Por Jânio Rêgo
O açude Vassourinhas que durante largo tempo abasteceu a cidade de Doutor Severiano foi construído em terras doadas ao governo por um padre, Ismar Fernandes de Queiroz.
O padre, ou melhor, o cônego Ismar é esse mesmo que fez nome e viveu quase todo o sacerdócio na cidade de Areia Branca, onde é homenageado com um busto plantado defronte à barra do rio Mossoró, no velho porto salineiro.
Eram terras da herança paterna. Seu pai, Cristóvão Colombo (isso mesmo!) foi também desbravador dessas outrora remotas serras do Rio Grande do Norte onde era conhecido como Totô Colombo, homem próspero cujas raízes e memória familiares permanecem marcantes no lugar.
Mesmo com as atribuições de pároco no litoral, padre Ismar nunca distanciou-se dos seus vínculos serranos. Na terra natal cultivava um largo círculo de amigos, influências, e um joguinho de baralho, hábito cultural e familiar que resgatava, sem pecados, em visitas esporádicas.
Ali também ganhou um busto como homenagem.
Esses últimos anos de seca devastaram as funções do Vassourinhas. Cidade serrana, com água mais acessível que nas terras planas do semi-árido, a cidade encontrou outras soluções para o abastecimento, sendo uma das poucas da região que não vive na penúria hídrica que conhecemos.
Com a esperança do inverno bom, o açude volta ao rol dos assuntos. Se ‘tomar’ água, a que uso se destinará? O que diria o padre se vivo estivesse?
Mas fevereiro está ‘meiando’ e as águas ainda são poucas. E a certeza de bom inverno parece se amofinar como denota a frase azeda de Zé Florêncio em dois dedos de prosa enquanto me mostra mudas de tamarindo:
“Esse inverno tá meio banguelo”.
Jânio Rêgo é jornalista
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