A coligação "Aliança Mossoroense", que empina a candidatura do deputado estadual Laíre Rosado à Prefeitura de Mossoró, em 1988, prepara festa de arromba. A presença do ministro da Administração, Aluízio Alves, é a grande atração.

Contudo, diante de um imprevisto em Brasília, o ministro é obrigado a cancelar sua viagem. Crise no Governo José Sarney exige sua presença no Distrito Federal.

Seu irmão, o hoje senador Garibaldi Alves, liga para Mossoró para fazer o comunicado.

Com números telefônicos muito parecidos, as residências do deputado federal Vingt Rosado (sogro de Laíre) e de Carlos Augusto Rosado (marido da adversária à prefeitura, médica Rosalba Ciarlini), costumam causar embaraços. É o caso.

A ligação dessa feita "desaba" no número do casal Carlos-Rosalba. Logo à identificação do interlocutor, Carlos percebe o erro, mas não faz reparos.

"É, sim, é da casa do doutor Vingt", assegura.

Garibaldi então justifica a ausência do irmão Aluízio.

– Pode deixar que eu digo ao doutor Vingt. Mas é uma pena o ministro não vir… – "lamenta-se" Carlos, apresentando-se como "Nenéu", marido de uma filha adotiva de Vingt Rosado.

Após ludibriar o interlocutor Garibaldi Alves, Carlos passa à segunda parte da traquinagem. Ordena que todos os meios de comunicação sejam utilizados para anunciar, em primeira mão: "Ministro Aluízio Alves não vem para comício, porque vê como certa a derrota de Laíre Rosado".

* No grupo de Vingt e Laíre foi difícil entender como a informação chegara primeiro a Carlos Augusto.   

O momento é este mesmo, de decepção e perplexidade.  

Os números do Insituto Consult (veja postagem abaixo), não surpreendem. Esperados por quem circula pelo estado, tem a capacidade de ouvir e possui o mínimo de visão crítica. Tudo que é impossível para quem vê tudo com o bolso ou de modo passional.

Sem dúvidas é o pior começo de gestão estadual das últimas décadas, o que não significa antecipar algo pior ou melhor mais adiante. É cedo para premonições irremovíveis.

Contudo no próprio grupo da governadora o sinal amarelo está acesso, ameaçando saltar para o vermelho.

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Na gestão estadual, Rosalba enfrenta condições extremamente adversas e em dimensões que não conhecia. Governou Mossoró sempre em banho-maria, praticamente sem oposição ou movimentos sociais organizados.

Os números são superlativos e discrepantes entre Estado e Prefeitura.

Este ano, por exemplo, o orçamento estadual aponta para algo superior a R$ 10 bilhões. Na Prefeitura de Mossoró, ela movimentou – em números atualizados – cerca de R$ 1,200 bilhão nas duas gestões cumulativas (1997-2000/2001/2004), ou seja, oito anos corridos.

Como já afirmei dezenas de vez, repito: "O Estado não é a Prefeitura de Mossoró e o Rio Grande do Norte não é Mossoró."

Métodos consagrados na municipalidade, sobretudo nas relações com imprensa e servidor, talvez não funcionem da mesma forma no Estado.

Além disso, "os tempos são outros".

Sentiu que estava batendo num paredão e voltando, sem provocar sequer uma fissura. Apenas desfigurava o próprio rosto. A própria imagem.

Ótimo.

A ordem agora é dialogar, buscar o entendimento, tudo com voz macia, sem afetações ou destemperos verbais. Ou seja, o que se recomenda em termos de moderna diplomacia ou até mesmo entre selvagens.

Nas últimas semanas, o governo atiçou a ira dos servidores, recrudescendo a relação com os sindicatos. O inteligente e culto Paulo de Tarso Fernandes, chefe de Gabinete da governadora, foi escolhido para distribuir "porradas" verbais e não se saiu bem.

O governo reordena as relações sobretudo porque a repercussão da onda de greves saiu da divisa do Rio Grande do Norte, ganhando dimensão nacional. Não é mais um caso paroquial.

Baderna

É reflexo do efeito "Amanda Gurgel", a  professorinha desdenhada e vilipendiada pelo próprio governo. Numa audiência pública sobre educação, na Assembleia Legislativa, ela deu depoimento devastador, mostrando as vísceras do setor não apenas no estado, como no país.

As greves são instrumentos legítimos de pressão. Inaceitável é e sempre será, a baderna e o insulto à Rosalba ou seja lá quem for que esteja na cadeira executiva.

A enxurrada de greve se formou, principalmente porque o governo limitou-se a enxergar tudo de forma unilateral e de cima para baixo, utilizando evasivas ou distância no trato de tema tão delicado. E não pode alegar desconhecimento de que isso poderia acontecer ou se fazer de vítima, partidarizando a discussão.

Todos os outros governantes anteriores, nas últimas décadas, deram de cara com greves, que hoje são bem mais organizadas. Os sindicatos saíram do amadorismo ou da pura empolgação de rua, para o duelo técnico, amparados por assessorias qualificadas, da comunicação à advocacia.

Boa parte dos sindicatos procurou o governo antecipadamente para negociar. Inábil, o governismo chegou a ser insultante, a ponto do secretário Paulo de Tarso dizer que "metade dos professores não trabalha" e ridicularizar as paralisações: "Greve não faz dinheiro".

A própria Rosalba soltou das suas. Em Mossoró afirmou, incisivamente, que não governava para o servidor.

Bem, como os ânimos parecem avançar à serenidade, esperemos que de lado a lado haja bom senso. Sem ele, o bom senso, todos perdem.