domingo - 08/09/2013 - 11:25h

A independência que ainda não aconteceu

Por Marcos Araújo

Aproveitando a prosa do mestre François Silvestres (veja AQUI), atrevo-me a escrever sobre a independência brasileira e a americana, com uma breve inserção do ideário cristão, pois todos os juristas filósofos de respeito reconhecem que ao se falar em Independência, Liberdade e Direitos Humanos, não há como se prescindir a menção do precursor: Jesus Cristo.

E já que a análise é entre Brasil e Estados Unidos, tomo como referencia uma coincidência do Cristo com um americano ilustre: Thomas Jefferson. Os dois tinham 33 anos de idade ao se declararem ativistas de causas públicas, mas somente obtiveram o reconhecimento mundial décadas e até séculos depois de suas mortes.

Nasceram em regiões e épocas diferentes, um de família pobre e o outro de família rica, mas comungavam de um mesmo ideal: a liberdade e a igualdade entre os homens.

Cristo obteve reconhecimento mundial. Jefferson, nem tanto!

Cristo, o salvador do mundo, veio nos libertar espiritualmente do pecado; o segundo, um advogado inflamado, entrou na guerra para libertar a escravidão e o trabalho forçado das Colônias americanas em relação à tirania dos Ingleses.

O primeiro dizia que somos todos iguais e que só ele libertava, era o caminho, a verdade e a vida (Evangelho de São João). O segundo, num discurso mais político e sociológico, cunhou na Declaração da Independência dos Estados Unidos uma frase que caberia muito bem na boca do próprio Cristo:

“Julgamos evidentes por si mesmas estas verdades: todos os homens nasceram iguais; estão dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis; entre esses direitos contam-se o direito à vida, à liberdade e o da procura da felicidade.”

Cristo denunciou a hipocrisia e a devassidão moral, Jefferson a ambição material e a exploração do homem pelo homem. Pois bem. Nesses dias que tanto se fala de liberdade e independência, é preciso que nos lembremos de Cristo e de Jefferson.

Foram eles os motivadores de nosso espírito libertário. De Cristo, veio os eflúvios espirituais e a motivação religiosa da igualdade, da irmandade divina e da fraternidade. De Jefferson vem o iluminismo, o furor social, a motivação filosófica e política da igualdade racial e social.

Foi justamente sabendo de Jefferson e respirando a ação de George Washington que Tiradentes ensaiou por aqui os passos de nossa independência. Foi o martírio de Tiradentes – assemelhado ao de Cristo – quem contribuiu para a queda do império e da monarquia portuguesa.

Unindo os preceitos de Cristo (espírito) e de Jefferson (matéria), a liberdade é um estado de espírito e uma realização concreta e material de uma independência harmonia e social. No homem, a liberdade é a garantia de desenvolvimento de suas potencialidades no seu conjunto – as leis, a organização política, social e econômica, a moral, etc. –.

Se liberdade é tudo isto, que espécie de libertação ou independência o Brasil comemora? E o Estado, tem o que comemorar quando se fala em independência? De quem nos julgamos livres? Será que o homem exerce as suas potencialidades no seu conjunto?

Pelo prisma de Jefferson, tem o homem atual os seus direitos civis respeitados? Se necessitar da Justiça receberá tratamento igualitário e equânimo? Se precisar do prefeito de sua localidade terá igualdade de acesso aos alpendres dos palácios? Acaso se adoecer, receberá tratamento condigno e eficiente, e terá garantida a alimentação dos seus dependentes?

Observando pelos olhos de Cristo que denunciava os poderosos do seu tempo, caso queira o cidadão atualmente denunciar uma injustiça, terá acesso aos meios de comunicação?

Caso entenda de falar contra os ocupantes do Poder, lhe darão ressonância nos rádios e emissoras de televisão?

Caso as respostas sejam negativas, quando o assunto é liberdade, o Brasil, nem o mundo têm nada a comemorar. No panorama mundial, os países árabes democráticos gostariam de conter a Síria, mas não têm a liberdade de assumirem esta postura por temor ao presidente russo, Vladimir Putin. Até o Brasil em nada se manifestou quanto a esse morticínio coletivo.

O homem é construtor de sua própria história. Jefferson foi presidente americano por duas vezes, tendo entrado para a história americana por nunca haver vetado um projeto de lei do Congresso. Por aqui, os parlamentos são apenas – e tão somente! – caixas de ressonância das intenções do Poder Executivo.

Não conheci ao longo da minha vida Poder Legislativo independente.

Lembro que Martin Heidegger, grande filósofo alemão, foi amante e mentor de Hannah Arendt. Ele optou por seguir o nazismo, ela ainda que perseguida por ser judia, desertou para escrever sobre a humanidade e o amor (seu doutoramento foi sobre o amor na obra de Santo Agostinho).

O primeiro foi descartado no lixo da história, a segunda foi inscrita pela ação política em favor da humanidade.

Temos que fazer as nossas escolhas. A escravidão de hoje em dia mudou apenas a tonalidade da cútis. Não são mais só os negros a aguentarem a borrasca e a raiva dos senhores de engenho ou dos capitães-do-mato. Brancos, amarelos, pardos, índios, caboclos, negros, todos, sem exceção, estão jungidos num mesmo grilhão que os amarra pelo calcanhar ditando os rumos de suas vidas e o futuro de seus filhos.

A esta casa grande, a esta senzala enorme chamamos de Estado (Nação, Estado e Município), cuja concentração de poder e de mando é feita erroneamente em uma só pessoa. Nesse todo-poderoso governante se centraliza o poder do chicote a vergastar os couros dos seus administrados. Conheço alguns que de tão tiranos com o povo, fazem dos prédios administrativos verdadeiros pelourinhos sociais.

Permanece para os pobres incautos, é claro, a visão da liberdade apenas pela ótica racial.

Quando vejo nos corredores da UERN frases estimulando o “Orgulho de ser negro”, penso: negros livres e brancos idiotizados. Que pena! Viva a liberdade e a independencia que ainda não conhecemos.

Libertas quae sera tamen.

Marcos Araújo é professor e advogado

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    O historiador André Figueiredo Rodrigues, no livro A Formação dos Inconfidentes – Caminhos e descaminhos dos bens de conjurados mineiros, demonstra com documentos que Tiradentes era proprietário de terras agrícolas e de mineração. Tinha pelo menos cinco escravos.
    Este livro foi lançado pela Editora Globo.
    A verdsade é que nossos ídolos são de barro.
    Tiradentes era um pequeno proprietário de terras agrícolas e minerais.
    MINERAIS.
    O que realmente motivou Tiradentes foi pagar menos impostos.
    Quando o movimento fracassou, meteram na cabeça de Tiradentes que por ser militar poderia assumir a responsabilidade do movimento pois não seria executado.
    Esta é a História que a Estória não conta.
    O mesmo aconteceu com Beckmam no Maranhão.
    Todos os herois brasileiros foram motivados por interesses materiais.
    Não pensem os senhores que aconteceu diferente com os herois americanos, franceses ou de qualquer outra nacionalidade.
    Todos eles eram seres humanos.
    Dom Pedro gritou INDEPENDÊNCIA OU MORTE porque não queria voltar para Portugal.
    O que mais motivou Dom Pedro a desobedecer as ordens de Portugal foram os encantos e as camaradagens da Marquesa de Santos. Mais as camaradagens do que os encantos.
    Já está mais do que na hora de passar a limpo a História do Brasil e ensinar aos jovens a verdadeira história.
    É preciso mostrar-lhes que a Independência do Brasil não aconteceu porque Dom João era bonzinho. Muito menos que tudo foi resolvido com um simples grito.
    Muitos brasileiros perderam a vida lutando pela independência.
    No Pará, Maranhão e Piauí as lutas se estenderam até o dia 13 de março de 1823.
    Perto da cidade de Campo Maior-PI, existe um Monumento em homenagem aos herois da luta pela indepedência, luta tão sangrenta que deu nome a um riacho que de tanto sangue ficou vermelho e passou a chamar-se Riacho do Sangue.
    Na Bahia as lutas só terminaram no dia 2 de julho de 1823, daí este dia ser feriado estadual naquele estado.
    O problema é que nós gostamos de estórias e não de HISTÓRIA.
    Nos fascina acreditar que os sete anões eram bonzinhos e que cuidavam de Branca de Neve sem nenhum outro interesse.
    E por vivermos na mentira é que até hoje acreditamos que um Messias virá para nos salvar das garras dos corruptos, como se fosse possível a um homem só realizar tarefa de tal envergadura.
    Felizmente alguma coisa começa a mudar neste país.
    E a mudar para melhor.
    Isto graças a participação de todos.
    Um bom domingo para todos.
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    VOCÊ JÁ LEU O JORNAL OFICIAL DO MUNICÍPIO HOJE?
    ///
    CUSCUZ COM OVO FRITO SEM CAFÉ É SERVIDO NA MERENDA ESCOLAR
    O UNIFORME ESCOLAR AINDA NÃO FOI DISTRIBUÍDO EM MOSSORÓ
    O IPTU VAI SUBIR EM 2014.

  2. Sebastião Almeida de Medeiros diz:

    Você é muito, Marcos Araújo!

  3. Sebastião Almeida de Medeiros diz:

    Você é muito bom, Marcos Araújo!

  4. Josué Moreira diz:

    Um texto de alta inspiração para refletirmos no que estamos fazendo hoje. Nesse momento ao refletirmos sobre a nossa condição de liberdade e solidariedade, podemos concluir que não estamos sendo justos com nós mesmos e não estamos construindo um mundo melhor para as próximas gerações que serão vividos por nossos descendentes.

  5. Inácio Augusto de Almeida diz:

    A SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO DE MOSSORÓ INFORMA:
    Esse ano o investimento em Fardamento foi de R$600.000,00, devidamente publicado no JOM.
    Fonte: Comentário feito pela Secretária de Educação no tópico ROSALBA FICA AUSENTE DO DESFILE…
    ////
    Que todos os meios de comunicação divulguem esta importante informação.
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  6. Fredson diz:

    Belo texto. Crítico e reflexivo. Vemos que o Brasil tem muito pouco para comemorar, no que diz respeito ao social, principalmente com relação à saúde, à educação, à segurança, à infraestrutura, ao saneamento, ao transporte, em fim, ao básico. Enquanto isso, as classes políticas e empresariais dominam o espaço, ao longo do tempo. Sem mais.

  7. Emery Jussier Costa diz:

    Definitivo

  8. Tony diz:

    Países árabes democráticos ?

  9. Oda Araújo diz:

    Lindo texto, gostaria de ter sua inspiração e conhecimento para avaliar tão bem o quadro. Há sempre os que possam discordar, pois, haverá os que se beneficiam da situação, sejam por seus empregos ou de familiares em orgãos governamentais ou ligados a este, mas a verdade foi relatada com maestria por você neste texto.

  10. fernando FF diz:

    São por esses motivos que gosto desse blog.

  11. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Datíssima Vênia ao posicionamento sempre e sempre reconhecidamente conservador do Advogado e professor Francisco Marco Araújo.

    No caso dos fatos ora relatados e observados com a “maestria” de um UDENISTA” rebuscado em palavras e sofismas ainda que delimitados e escamoteados em sua “bem intencionada profícua” densidade ideológica.

    Temos que, quando de suas assertivas o Douto professor/advogado pareceu ignorar e (ou) esquecer que democracia no mundo árabe, só existe qaundo atentamos na letra ” D ” no dicionário árabe e olhe lá.

    Em outra quadra, fica explícita a imensa dificuldade de compreensão quando da análise das questões de cunho racial e a nova ordem legal que gradativamente tenta sair dos livros, dos códigos e dos discursos empolados dos políticos juristas dos juristas políticos do nosso vetusto judiciário, para efetivamente serem objeto de manifestação cotidiana e mais ainda aplicadas em nosso dia-a-dia da nossa DURA LEX SED LEX.

    Torpedeado em sua próprias palavras e acometido por uma súbita amnésia seletiva quando do histórico dos fatos e consequentemente de seu paralelismo e comparação histórica, o professor Marcos Araújo louva por inúmeras vezes, sobretudo quando afirma que o Presidente Thomaz Jefferson jamais vetou algum projeto de Lei do Congresso do USA.

    Ora, o professor esquece que, de há muito o USA deixou de ser efetivamente uma democracia em sua práxis, tanto no plano interno quanto externo, verdadeiramente transmutando-se de fato, em um IMPÉRIO MAIS AUTOCRATA E MAIS AUTORITÁRIO QUE O IMPÉRIO ROMANO, DIRIA MAIS, EM UM ESTADO MILITAR INDUSTRIAL AMERICANO com seus interesses umbilicalmente ligados as grandes corporações , a indústria de armas, assim como a indústria do petróleo.

    Falar em democracia para povo americano na verdade se tornou mera figura de retórica, mesmo porque, sobretudo nos últimos sessenta anos, os interesses do ESTADO MILITAR INDUSTRIAL AMERICANO efetivamente passam ao largo dos interesses reais da sociedade americana.

    A era Reagan, assim como a era da família BUSH pai e filho à frente da presidência do USA, muito bem explicita quanto as loas e exaltações ao Congresso Americano de que fala o Dr. MARCOS ARAÚJO, efetivamente se tornou e se tonaram reminiscências culturais e políticas, mesmo porque o sobredito CONGRESSO DO USA, de há muito é efetivamente não só é dominado, mais ainda manifestamente dirigido pelos interesses manifestos interesses das grandes corporações, em especial o da indústria de armas de guerra.

    Quem não lembra da fraude quando da ELEIÇÃO GEORGE W BUSH FILHO, DA GUERRA PREPARADA E MANIPULADA GUERRA DO IRAQUE, DA INVASÃO DO AFEGANISTÃO, PAQUISTÃO ETC. NO CASO APENAS VERBERANDO FATOS DE TEMPOS BEM RECENTES…!!!

    O mais são prosopopeias, sofismas e palavras direcionadas a divertir, emular, iludir e disseminar a mentira política proposta pelo PIG sempre de plantão junto aos inocentes úteis/inúteis de todos os rincões dessa “pátria amada gentil”.

    Um abraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  12. Tony diz:

    Os pseudo-intelectuais…e ainda tem gente que aplaude… quem tem um solo olho no pais dos cegos e rei…o texto é um amontoado ideológico sem coerência alguma, com as famosas “citações” utilizadas ao “bel prazer” …com todo respeito

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