsas se proliferam todos os dias nos grupos de Whatsapp. A epidemia cresce e falta investimento para fortalecer a vacina contra ela.

Enquanto as grandes corporações de mídia buscam uma reinvenção que caiba em suas receitas – muito reduzidas em comparação ao que faturavam há uma década – e demitem cada vez mais empregados, pequenos jornais, rádios e TVs fecham aos montes, principalmente no interior do país.

Numa trincheira de resistência, iniciativas independentes de jornalismo tentam se firmarem como novos modelos de negócio, mais próximos do jornalismo local, mas dependendo ainda de doações e assinaturas do público, de recursos de ONGs internacionais e também do tradicional modelo de verbas publicitárias.

Neste momento, cabe a pergunta: a quem interessa um jornalismo forte, justo e leal ao espírito público e democrático?
Eu responderia: ao povo. Povo, no sentido mais importante da palavra. Como representante e peça vital de uma nação democrática.

Neste aspecto, é chegada a hora de pensar num modelo de jornalismo público, financiado pelo Estado e pelas pessoas. Não apenas financiado, mas feito e fiscalizado também pela sociedade civil.

Aos que estranham a proposta, falamos aqui de um modelo já executado em algumas das principais democracias do mundo. Modelos como a BBC, mantida pelo estado e pelo povo britânico. Portugal, Alemanha e Suíça também têm suas experiências de êxito. No Brasil, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) é nosso exemplo mais importante.

O debate não é novo, inclusive já tendo resultado numa proposta de Fundo Nacional de Comunicação Pública, na Câmara dos Deputados. Mas, estagnado, necessita de retomada.

Um debate que deve ser tratado em todas as esferas. No país, nos estados, e nos municípios. Nada impede que cada estado e município coloque a comunicação pública como pauta, independente do ritmo que esta discussão seja tratada na esfera federal. Comunicação pública, não comunicação estatal.

Numa cidade como Mossoró, com sua história diretamente ligada ao surgimento de importantes jornais, e com um cenário recente marcado pelo fechamento de quase todos eles, faz-se necessária esta discussão.

Num estado como o Rio Grande do Norte, com três cursos superiores de jornalismo (UERN/UFRN/UnP) formando uma gama de profissionais todos os anos, e tendo um dos cursos (Jornalismo/UERN) como o de melhor desempenho entre todas as universidades públicas do país na avaliação INEP/MEC 2018, é urgente este debate como política de Estado.

Ao povo cabe o direito a um jornalismo público, sério e bem feito, e o dever de cobrar que instrumentos públicos tornem isso possível. É preciso saber que não adianta cobrar por um jornalismo de qualidade se você não está disposto a lutar pela sobrevivência dele.

Esdras Marchezan é jornalista, professor do curso de Jornalismo da Uern e subchefe de Gabinete da Reitoria dessa mesma instituição

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Oliveira diz:

    Professor, que história é essa de jornalista mantido com dinheiro público? Ainda mais essa? Homem, você só quer manter o seu emprego. Seu curso pode ser o melhor do mundo, mas o mercado local de trabalho não está nem aí pra isso. Tanto que seus afamados alunos estão desempregados. Dia desses eu vi um embalando compras. Nada contra. Mas jogou quatro anos de faculdade fora. Se mantenha ensinando utopia. Enquanto recebe seu salário do Estado. Jogue a real para eles que Mossoró já deu. Câmbio. Desligo.

  2. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Excelente Artigo, Esdras Marchezan! É interesse do povo veículos de notícias bem estruturados e devemos lutar por eles. Discussão necessária, não adianta só sentirmos saudades de nossos grandes jornais extintos.

    • Esdras Marchezan diz:

      Obrigado, Naide. Um debate importante e que precisa contar com a participação das pessoas. Informação correta e de qualidade é direito de todos. Abração.

  3. Esdras Marchezan diz:

    Olá, Oliveira. Procure se informar um pouco sobre o assunto que conversamos. Conheça os exemplos dos países desenvolvidos e saiba que em alguns deles o jornalismo é tratado como instrumento essencial à democracia, com o Estado mantendo serviços nacionais de comunicação pública. Exatamente para que os cidadãos possam comentar os assuntos da realidade com conhecimento de causa. Abraço. Boa leitura sobre o assunto.

  4. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Não estou me referindo especificamente ao Jornalista Esdras Marchesan, porém, é fato que grande parte da nossa imprensa e seus integrantes sejam funcionários de pequenos e grandes jornais, donos de Blogs e (ou) jornalistas patrões e patrões jornalistas, infelizmente, desde sempre, praticam jornalixo e não jornalismo como deveria ser praticado.

    O fato dessa realidade indubitável que historicamente nos legou uma prática jornalistica não só irresponsável do ponto de vista social como até venal e criminosa (O THE INTERCEPT aí está não deixar mentir, sobretudo com o desnudar e desmascaramento da Operação Vaza Jato , com a qual a imprensa em geral colaborou diuturnamente e foi deveras cúmplice de inúmeros crimes de lesa pátria) ) , não necessariamente está vinculado à existência e manutenção de serviços nacionais de comunicações pública e sim. no caso, entendo essa triste e nauseante realidade direta e intrinsecamente derivada da não regulamentação de dispositivos constitucionais, os quais, embora existentes na Constituição de 1988, portanto, há mais de 40 (Quarenta) anos, ainda não foram objeto de atualização que expressem medidas de contenção e disciplinamento dos verdadeiros e vergonhosos oligopólios de comunicação social de um país continental, que continuam na de 06 (Sies) famílias hereditárias.

    Esse contexto, derivado em grande parte da colossal e deliberada confusão entre o público e o privado, o qual desde sempre é objeto de incetivo, manipulação, omissão e mistificação através dessa mesma nefanda, obscurantista e deletéria prática jornalística.

    O danado é que num país historicamente construído sob o signo de um atávico escravismo e da exclusão social, infelizmente grande parte dos empresários e jornalistas, inclusive da dita comunicação de hoje de sempre aqui mais conhecida como imprensa, continuam a investir massivamente na desinformação como pauta e método do aprofundamento dessa mesma exclusão social.

    Entrementes, a eleição da Cavalgadura Mor: JAIR MESSIAS ASCO NARO, tendo à frente grupos de interesses econômico/patrimoniais transnacionais daqui e de alhures , bem nos da um norte elucidativo e analítico sobre a forma e o manjado modus operandi de como a questão do suposto combate à corrupção e seu tratamento, antes e após a eleição da Cavalgadura Mor, bem nos traz demonstrações inequívocas desses fatos e que nos fazem lembrar o jargão… DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS.
    Para o jornalsita Mino carta, de longe o brasil é onde se prtica o mais mediovre r, rnaços, reacionario e corrputo jornlaismo do chamdao mundo ociedntalNão esqueçamos , o governo do presidente LULA tentou de alguma forma mitigar essa dantesca e cruel realidade informacional com a criação da TV BRASIL, tendo à e´poca, sido massivamente atacado, xingado e achincalhado, inclusive por grande parte dos jornalistas tupiniquins, os quais, salvo raras exceções, na verdade fazem questão de praticar jornalixo e são sabidamente afeitos à um suborno…!!

    Para o jornalista Mino Carta (CARTA CAPITAL), de longe o Brasil é país onde se pratica o mais medíocre, rançoso, reacionário e corrupto jornalismo do chamado mundo ocidental. No mundo todo, de alguma forma você irá encontrar alguma diferença nos editorias e na forma como as noticias são veiculadas, trazendo importantes e distintos pontos de vistas sobre o mesmo tema focado, porém, no Brasil, não, haja vista todos os jornais e revistas se juntam contra um inimigo comum. No caso o PT, eles, manifestamente não querem incentivar o debate. Em resumo, a nossa imprensa é de uma safadeza e de uma hipocrisia imbatível. Nâo existe igual no mundo, a imprensa brasileira sempre está a favor do que e´pior, do que há mais rançoso e reacionário. Eles adoram ser súditos, súditos do Estados Unidos.

    O mais interessante de tudo, é que a classe jornalística, a mesma que historicamente demonizou e demoniza o Estado, igualmente tal e qual os Banqueiros daqui e de alhures , agora veja nesse demoníaco Estado, única e possível solução para não desaparecer como massa de informação crítica, social e de credibilidade….!!!

    Um baraço
    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  5. João Claudio - 'Happy New Year' diz:

    Para a PTralhada, imprensa boa e passiva e elogios mil, é a imprensa que defende bandidos – Leia-se Lula, o poderoso chefão da quadrilha. Fato, fato e fato.

    Exemplo? O jornalista Reinaldo Azevedo, ex Veja. O carequinha era O-DI-A-DO por TODOS os PTralhas. Fato, fato e fato.

    A partir do momento em que o Reinaldo foi pego pela Lava Jato em uma conversa telefônica com a irmã do Aécio Neves (o alvo da escuta), o ‘carequinha’ também passou a odiar a Operação e os ‘meninos da república de Curitiba.’ Fato, fato e fato.

    Parou por aí?

    Não! Reinaldo passou a defender Lula e a atacar diariamente a Operação Lava Jato. Fato, fato e fato.

    Hoje, 10 entre 10 PTralhas lêem TODOS OS DIAS a coluna de Reinaldo Azevedo, ‘O Vira Casaca’. Fato, fato e fato.

    P.S – Quer ser um amigão de um PTralha? Simples! ‘Rasgue’ elogios ao Lula e ‘meta o cacete’ em Moro.

    P.S (2) – Os PTralhas ODEIAM ‘apenas’ 63% da população brasileira.

    Entendeu ou quer que eu desenhe?

  6. A. G de Andrade diz:

    O jornalismo impresso em papel agoniza. E não é por falta de recursos, mas por falta de leitores. Sem leitor não há anunciante e sem anunciante jornal morre. Alguns ainda esperneiam, mas viverão pouco. Tá todo mundo alucinado com os equipamentos digitais. Todo mundo é jornalista e escritor. Quase ninguém ler mais. Ninguém quer aprender, todo mundo vive a ensinar sem ter aprendido. Um mundo vasto de ignorantes dando lição de sabedoria…

  7. Pedro Rodrigues diz:

    Alguyavise aí ao passa-pano de miliciano que Bolsonaro ganhou com aproximadamente 1/3 dos votos do Brasil. Não com os 68% que ele tirou de algum lugar escuro e fedido. E aliás, a aprovação do desgoverno está em 30% segundo o último IBOPE.

    Aumenta gás, gasolina, dólar, carne, salários de senadores, dedeputados, de gastos com cartão corporarativo presidencial… Só não cai a falta de vervonha de alguns puxa-sacos.

  8. João Claudio - 'Happy New Year' diz:

    Em apoio ao Oliveira.

    1) Só um louco pode comparar o brasil falido com países desenvolvidos.

    2) O que é bom para um país desenvolvido, pode ser uma catástrofe para países pobres como o brasil.

    3) Se a ideia do professor vingar (tenha certeza de que no outro dia a Terra nasce quadrada), os pacientes vão chegar a um hospital público, pedir ajuda médica e, como resposta, a atendente vai dizer:

    – Senhor, aqui tá faltando remédio, seringa, álcool, algodão, e os médicos estão em greve. Faz três meses que eles não recebem salário.

    – E AGORA???

    – Pegue esse jornal e vá ler em casa. Aqui tá um calor destraçado. Por falta de pagamento, o homi da Cosern subiu no poste e danou a tesoura.

    – Cortou?

    – A Caern fez o mesmo. Danou a serra no cano.

    – E o jornal? É de hoje??

    – Ainda tá bem quentinho. Homi, aqui falta tudo, menos jornal, notícia no rádio e na TV dos celulares dos servidores. É que os profissionais da imprensa estão com os seus salários rigorosamente em dia. Quem paga é o governo.

    – Pois diiiiiga…! Posso usar o telefone fixo pra fazer uma ligação?

    – Nem chama e nem recebe. Só serve pra enfeitar a mesa. Pense numa coisa linda, né não?

    – Né! Quer dizer que ao invés pagar aos médicos e comprar medicamentos…

    – …o governo tá enchendo a pança do pessoal da imprensa. Era isso que você queria ouvir?

    – Num era não, mas era. Eu vou embora pior do que quando entrei: Palpitação no peito, tontura, pés suados e, depois dessa, muita dor de cabeça.

    – Leia o jornal que passa (ki ki ki li ki ki) PRÓXIMO….!

    • João Claudio - 'Happy New Year' diz:

      – Mô, a Terra não nasce. Quem nasce é o Sol.

      – Desculpe, Tónha. É que tava ‘intirtido’ com a ‘Bol$a Jornalismo’ do professor, e nem dei fé do erro.
      Pra não perder a viagem, eu digo que, o dia em que o governo brasileiro financiar o jornalismo, o Sol vai nascer azul e o Céu vai ficar amarelo. Haverá uma ‘troca de bolas’. Entendeu?

      – Sim, e todos os jornalistas, também.

      – Apois então vamos chamar os comerciais. Voltamos já. Não saiam daí.

      – Oxente! Se o governo vai financiar o jornalismo, pra quê os comerciais? Precisa???

      – É o ‘jornalismo super gilete’. Vai comer pelos dois lados, e até por três, se ‘ne$$e$$ário’ for.

      – Ah, tá! Posso mandar um beijo para o Oliveira?

      – De longe, pode.

      – Um ‘kiss’, Oliveira. Adorei o seu comentário. Acertou a nuca.

    • Q1naide maria rosado de souza diz:

      Entendimento completamente distorcido do Artigo.

  9. Oliveira diz:

    João Cláudio, esse foi o melhor comentário. O professor, que sabe de tudo um pouco, afinal, ele é especialista em generalidades – é assim que eles se definem – também deve ter gostado. Com uma mente tão aberta e um contra-cheque da universidade, ele deve agora estar refletindo para escrever o próximo conto neste blog. O professor deveria lançar um livro de ficção, estilo 1984. Kkkkkkkkk

  10. Carlos diz:

    Claro, claro… financiamento público para o jornalismo. Quem sabe, também uma pontinha para: a) reforçar o elenco dos times de futebol, que é um esporte paixão nacional; b) para rodas públicas de samba/pagode; c) Para melhorar o elenco das novelas; d) Para os 04 dias de carnaval… Certamente, não falta prioridades para gastar o suado tributo surrupiado do bolso do idiota contribuinte. E, se faltar, logo os gênios portadores de portentosos diplomas acadêmicos e dotados de intelecto superior haverão de listar mais alguma. Brasilsilsilsilsilsisil!!!!!!!!

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