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domingo - 02/08/2020 - 10:44h

Tibau, sempre Tibau

Por Odemirton Filho

“Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. 

Só para viver”. (Clarice Lispector)             

Dia desses me bateu uma vontade danada de quebrar o isolamento social. Queria ir à cidade-praia de Tibau. Estava entediado de tanto ficar em casa.  

Há vários lugares que poderia ir. Areia Branca, na bela Ponta do Mel. À serra de Martins, curtir um frio gostoso. Quem sabe, Canoa Quebrada. Mas, por que Tibau? 

Porque Tibau faz parte de um passado que insiste em voltar à lembrança. Saudade de tomar banho de mar, às vezes sob a chuva. De atravessar a pedra do chapéu com o mar “cheio”. De nadar até os barcos ancorados. De brincar com os primos no morro do “labirinto”.

Saudade das festas do Creda e do Álibi. Das escadarias de Zé Félix. Do bar “de propósito”. Do campeonato de surf de “Bitonho”. Aliás, momentos que já relatei em outras oportunidades, mas que, volta e meia, visita-me a alma.

E mais: descer a ladeira da praia do Ceará, visualizando a bela paisagem dos coqueirais. Caminhar um pouco na areia. Sentir a água do mar bater nos meus pés e, no rosto, o carinho da brisa.

Depois, ir lá pelas bandas das praias das Emanuelas e de Gado Bravo, bem como a Barra, em Grossos. Na volta para casa, se não tiver fila, comprar pão na Padaria Jéssica.

Tentaria evitar, é claro, contato com as pessoas, pois nessa época de pandemia, temos que manter o distanciamento social. São tempos Difíceis.

Entretanto, queria apenas andar. Respirar o ar puro. E, em harmonia com a natureza, rogar a Deus que tenhamos dias melhores.

Não, não fui. O sentimento de responsabilidade social falou mais alto. Acredito que não me custa ficar um pouco mais em casa, em respeito à vida e à saúde das pessoas.

Vou esperar mais. Por mim e por todos. Vai passar.

Enfim, todos têm aquele lugar que nos faz bem. O meu é Tibau, sempre Tibau.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Amorim diz:

    Gosto de Tibau, lembrança de adolescente. Execuções.
    Hoje Ponta Mel me traz uma paz ” tranquila’!
    Parabéns pela crônica.

  2. Sérgio Chaves diz:

    Odemirton, sinto essa mesma magia pelo Tibau! Tem épocas que preciso ir, sentir a areia, tomar um bano de mar ou apenas sentir! É inexplicável! Abraço

  3. Carlos diz:

    De repente poderíamos voltar as festas no CREDA. A prefeitura adquiriu o creda-Leiria e devolveu ao BB; foi a leilão e consegui arremata-lo em leilão; gostaria muito voltar as festas tropicais de Gomes filho ou repassar a prefeitura esse imóvel que obrigatoriamente faz parte da História de Tibau.

  4. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Caro Odemirton, com a devida vênia da grande poetisa Clarice Lispector…SÓ PARA OLHAR, SÓ PRA VER, SÓ PARA SENTIR A NATUREZA E, CLARO VIVER.

    Sentimento existencial cada dia mais raro, posto que, os ditos humanos de hoje, passam 24 (VINTE E QUATRO) horas por dia, literalmente anestesiados e imersos na tela de um celular, não sabendo eles que cada dia mais estão se distanciando da natureza e, consequentemente do ser humano…!!!

    Parabéns pelo oportuno escrito de natureza existencial/memorialistico que nos leva e enleva cada um de nós leitores às praias da sua sensibilidade e do seu imaginário quando infante…!!!

    Um baraço
    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  5. Elder cavalcante diz:

    Belíssimo texto! me lembrou a primeira vez que fui em tibau,,1978 então menino com 07 anos, vi aquele mundo de agua na minha frente foi a coisa mias impressionante pra uma criança ,dos locais relatados a descida da praia do Ceará, a escadaria e a pedra do chapéu, coisas nostálgicas, tibau sempre tibau!!!!

  6. Rocha Neto diz:

    Realmente falar de Tibau me arremete a diversos retalhos de história pretérita, quando aos 12 anos de idade conheci a imensidão do mar, experimentando durante um mergulho o sabor e a salinidade de suas águas, para em seguida almoçar na mesa da Casa de seu José Basílio (já falecido), sua causa de taipa rústica abrigava em seus alpendre toda prole do casal seu Expedito e dona Conceição, meus pais que hoje habitam na glória de celeste, a casa ficava na rua de dona Beliza, nome de uma referência histórica do município praiano, na casa de Beliza, registei muito do seu doce de caju feito artesanalmente em um grande tacho de barro mexido pelas mãos calejadas da doceira que era mestra no remo como colher de pau pra o preparo do produto. Da Tibau antiga me recordo até da cor do mixtro do velho Manoel Joca, papai alugava pra nos deslocar de Mossoró até Tibau, levava de 2 a 3 hs de viagem para aquela orla, pois quem tivesse a margem da estrada em piçarra o condutor perguntava vai pra Tibau ? Se a resposta fosse afirmativa a lotação aumentava. Pois é, a vida era assim, as viagens pra Tibau era uma gostosa aventura, adoçada pela água de coco que bebiamos ate a barriga doer, pois eram os mesmos retirados dos coqueirais das dunas de areia coloridas, e de complemento tinhamos ainda o caju saboroso lá do velho Pergentino, fazendeiro aonde compravam os aves como galinha, guiné e pato para nossa mãe preparar as refeições. Que saudade desta Tibau verdadeira que nossos filhos não tem idéia do quanto era gostosa, tranqüila, calma, e até se podia se balançar e dormir nos alpendre das casas modestas, hoje substituídas por condomínios e mansões. É o tempo caro Odemirton, valeu pelo artigo que me arremeteu ao meu passado de criança, jovem e adulto. Mais uma vez PARABÉNS!!!

    • Odemirton Filho diz:

      Meu querido Rocha, o seu comentário, como sempre, foi uma crônica. Cada um tem suas lembranças.
      Obrigado pela força.
      Forte abraço!

  7. Rocha Neto diz:

    Corrigindo: degustei muito…
    habitam na glória celeste…

  8. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Tibau está presente em quase todas as nossas histórias. Lugar maravilhoso, pleno de recordações!

  9. Ailson Fernandes Teodoro diz:

    Tibau é um lugar ótimo, Professor!
    Se fosse quebrar o isolamento social não seria para lá que iria; mas aí é outro assunto.
    Parabéns pelo texto, carregado de lugares, de solidão e de reminiscências.

    Quando o Senhor citou o Campeonato de Surf, lembrei de uma figura mossoroense, que há anos reside em Natal, e que segundo você já falou anos atrás, era o melhor surfista “da sua época”; estou falando de Guiarone.

    Boa noite!

    • Odemirton Filho diz:

      Isso meu caro Ailson, Guiarone era o nosso grande surfista. Boas lembranças sempre de Tibau.
      Estou esperando o seu artigo ou crônica. Você é dos bons.
      Abração e obrigado pelo comentário.

  10. Marcel Robson diz:

    Odemirton você descreveu o meu desejo. Ao ler essas linhas caminhei e sentir o cheiro de cada canto descrito acima. Compartilho do mesmo sentimento. Tento hoje passar essas lembranças e esse sentimento pela cidade de Tibau para minha filha de 7 anos. Passeio pela cidade e levo ela aos locais onde costumava brincar, naqueles que ainda sobrevivem. Obrigado pela belíssima lembrança.

    • Odemirton Filho diz:

      Que bom, Marcel, que o texto fez você lembrar bons tempos. Como é bom ter saudade de coisas boas.
      Um abraço e obrigado pelas palavras.

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