• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 21/02/2016 - 23:34h

Até quando vamos aguentar tudo isso calados?

Por José Herval Sampaio Júnior

O título sugestivo desse texto corresponde a nossa indignação pessoal – com todo respeito do perdão da palavra como se diz – com a “cara de pau” da classe política, de um modo geral, em aprovar no último dia 18 de fevereiro a Emenda Constitucional 91, trazida em primeira mão em nosso site (Congresso cria janela temporária para desfiliação sem risco de perda do mandato).

Para nós, é mais um despautério, dentro de uma realidade que já é difícil de se explicar para quem não conhece a triste realidade de nossa politicagem e tenho falado continuamente sobre esse tema aqui no site/portal novoeleitoral.com (Triste realidade da politicagem brasileira: uma verdade que precisa ser enfrentada com rigor e firmezaTriste realidade da politicagem brasileira II: uma verdade que precisa ser enfrentada com rigor e firmeza).

Em um primeiro momento até reconhecemos ser um avanço o disciplinamento do tema da fidelidade partidária na minirreforma eleitoral (Minirreforma eleitoral: as mudanças na Lei das Eleições), pois como antes só tínhamos a temática tratada por imposição do TSE, sendo discutível até mesmo sua legitimidade, o fato de se alçar a via da legislação, é por si só, um ponto positivo, contudo não achávamos que além da janela prevista em lei, para nós um verdadeiro portão de Grasykull[1], tivéssemos agora seu alargamento e o pior, por emenda constitucional e sem qualquer cerimônia.

O tratamento então da questão na via legislativa é interessante, pois de certo modo teremos por um período determinado o impedimento formal de que haja mudança de partido, sem que ocorra uma das situações previstas em lei, consideradas como justa causa para a mudança sem consequência para o político que assim age, justamente porque se enquadra em um caso que a lei considera razoável para não burlar a regra geral que deveria ser a fidelidade partidária (Sobre (in) fidelidade partidáriaA justa causa no processo de perda de mandato por infidelidade partidária: Parte IIA justa causa no processo de perda de mandato por infidelidade partidária: introdução)

Afirmamos deveria porque os políticos foram muito inteligentes quando dispuseram esse tema na reforma que não reforma e muito mais deforma o já o combalido sistema político brasileiro e aparentemente nos deu a impressão de que a regra geral será a fidelidade partidária, algo mais do que natural quando se analisa teoricamente a função de um partido político.

A filiação partidária é requisito constitucional para que alguém possa ser candidato, logo a ideia é justamente fortalecer a agremiação partidária e aquele que se filia tem que estar antenado com os valores defendidos pelo partido e totalmente atrelados ao conteúdo programático ali disposto, bem como exercer o seu mandato para concretização dos ideais ali estabelecidos.

Será que isso acontece?

Já tratei desse tema aqui: Ainda temos a direita e esquerda no Brasil?

Portanto, em que pese o avanço do partido político em termos normativos e em especial o tratamento recebido pela nossa Constituição, a pragmática política vem o dilacerando dia a dia e mesmo quando se cria novos partidos como recentemente aconteceu , entrando três novos partidos, a cultura de uso do mesmo para fins pessoais é o que ainda prevalece (Partidos Políticos do BrasilColuna Cidadania – Estado Democrático de Direito e Partidos Políticos). Aqui colocar matéria sobre os partidos e aquela nossa coluna sobre o tema

Para se ter uma ideia do afirmado acima e totalmente em encontro ao que chamei recentemente em palestra sobre o tema, de mais uma manobra dos políticos em desfavor do incremento moral que se espera em nossa política, foi a filiação de 13 deputados ao novel PMB (Partido da Mulher Brasileira), pois sinceramente custa-me crer que tais parlamentares estão totalmente afinados com as diretrizes ideológicas desse partido.

Sem querer prejulgar e muito menos generalizar, como sempre tenho cautela nesse sentido, o que mais uma vez deve ter acontecido, como regra geral de nossas práticas dentro do que chamo de politicagem, foi o ajuntamento dessas pessoas em uma agremiação partidária para atender os seus interesses pessoais de se manter no poder.

E será que alguém tem dúvida de que o grande objetivo da PEC 91 não é esse?

Dessa vez os políticos exageram e sequer tiveram o cuidado de disfarçar, pois como a PEC originária que trata disso ainda não completou o devido processo legal legislativo, eles correram como sempre quando é para atender esse tipo de interesse e mudaram mais uma vez a Constituição do país, pasmem, repito a Constituição do país para atender interesse pontual e transitório.

Já são 91 emendas em nossa Constituição, ou seja, se mexe na mesma ao bel prazer de interesses pessoais, muitas vezes não republicanos e ninguém diz nada. Tudo nesse país é normal e tanto é verdade que recentemente tivemos uma carta aberta de um estrangeiro que mora no país condenando essa nossa prática de ter jeito para tudo, o velho jeitinho brasileiro (VEJA ESSE INTERESSANTE ARTIGO: UMA CARTA ABERTA AO BRASIL).

E alguém tem coragem de discordar desta dura realidade?

Eu sinceramente não tenho e pelo contrário, mesmo me indignando há algum tempo nesse site em textos e vídeos, bem como em diversos cursos e palestras Brasil afora, fico muito envergonhado com tudo isso, pois as vezes me pergunto até aonde vai a coragem de nossos políticos em criarem atos normativos como o ora combatido para manter a estrutura do poder pelo poder.

E agora a nova maneira de fazer tudo isso é sem desfaçatez, ou seja, os interesses pessoais são postos de modo muito claro, mesmo o país atravessando a maior crise política e ética de sua história.

E porque tudo isso é feito?

Porque os políticos sabem que nós sempre aceitamos calados, daí a pergunta até quando ficaremos vendo tudo isso apáticos?

Tá na hora povo brasileiro, na realidade já estamos atrasados há muito tempo, de darmos um não a tudo isso e a única maneira é no voto consciente (Voto consciente. Cidadania concretizada em versos), pois essa é maior arma que temos e infelizmente não a usamos, contudo com as eleições se aproximando temos a oportunidade de mudarmos a cara de nossos políticos, votando em pessoas comprometidas com o interesse coletivo, daí a importância de que não querermos nada em troca de nossos votos.

O que queremos é tão somente compromisso do homem público com o seu povo, coisa que não se vê há algum tempo na maioria dos políticos brasileiros.

Essa PEC 91 é literalmente mais uma tapa na nossa cara e apesar de já termos apanhado muito e não termos ainda feito nada, tenho a esperança de darmos a volta por cima e nas urnas socarmos de volta com muita força na cara de pau desses políticos que ainda insistem em roubar o dinheiro público desse povo tão sofrido e carente, que também é culpado (A mudança só virá de fato quando nós nos tocarmos da origem de tudo e resolvermos fazer a nossa parte!;Será que o Brasil merece os políticos que têm?), porém não merece continuar nesse sofrimento tão intenso e que coloca em xeque as gerações futuras de nossa pátria amada.

Que as eleições de 2016 sejam o início de uma nova era em nossa política ainda é a esperança desse cidadão indignado com tudo isso e que sempre estará aqui denunciando esse tipo de manobra e contando com a conscientização de pelo menos um leitor, pois a cada novo eleitor consciente teremos a construção de um novo país.

E por fim que Deus nos ajude, pois não acredito que Deus esteja do lado de políticos ladrões!

José Herval Sampaio Júnior é Mestre e Doutorando em Direito Constitucional. Professor de Processo Civil e Direito Eleitoral. Membro da ANNEP, IBDP e ABDPC. Juiz de Direito.

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Categoria(s): Blog

Comentários

  1. João Claudio diz:

    Ou alguém com ”aquilo roxo” assume o poder e muda tudo, de A a Z, ou o país entrará em parafuso sem direito a retorno.

    Quanto o real motivo da mudança de políticos do PMDB para o PMB, é a averba do Fundo Partidário. A verba que o PMDB recebe, por maior que seja, é divida entre muitos, enquanto que no PMB é dividida, por enquanto, entre poucos. Dai, a revoada.

    Repito: os políticos brasileiros transformaram a politica em um grande balcão de negócios. Do vereador, ao presidente da republica. Sem exceções.

    Como bem falou recentemente o ministro Gilmar Mendes, ”a politica brasileira é surreal”.

    Eu vou mais além: virou uma esculhambação generalizada. Presidente da Câmara e do Senado, juntos, somam 9 inquéritos. A presidente atolada no TSE e rejeitada por mais de 90% da população. O ex presidente que dizia estar ao lado dos pobres e contra as elites, juntou-se as elites, tornou-se milionário, foi denunciado, está todo enrolado, e já sabe qual o caminho para se chegar a PF, de olhos fechados. O ex presidente Collor, Deus nos acuda, nunca deixou de fazer maracutaias. Profissionalizou-se no ”ramo”. A ex ”quenga” do ex presidente FHC petralhou e resolveu jogar merda no ventilador, no sentido de desviar as atenções das maracutaias do também ex presidente Mula. Enfim, entre os atingidos pelos tiros de canhões, escapa o STF. Esse, ainda não foi investigado, e se for, será pelo presidente do Senado, que está mais sujo que pau de galinheiro, ou, poleiro de pato com caganeira. Enfim, a classe politica ta toda dominada, salvo RA-RI-SSI-MAS exceções.

    Enquanto isso, a fama do Brasil no exterior, ó, é de envergonhar ate quem nunca sentiu vergonha.

    Envergonhem-se também.

    Dia 13 de março vem ai. Junte-se aos que sentem vergonha e bote pra correr todos os políticos FDP desta fuzarca.

    • Inácio Augusto de Almeida diz:

      NÃO ADIANTA PROTESTAR COMO UM LEÃO E DEPOIS VOTAR COMO UM JUMENTO.
      PROTESTAR COMO UM LEÃO É CLAMAR CONTRA A CORRUPÇÃO.
      VOTAR COMO UM JUMENTO É VOTAR EM CORRUPTO.
      /////
      O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RN JULGARÁ SAL GROSSO ANTES DAS ELEIÇÕES?
      SE SAL GROSSO PRESCREVER COMO DIZER AOS MEUS FILHOS QUE O CRIME NÃO COMPENSA?

  2. Inácio Augusto de Almeida diz:

    “Até quando vamos aguentar tudo isso calados?
    Esta é a pergunta que nos faz um juiz de direito.
    Eu pergunto:
    ATÉ QUANDO, MERITÍSSIMO JUIZ HERVAL SAMPAIO, IREMOS AGUENTAR CALADOS O NÃO JULGAMENTO DOS RECURSOS SAL GROSSO QUE MANTÉM NO EXERCÍCIO DE CARGO ELETIVO POLÍTICOS CONDENADOS EM PRIMEIRA INSTÂNCIA POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA? ATÉ QUANDO, DOUTOR?
    O Juiz Herval Sampaio encerra o seu artigo desta maneira:
    “E por fim que Deus nos ajude, pois não acredito que Deus esteja do lado de políticos ladrões!”
    EU TAMBÉM NÃO ACREDITO QUE DEUS ESTEJA DO LADO DE POLÍTICOS LADRÕES.
    Infelizmente tenho visto tanta fotografia de políticos ladrões ao lado de altas autoridades da Igreja que me lembro de Madre Teresa de Calcutá sentada à beira de um rio ao lado do seu confessor e lhe perguntando a razão de tanta injustiça, tanta desigualdade.
    Daí eu sempre perguntar a Deus POR QUE TANTA INJUSTIÇA, TANTA IMPUNIDADE.
    Os meus parabéns ao Dr. Herval Sampaio pela coragem de escrever este artigo.
    /////
    O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RN JULGARÁ SAL GROSSO ANTES DAS ELEIÇÕES?
    SE SAL GROSSO PRESCREVER COMO DIZER AOS MEUS FILHOS QUE O CRIME NÃO COMPENSA?

  3. François Silvestre diz:

    Desabafo pertinente e necessário. Mas não poderá haver voto consciente se a consciência for apenas do eleitor. No quadro atual, como o próprio autor descreve, não haverá candidato consciente, e se houver, não terá chance, pois as condições objetivas na nossa “ordem legal” focam para a continuação do quadro criticado. Só vejo uma saída: Uma Constituinte Originária e Exclusiva. Originária, por não dever vassalagem jurídica à “ordem” atual. Exclusiva, pois deverá ser dissolvida após a promulgação da Carta. E ainda, para sua formação, serem permitidas candidaturas avulsas, com representação dos diversos segmentos sociais, independentemente de filiações ou profissionalismo partidário. Sem prejuízo das candidaturas partidárias. Parabéns pelo texto.

  4. João Claudio diz:

    Concordo com o François. Entretanto, existe algum politico brasileiro com pretensões de mudar o regime atual? Acabar com a farra, com a fe$ta, com as mordomias, com a gastança do dinheiro publico sem dar satisfações a A ou B, acabar com os cartões corporativos? Embora tudo isso seja a maior vergonha dos país, não existe nenhum agra$iado com com o paraí$o, que peça para ser transferido para o purgatório, ou inferno. Refiro-me ao purgatório e ao inferno, no sentido de que, a partir do momento que toda essa imoralidade, imundice, cretinice e esculhambação acabar – leia-se o fim da farra com dinheiro dos contribuintes – , os politico brasileiros passarão a se sentir como se estivessem nos quintos dos infernos. Dai, nenhum deles querer mudar o $i$tema que tanto os favore$em.

    Outros agravantes: 99,9999% do povo ainda dorme em ”berço esplendido”, dizendo que o Brasil é o melhor país do mundo e esperando dinheiro cair do Céu.

    Para que se faça essas mudanças, caro François, o Brasil tem que necessariamente sair da condição de um país avacalhado, e passar a ser um país sério.

    Infelizmente o país nunca nunca foi sério, não é e dificilmente será. Os políticos e 99,99999% da população insistem em não querer. Dai……! Para eles, se essa merda melhorar estraga.

    O Brasil é mais um exemplo de que, pau que nasce torto morre torto.

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