• Repet - material para campanha eleitoral - 16 de maio de 2024
domingo - 07/12/2014 - 08:39h

A dolorosa inversão da ordem natural

Por Naide Rosado

As pessoas costumam dizer: “quero dividir isso com você, ou vocês”. Prefiro usar a palavra compartilhar. E vou compartilhar o que passamos, até para que tomem conhecimento. Aí, sim, posso dizer que foi um problema.

A minha primogênita, Paula, que é médica, fez um RX de tórax, completamente inesperado porque resolveu fazer uma microcirurgia estética eletiva. O cirurgião, embora tratar-se de pequeno procedimento, pediu o risco cirúrgico. Ela, uma atleta, de saúde perfeita, fez o RX.

O pneumo que viu o exame, disse que havia uma pequena cicatriz, mas que aquilo não era nada. No entanto ela resolveu investigar que cicatriz era aquela e pediu para si uma tomografia. Feita a tomografia, veio o seguinte laudo: Linfoangioleiomiomatose pulmonar.

Só o nome já dava para assustar.

Ela estava no hospital, em plantão, e não houve um médico que soubesse o que era aquilo.  Aliás, ninguém sabia o que era aquilo.  Então, ela me passou o nome por um torpedo para que eu pesquisasse na internet.

Assim fiz e li um horror que resumo, desse modo: “após transplante do pulmão o paciente vive mais dez anos”.

Penso que saí de sintonia. Nem conseguia me levantar. Lembrei-me de meu pneumologista, uma sumidade, com mais de 90 anos. Liguei para ele e fui, de certa forma, bem acalmada pois foi direto ao assunto.

Explicou-me que tratava-se de uma doença que atingia mulheres em idade de reprodução e os nódulos eram hormônio dependentes.  Muitas vezes desapareciam com a supressão hormonal.  Que ele, pela idade, não poderia acompanhar Paula, mas indicaria um excelente pneumologista.

Impressionante, amigos, a forma como ele identificou o problema imediatamente, sem titubear…ali, na hora!

Noventa e tantos anos de sabedoria.

Fechamos o diagnóstico com Jerônimo Dix-huit Rosado Ventura, meu sobrinho médico que mora em Natal. Ele é especialista em imagens, ultrassonografia…etc…

Jerônimo deu-nos todas as informações e também ajudou decisivamente em tirar-nos do sufoco. Paula foi ao pneumologista indicado e fez todas as provas de capacidade pulmonar com resultado excelente, mesmo de atleta.

A doença, embora benigna, tem a capacidade de se espalhar, ou seja, atingir, principalmente, os rins.  E ela viu isso na tomografia. Uma imagem num dos rins. E disse a gente, ao pai e a mim, alcançou meu rim esquerdo.

Havia tranquilidade na fala dela e um monstro estava ao meu lado querendo me devorar. Fiz muito esforço para parecer tranquila, muito esforço, mas não pude escapar dos antidepressivos.  Precisei deles, sim. E, depois que tudo entrou nos eixos, consegui deixá-los com facilidade.

Durante esse período lembrei-me de Serra Grande (Dix-huit Rosado, pai da autora, prefeito falecido de Mossoró).

Ele voltou mais cedo da Prefeitura, alquebrado, abatido. Deitou-se num sofá.  Fiz um carinho nele e perguntei o que tinha acontecido.  Ele respondeu:

– A filha de meu amigo Sílvio Mendes (ex-vice-prefeito de Mossoró) morreu num desastre de automóvel.

Havia lágrimas nos olhos dele e um sofrimento profundo.

Depois, continuou: “Nós temos que entender a morte, mas não a inversão da ordem natural. A inversão da ordem natural é insuportável”.

Aquilo me marcou por dois motivos: um porque vi que ele estava começando a morrer e outro porque refleti sobre a inversão da ordem natural da vida e de como seria insuportável.

Não tenho a menor dúvida que Serra Grande partiu junto com a filha de Sílvio Mendes. Sei que ele tinha problemas de saúde seríssimos.  Mas não suportou aquela dor que desencadeou o seu final.

Naquele meu momento de angústia com minha filha ouvia aquelas palavras sobre a inversão da ordem natural e agradeço demais a Deus por termos encontrado o caminho correto a seguir, o tratamento certo.

Segundo informações, aqui no Brasil, nos últimos 50 anos, só houve dois casos dessa doença de nome enorme que me arrepia. Depois do pneumologista, ela foi para o urologista que marcou a cirurgia no rim para quatro dias após.

A cirurgia foi um sucesso. Só uma pequeníssima parte do rim foi retirada.

Houve um acesso de médicos notáveis para assistir a cirurgia, por conta de sua raridade.  O resultado da patologia foi de benignidade: angiomiolipoma.

Diante de tudo o que escrevi, agora saída do torpor, o que gostaria de dizer é que se ela não tivesse feito aquele RX do tórax, quase que por acaso, não saberia da doença pois não tinha nada nos pulmões, nem nos rins.

Saudável demais, a minha pequena.  E se fizesse um RX daqui a dez anos, tudo poderia ser diferente.

Com certeza, estamos nas mãos de Deus.

Um abraço para todos.

A minha pequena saiu para jantar fora.

Sérgio (marido) e eu estamos com os netos.  Eles todos estão conosco, morando aqui… Até eu… eu me recuperar.

Naide Rosado é advogada

Compartilhe:
Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Francisco Bezerra diz:

    O que me ateroriza é saber que um médico pneumologista, no Rio de Janeiro, analisando um exame de uma colega médica, não soube diagnosticar o que ela tinha, disse que era irrelevante, imaginem nós pobres mortais que estamos no interior do Nordeste nas mãos de médicos que, como muitos falam, eu não tenho provas, compram uma vaga no vestibular de medicina, o que será de nós Senhor? Quantos já morreram por falta de um diagnóstico preciso? O médico não deve deixar de investigar nada, nem o que ele acha irrelevante, que esse caso sirva de exemplo! Muitos já morreram, vamos evitar que mais morram!!

  2. luis claudio diz:

    Erros diagnósticos eu sei de vários casos. Infelizmente todo mundo está sujeito a passar por isso.
    Que Deus abençõe Paula e sua saúde.

  3. naide maria rosado de souza diz:

    luis claudio, obrigada. Deus lhe abençoe. Paula também agradece. Um abraço.

Faça um Comentário

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2024. Todos os Direitos Reservados.