Carlos Santos,
O que podemos esperar de um “médico” que vai a uma emissora de televisão em Mossoró e diz que o juramente de Hipócrates é uma coisa arcaica e que a população deverá levar em conta o tempo que o médico gastou pra se formar.
Bem, o juramento pode até ser arcaico, mas é o embasamento até os dias de hoje para qualquer acadêmico de medicina ou outro profissional da área da saúde, pois nele está implicito o valor da palavra HUMANIZAÇÃO.
Acredito que este nobre “médico” deverá rever seus conceitos ou então, quiçá voltar às carteiras de uma sala de aula (aqui fica a dica) para que possa ver o professor explicar ao tal o valor e a importancia do sistema Humanizdoa SUS.
Souza Júnior – Webleitor e advogado
Nota do Blog – Meu caro Souzinha, lamento ler o que me repassas.
Espero, entretanto, que não apenas médicos, autoridades públicas e outros segmentos envolvidos com a Saúde, percebam a abjeta situação em que chegamos em Mossoró.
Mas, meu maior lamento, é mesmo à letargia da própria sociedade através de suas entidades representativas, muitas ditas “filantrópicas”, que ficam com braços cruzados, ajudando em sua omissão à perpetuação desse modelo nazifascista de lidar com vidas humanas pobres, sem origem aristocrática, oligarca ou burguesa.
Meu caro Carlos Santos,
Não sou advogado, sou um academico do curso de odontologia. Tenho minhas bases familiares (mãe e irmão) voltada para advocacia. Fico muito feliz em ver meu humilde comentário, corroborado por um dos ícones do jornalismo mossororense. Desde já agradeço a atenção.
Sem mais para o momento, despeço-me.
e triste ver uma sociedade acomodada,homens de bens,réfens de um emprego ,seu ou de parentes.
sem poder se insurgir contra um modelo de governo arcaico,concentrador e mesquinho.
formadores de opiniao,quando nao omissos,ajudam mais a perpetuar. a tristeza.
os que nao tem consciencia politica,vendem seu voto,nao sabem eles que esse gesto,lhes sairá caro!
quando os mesmos precisar de um atendimento medico,como agora,nao poderao reclamar,pq ja venderam seu voto,nao tem mais esse direito….
q pena,sofrer tanto na metropole do futuro!!
O nobre médico esquece que os dez ou mais anos que eles passou estudando foi bancado pelo governo federal ou seja com os impostos que nós pagamos.
Boa tarde Carlos Santos.
Mais uma vez tenho que concordar com vossas palavras, caro jornalista, a SISTEMATICA DA HUMANIZAÇÃO, deve ser vista como principio social por todos que a compõem, e não como simples regra ou conduta de profissional, inclusive aos advogados, que tem uma imagem tão ou mais DESUMANA, entre a sociedade, do que a dos médicos, agora não dá mais para aceitar a DESUMANIZAÇÃO nas ações do governo.
Ora se é terrível aceitar um medico que se nega a atender um cidadão pobre em necessidade de saúde, igualmente é ter que aceitar um advogado em ato de corrupção e desonestidade, pois com certeza alguém será prejudicado por sua má conduta, e também é difícil de aceitar que um governante em pleno momento de decidir o que realizar com limitados recursos públicos ver o mesmo escolher utilizar tão sofrido recurso em coisas supérfluas, como o ELEFANTE DAS DUNAS, enquanto em cidades e mais cidades do RN, necessitam a anos de investimentos em infra-estrutura de saúde, educação e segurança, para não ir muito longe.
E neste momento cadê a OAB, cadê os homens que defendem o DIREITO?
Ai fico a me perguntar, o que seria então o direito?
Seria a maneira certa e legal do governo constituído, em aplicar, DESUMANAMENTE, os recursos públicos nas prioridades erradas, Ex. LEFANTE DAS DUNAS, deixando toda uma população desprovida?
Agindo assim, não seria criada uma injustiça social para com os menos favorecidos? Não seria isto um contra-senso, O DIREITO COMUNGANDO COM A INJUSTIÇA.
Para mim que sou leigo “nas artes do direito”, não tenho faculdades intelectuais para compreender tamanho disparate, diante disto e mesmo assim, continuarei a ser, antes de tudo, HUMANO.
Sem sombra de dúvida, este senhor é a pessoa menos qualificada para servir de porta voz do seguimento a que pertence. Tempos atrás, quando se detetou que médicos recebia por plantões que não compareciam, declarou que a imprensa se metia em assunto que não do seu interesse. Ta aí nos anais, é só pesquisar. Agora vem com essa de que o juramento de Hipocrates é arcáico. Creio que o CRM deveria se manifestar a respeito. Terá ele cursado a cadeira de ética médica? Por fim más não menos importante, faltou ele complementar que o tempo levado na faculdade foi inteiramente pago pela sociedade.
Sérgio Bouças
O conceito de humanização na relação médico paciente deveria ser objeto estudo na academia, segundo o Dr Moacyr Scliar, na faculdade de medicina existem cadeiras de anatomia, cirurgia e outras mais seria interessante uma cadeira de humanidades médicas. Com a palavra o Dr Scliar, “Em 1993, o chefe do Departamento de Estudos Literários da Brown University, uma pessoa que já conhecia, me convidou por telefone a dar um curso de seis meses sobre literatura para os alunos da universidade. Fiquei um tanto intimidado e lhe disse que era escritor, não professor de literatura, e não me sentia em condições de dar esse curso para estudantes de letras. Ele: “Mas quem falou em estudantes de letras? São alunos de medicina”. Mais: disse que o curso não seria o único e haveria outras pessoas lecionando para a mesma área. Quando cheguei lá, descobri que a área se chamava humanidades médicas e envolvia várias disciplinas, como história da medicina, antropologia, ética, comunicação, e que minha disciplina seria literatura e medicina.
Foi uma experiência extremamente interessante e comecei a me dar conta de que não se tratava, vamos dizer, de uma diversão intelectual. Os americanos são extremamente pragmáticos e aquilo tinha uma razão muito objetiva. Era a crise na medicina americana. Ela vive várias crises e atualmente estão tendo uma discussão ampla sobre a reformulação do sistema de assistência médica. É a medicina mais cara do mundo, é claro que também extremamente eficiente, mas deixa a desejar sob muitos aspectos. Um deles é que cerca de 40 milhões de americanos não têm nenhuma cobertura assistencial, porque lá isso depende em grande parte de seguros de assistência médica.
Justamente quando cheguei lá, o presidente Bill Clinton ia tomar posse e uma das coisas que propunha fazer era reformular a assistência médica do país. A pessoa encarregada disso era Hillary Clinton e o local onde anunciou os planos foi a Brown University. Esta foi escolhida porque vários dos assessores de Hillary eram dessa universidade, mas as medidas anunciadas nunca saíram do papel. Era um plano extremamente ambicioso, porém muito complicado e por isso não decolou. O problema administrativo continuou, mas havia um outro, e este os levou a mudar o currículo médico. Era a questão do mau relacionamento entre médicos e pacientes nos Estados Unidos. O número de ações movidas contra médicos estava aumentando exponencialmente e continua em crescimento, obrigando os profissionais a fazer seguro.”
Ainda segundo o Dr Scliar “Temos de um lado a crise de desumanização da medicina, de outro lado a crise da literatura e de repente estou lá na universidade Brown tentando, junto com um grupo de alunos, superar essas duas crises. Fazer com que eles se deem conta de que a relação médico-paciente é entre seres humanos e conseguir isso através de obras literárias. Dá para fazer, porque existem obras literárias que são absolutamente decisivas não só na compreensão da existência humana como também na compreensão da relação médico-paciente.
Vou dar um exemplo, que considero definitivo. É uma novela de Liev Tolstói, chamada A Morte de Ivan Ilitch. É um texto muito curto, o que é muito bom, livro não precisa ser longo. Foi escrito por um homem conhecido como humanista, uma pessoa voltada para a condição humana. É considerada por muitos críticos como a melhor novela já escrita. Quando a lemos, percebemos que, se não é a melhor, é forte candidata a ser a melhor, se é que existe tal classificação. A Morte de Ivan Ilitch fala de um homem que vai morrer, o que já sabemos pelo título. Quem é ele? É um advogado conhecido, extremamente arrogante e cônscio de sua importância, um profissional que brilha nos tribunais. Um dia fica doente. Tolstói não diagnostica a doença e isso não tem importância, mas é certo que vai matá-lo. À medida que se vai lendo, percebemos muitas coisas que são importantes para a compreensão do fenômeno da doença e da condição humana. Primeiro, a reação do próprio Ivan Ilitch é curiosa. Ele, como acontece com as pessoas que ficam gravemente doentes, precisa encontrar uma causa, um bode expiatório, algo em que possa botar a culpa de seu mal. E a culpa é que ele bateu em uma mesa com o abdômen, e a partir daí começou a ter problemas e desenvolveu uma doença.”
Fonte:Revista Problemas Brasileiros 395 set/out 2009