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domingo - 03/01/2021 - 15:02h

Unido ao mar de Tibau

Por Odemirton Filho

Desde que me entendo por gente, antes de entrar no mar, faço o sinal da cruz. É uma forma de pedir proteção a Deus. Questão de fé, diga-se.

Na minha infância e adolescência, em Tibau, neste período de veraneio, costumava diariamente ir à praia. Com mais uma ruma de meninos passávamos horas e horas “torrando no sol”.Quando chegava em casa minha mãe passava em meu corpo uma pomada branca, com cheiro forte, que, no momento, não lembro o nome.

Mas o que eu quero dizer é que o mar sempre me fascinou. Além de sua beleza, o mar me traz paz, lava-me a alma, principalmente, o mar de Tibau que molhava a minha infância e juventude.

Como se sabe é comum que barcos de pesca fiquem ancorados a uma certa distância da praia. Com alguns tios e primos nadávamos até lá, subíamos no barco e ficávamos por um bom tempo, dando mergulhos e mais mergulhos.

Quando era maré alta, na lua cheia, tomávamos banho de tardezinha. O mar ficava mais revolto do que nos outros dias. Quanto mais a gente nadava, mais o mar nos “puxava” pra dentro.

Peguei “jacaré” e tomei muito “caldo” no mar de Tibau. Até tentei ser surfista, mas não tinha jeito para a coisa.

No velho Jeep Willys azul do meu pai íamos do “arrombado”, na praia de Tremembé, à Barra, lá em Maria Lúcia, em Grossos. Passávamos, ainda, no restaurante de Marcos Porto pra tomar um refrigerante, que ficava na praia de Areias Alvas.

Parávamos de praia em praia para dar um mergulho. Depois chupávamos um picolé, daqueles “d´água do rio”. Chega escorria pelas mãos. Era que bom que só.

Creio que neste ano que se inicia um banho de mar seja bom para recarregar as baterias. Dizem que afasta o mau-olhado. Quem sabe, até nos ajudará a ficar livre do coronavírus.

Se eu for, antes de entrar no mar, claro que farei o sinal da cruz. Talvez, até faça como Clarice Lispector:  “Com as mãos em concha, mergulharei nas águas e trarei um pouco do mar até minha boca. Beberei o mar (de Tibau) e me unirei a ele”.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. OSORIO SAMPAIO diz:

    A POMADA É HIPOGLÓS PARA QUEIMADURAS E ASSADURAS , AQUELES ABRAÇO PARA VC E FAMILIA.

  2. Inácio Augusto de Almeida diz:

    O lirismo se faz presente nesta crônica que, tal qual uma máquina do tempo, nos transporta a um passado que tantas saudades deixou em todos nós.
    Mais uma ótima crônica do Professor Odemirton.

  3. João Claudio diz:

    1943, ano em que fui à Tibau pela primeira.

    Me lembro como se fosse hoje. Meu pai me acordou às 6 ds manhã e partimos para uma viagem quase sem fim.

    Chegamos por volta das 8 horas cobertos de poeira e fomos direto para o mar. Passei o dia dentro d’água. Não saí nem para comer. Almocei, lanchei e bebi água doce do pote, dentro do mar.

    Eu gostava tanto assim do mar? Nem tanto. É que na noite anterior eu fui mordido na perna por um cachorro, e o vizinho disse ao meu pai:

    – Leve essa criança amanhã ceeeeedo pra Tibau, e deixe ele e a ferida de molho na água salgada o dia toooodin. Se não fizer isso ele vai morrer doido e botando baba branca pela boca. Viu?

    Nem precisa dizer que eu não morri espumando pela boca. Precisa?

    Eu tinha 10 anos de idade. Me leeeembro como se fosse hoooooje.

    Queria muito que aquele tempo voltasse, mesmo que tivesse que ir toda semana tomar ‘vacina’ em Tibau.

    Ah, Tubarão, o cachorro, morreu de morte morrida dois anos depois.

    Relembrei a mordida ouvindo ‘Mamãe eu Quero’, by Carmem Miranda.

  4. Rocha Neto diz:

    O jeep azul de seu pai hoje não encontraria espaço para trafegar, os carrões de luxo o cortaria com a estupidez da velocidade e não sabíamos quem estaria lá dentro porque o vidro escuro levantado pra condicionar o ar refrigerado da cabina não deixaria a brisa bater como sentíamos em cima do jeep aonde a meninada ficava de pé, o picolé feito com a água do rio dentro do carrão que parece mais com uma nave, nem pensar pra não manchar o veludo luxuoso dos bancos, no jeep azul com bancos de napa, era só lavar com água do cacimbao tava novo.
    Quantas saudades da Tibau do passado, uma utopia com a Tibau de hoje, aonde Albinha e Odemirton, seus pais criou a família, assim como eu e Bráulia criamos os nossos, muitas vezes esquecendo se estavam em casa ou na beira mar, pois a calmaria nos dava segurança e pegavam os no sono infinito em nossas redes no alpendre, coisa que não mais vislumbramos hoje, diante a violência reinante naquele espaço de areias coloridas aonde o sertão se encontra com o mar. Veja que até o velho picolé feito com açúcar, água do rio e essência de Qsuco foi substituído por um sofisticado brigadeiro com cobertura de chocolate crocante da Kibom, coisa que o velho jeep azul não alcançou. O mais… só recordações da Tibau do passado, hoje a estupidez da violência é QUEM impera. Por isso, final de ano fico aqui em Mossoró, também vivendo trancado em casa devido a violência dos assaltos que ronda todo Brasil, o privilégio não é só nosso, mais sim nacional. Jóia, a sua matéria.

  5. Rocha Neto diz:

    Complementando o acima, gente Tibau existe e não muda de lugar, não! Tá ali na divisa com o Ceará, e permanece durante os 365 dias do ano, desde que Pedro Álvares descobriu nosso continente, o mar já estava banhando o nosso litoral. A palavra veraneio foi quem mudou tudo, conseguiu colocar em nossa memória que Tibau só tem sol que queima no final do ano, isto tá errado! O sol de dezembro é o mesmo de todos os meses do ano, mais o povo de Mossoró só tem faro por água do mar durante o mês de dezembro. Incrível!!!! Kkkkkkkk

  6. Gouthier diz:

    Belíssima crônica!!!!!!

  7. João Claudio diz:

    Segundo o jornalista Canindé Queiroz, existe uma tese, defendida por ele, para explicar a desesperada procura da população mossoroense pela praia de Tibau a partir do mês de dezembro, esticando-se até o término do carnaval.

    Segundo o jornalista, os africanos, em massa e em respeito a um ritual sagrado, costumam defectar nas águas do Atlântico entre os meses de abril e junho.
    É dever de cada um jogar a maior quantidade possível de barro nas águas salgadas.

    O ‘material’, tangido pelo vento e singrando sobre as ondas, vai aos poucos sendo levado para o continente tupiniquim, sua única e exclusiva rota.

    Em 1o de dezembro começam a surgir os primeiros charutos nas mais variadas cores e tamanhos, em praias da região nordeste, mais precisamente em Tibau.

    Pois bem! Essa coisa estranha boiando na água, tem atraído a curiosidade de crianças, jovens e adultos, e ambos entram no mar para ver de perto.
    Faz tempo, viu?

    De sorte, aos poucos a coisa vai se dissolvendo e o fim do processo acaba na quarta-feira de cinzas, dia em que todos e todas deixam o mar e saem, em massa, rumo à Mossoró.

    Portanto, se você não quer ser testemunha desse fenômeno africano, frequente a praia de Tibau entre abril e novembro.

    Repito: essa tese é defendida pelo jornalista Canindé Queiroz, e foi publicada, em parte, no jornal Gazeta do Oeste. Faz tempo. Viu?

    Tô mentindo, Canindé?

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