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domingo - 08/11/2020 - 05:40h

Rosalbismo faz a campanha mais delicada de sua trajetória

Por João Paulo Jales dos Santos

Rosalba Ciarlini (PP) construiu, inegavelmente, uma carreira política exitosa. Com a exceção de sua derrota na condição de vice na disputa para o governo do estado em 1994, todas as outras disputas em que participou, disputando sempre como cabeça de chapa, saiu-se vitoriosa.

De derrotas que se possa falar, há aquelas de candidaturas que ela apoiou, mas não conseguiram triunfo eleitoral, como a derrota de Luiz Pinto, em 1992, a não reeleição de sua irmã Ruth Ciarlini, em 2006, e a recente derrota de Carlos Eduardo Alves ao Governo do RN.

Das quatro vezes que disputou a prefeitura, com a exceção do pleito de 1996, enfrentou oponentes que tiveram relativo grau de competitividade. Coincidentemente, tanto Laíre Rosado (em 1988), como Fafá Rosado (em 2000) e Tião Couto (em 2016) ficaram na casa, ou próximo, dos 40% dos votos.

Contraste bastante diferente das eleições de 2006 e 2010 (Senado e Governo do RN), em que chegou a tirar mais de 80% dos sufrágios nas urnas.

Rosalba chega à campanha com imagem desgastada e um culpado de plantão: Francisco José Júnior (Foto: assessoria)

Tendo edificado uma carreira política bem-sucedida, baseada no populismo carismático, com cooptação agressiva de aliados, tendo habilidade em movimentar o tabuleiro político, com a máquina pública como ampliadora de sua base político-eleitoral e um portfólio de obras que lhe serviram de vitrine administrativa, o Rosalbismo fez de Rosalba uma das maiores lideranças da história moderna mossoroense.

Com um histórico desses, é de se estranhar que a prefeita esteja numa delicada situação de reeleição. O que mudou, então?

A fórmula populista do projeto já não atende às expectativas da Mossoró da segunda década do século XXI. O projeto que outrora conseguiu soar como moderna, agora escancara o atraso em suas raízes mais profundas. E o humor social nutrido em admiração a figura da líder carismática se transformou em cizânia popular.

Não é de se estranhar que uma líder que até pouco tempo praticamente não era contestada em seu território de mando, apresente um comportamento desestabilizado, quando em seu 4º mandato, enxerga que não mais é a política onipotente que sempre se acostumou a ser. A forte contestação social que encara nesse momento mostra que os limites do Rosalbismo chegaram a seu ponto de entrave. E os germes da provável derrota daquela que imaginou ser a líder suprema de sua urbe, remonta há bem pouco tempo.

A imagem de Rosalba em sua desastrosa passagem pelo governo do estado teve reflexos em Mossoró. Na eleição de 2012, com fartas provam que evidenciam o abuso do poder econômico e político daquele pleito, a candidata amparada pelo grupo venceu com a menor margem das candidaturas já pertences as hostes do Rosalbismo. Após a prematura saída de Cláudia Regina da prefeitura, o Rosalbismo não conseguiu delinear os passos que viriam a seguir.

Um alerta para a oligarquia, tão acostumada a mexer, a seu sabor, nas peças do xadrez da política mossoroense. Tiveram que engolir a seco a candidatura de Francisco José Junior, tendo que apoiá-lo nos bastidores.

Cláudia e Francisco, a despeito das diferenças de seus estilos político, marcaram um fato importante. Eles foram, em décadas, e consecutivamente, os mais recentes políticos não Rosado, a ocuparem o Palácio da Resistência. Nem seus vices carregavam o sobrenome Rosado.

Em 2014, fatos relevantes teriam reflexos que seriam sentidos 2 anos depois. O Sandrismo não reelegeu Larissa e Sandra. Para a Assembleia Legislativa, nenhum Rosado foi eleito. A família ficou com apenas um assento na Câmara dos Deputados. Já em 2016, após quase 3 décadas de intensa rivalidade, Rosalbismo e Sandrismo se uniram.

O empresário e novato na política, Tião Couto, cresceu na reta final daquela campanha, ficando em 2º lugar, sem ter o apoio expressivo de alguma das alas da oligarquia. Tião conseguiu canalizar, em sua postulação, a insatisfação popular, já crescente, contra a família. Os Não Rosado somaram 65.114 votos, incluindo a votação da candidatura do desistente Francisco José Junior.

E 2016 deu à oligarquia uma forte mensagem que desaguou 2 anos depois, no pleito de 2018, de forma muito expressiva.

É em 2018 que os germes do desgaste que vinham batendo à porta se concretizam. Os maiores representantes da cidade na assembleia estadual seriam uma vereadora de um partido que pouco de representatividade teve no histórico político mossoroense, Isolda Dantas; e um nome que causou imensa surpresa nas urnas, Allyson Bezerra. A isso soma-se a vitória de Fátima Bezerra, numa candidatura que em Mossoró pouca tinha de estrutura político-partidária, contra a imensa estrutura que a prefeitura disponibilizou para Carlos Eduardo.

Carlos Eduardo, Rosalba e Kadu: derrota (Foto: arquivo/2018)

A prefeita Rosalba era incisiva em dizer que votar na chapa Carlos-Kadu (seu filho que nunca fora candidato a qualquer cargo eletivo), era o mesmo que votar nela. Os nomes da oligarquia tiveram aquém do esperado à Assembleia Legislativa e Câmara Federal, tendo que enfrentar uma avalanche de candidatos que caíram na graça da população e amealharam expressivas votações.

A família só não passou maior sufoco porque numa decisão dúbia, que ainda se arrasta nas entranhas jurídicas, o deputado federal Beto Rosado conseguiu a vaga de Fernando Mineiro (PT) e ser reeleito à Câmara.

Os Rosados já não mais ditavam sozinhos as regras da política local.

Chegando em 2020, com um cenário de enormes dificuldades econômica, social, de saúde e infraestrutura, Rosalba encara a eleição que pode por fim à sua aura de invencível. A população avalia a gestão a partir do momento que a prefeita foi eleita em 2016. De nada adianta usar o nome de Francisco José Junior como mantra para todas as dificuldades enfrentadas no município.

Rosalba foi eleita com o mote de que iria “reconstruir” a cidade, “fazer acontecer”. Está na sua cota a responsabilidade da condução da cidade, é assim que a população avalia seu governo.

Mesmo estando fracionada, a oposição encontrou sua candidatura consistente. Allyson Bezerra saltou e deixou para trás as postulações de Isolda Dantas e Cláudia Regina. A primeira porque mesmo tendo a estrutura do governo do estado a sua disponibilidade, é uma candidata que atrai fácil rejeição.

Diante de uma rápida queda já na largada da campanha, Isolda restringiu sua candidatura ao lulopetismo, mas sem nem ao menos contar com o apoio dos lulistas, que não necessariamente são petistas. Acabou ficando restrita àquele campo que as outras candidaturas do PT tiveram em Mossoró, os simpatizantes que solidamente votam na legenda.

Já Cláudia, evocou 2012 em 2020, e soou como obsoleta. O saudosismo que trouxe à sua campanha fez com que tivesse o apoio apenas daqueles que são seus seguidores sólidos, e que representam pequena fatia do eleitorado que em 2012 lhe deu 50,90% dos votos.

Vale lembrarmos que 2012 foi uma campanha controversa, em que Cláudia venceu por pouco, e atraiu a rejeição de quase metade do eleitorado. Além do erro estratégico, neste 2020, Cláudia não pode contar com o apoio do Rosalbismo, a base de sustentação que lhe alçou à prefeitura.

Tanto Cláudia, como Isolda, piamente chegaram a pensar que suas candidaturas seriam o nome a polarizar com Rosalba. A brutal retração que sofreram causou efeitos psicológicos em suas militâncias, que enxergaram em Allyson um adversário até mais perigoso do que o Rosalbismo. O sentimento na militância da petista e da demista foi de que o candidato do Solidariedade tomou o lugar que seria de uma das candidatas.

O superlativo crescimento de Allyson se dá por um elenco de fatores que convergiram para seu nome. Não bastava tão somente o desgaste popular da prefeita, era necessária uma postulação que canalizasse essa insatisfação, e Allyson conseguiu tal feito, tendo ainda desidratado Isolda e Cláudia.

O candidato conseguiu sair da zona do que poderia ser uma candidatura vista pela população como meramente oposicionista, para adentrar no seio de uma parcela do eleitorado que até recentemente era rosalbista. Seu nome é aceito da esquerda à direita, de bolsonaristas a lulistas, tendo se acomodado nas classes média baixa e mediana, conseguindo ainda fazer incursões nas altas camadas da sociedade, que estão majoritariamente com Rosalba.

Sua coligação conta somente com seu partido (Solidariedade) e o PSD, o que a princípio poderia ser um fator que prejudicaria a estrutura de campanha de sua postulação, mas se tornou um ponto favorável. Por serem dois partidos que não tem uma identificação construída junto ao eleitorado, não causando sentimentos mistos, acabou tornando ainda mais fácil o trânsito de sua candidatura junto a diferentes segmentos sociais.

Allyson comanda uma campanha focada tão somente no local, não tem o apoio de grupos políticos de expressividade regional ou nacional, o que acabou por trazer uma espécie de neutralidade em torno de si. Conseguiu montar uma estrutura de campanha, que mesmo não sendo do mesmo porte de sua principal adversária, se mostrou organizada, hábil e articulada. Sua candidatura tem uma estratégia político-eleitoral com muitos acertos e pouquíssimos erros.

Mostrou ser um candidato carismático, em que o eleitor facilmente se identifica. Sua trajetória de vida, a narrativa consistente e bastante popular, de quem supera todos os obstáculos para ascender socialmente, caiu no gosto das massas. E pode fazer com que um grupo que historicamente é pouco interessado, os jovens, compareça em peso nas urnas para apoiar o seu nome.

Allyson conseguiu o mais importante para sua campanha: adentrar as periferias da classe popular, os grotões da imensa massa de excluídos. Sua campanha nessa reta final cresce sobremodo. Se em 2018, o Rosalbismo viu o voto silencioso conduzir a vitória de Fátima Bezerra, Allyson pode chegar ao Palácio da Resistência juntando um eleitor energizado com um o voto de silêncio do eleitorado menos engajado.

Independente do resultado das urnas do domingo de 15 de novembro, Allyson já fez história. Mesmo que sofra uma derrota, se dará por uma margem pequena. Caso perca, projeta seu nome para ser o campeão de votos em 2022, podendo chegar como favorito em 2024. Caso vença, assumirá uma cidade em calamidade pública. Terá que gerir a bancarrota que a gestão Rosalba Ciarlni lhe entregará.

O ‘menino pobrezinho’, vencendo a eleição, terá em suas mãos a chance de melhorar os indicadores sociais e econômicos de Mossoró, e abrir uma nova página na história política da cidade. Se vencer, que assim seja.

João Paulo Jales dos Santos é graduado em Ciências Sociais pela Uern

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Categoria(s): Artigo / Política

Comentários

  1. Fernando diz:

    Análise perfeita , inteligente e sabia.Te cuida Ravengar Mossoró vai mudar, abusaram do povo, agora vai pagar.

  2. Marcos diz:

    Alison é um fenômeno! Impressionante o povo chorando quando abraça ele,muito forte isso.

  3. Raniele Costa diz:

    Parabéns João Paulo !
    Esse texto é muito bom !

  4. César diz:

    Excelente texto! Uma análise racional e precisa. Tenho dito que Allyson é um fenômeno, seguramente tornou-se uma das maiores expressões políticas do Estado. Vai vencer a eleição, nitidamente as ruas darão a Oligarquia Rosado a maior derrota política da históra de Mossoró.

  5. David Leite diz:

    Ótima análise…

  6. MARIADOSOCORROMENEZESALVES diz:

    Êle está preparado, para dar conta do recado, e vai ser o melhor prefeito que Mossoró já teve. vai ter muita gente para lhe ajudar sem precisar puxar o saco. avante menino pobrezinho e conte com meu voto.

  7. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Réquiem para a família Rosado? Torço pelo futuro de Mossoró, independentemente de quem se eleger. Todavia, cabe ao povo não esquecer o que a nossa família fez e faz por essa cidade. Tentar sepultá-la é crime contra a História.

  8. Marcos Pinto. diz:

    Os anais da história revelam que todos os governos stentóricos que desdenharam a pobreza e humildade do seu povo, foram literalmente lançados à faixa dolente de mortificante ostracismo político e pessoal. É mentira TERTA ?.

  9. Neide ross diz:

    Só pirado pode falar aqui

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