O espetáculo teatral que melhor simboliza o “Mossoró Cidade Junina (MCJ)”, denominado de “Chuva de bala no país de Mossoró”, está ameaçado de não ter continuidade nos próximos anos. O motivo parece até uma bordão comum em toda apresentação de quadrilha junina: “É mentira!!” Mas é verdade, sim.
Reproduziremos a seguir, parte do que ocorre por trás da cortina dessa espécie de opera sertaneja.
Existe um impasse que se arrasta desde o ano passado, que compromete a continuidade do evento. Seu enredo mistura má-fé com falta de reconhecimento ao valor imaterial e intelectual da obra. Suas apresentações sempre terminam sob aplausos.
A Prefeitura de Mossoró, responsável pela produção da peça cênica, esquiva-se de fazer o elementar e legal em relação ao autor do texto, o jornalista, escritor e professor dos quadros da Universidade Federal do RN (UFRN), Tarcísio Gurgel. Simplesmente não lhe paga direitos autorais, valores modestíssimos, num comparativo com milhões investidos anualmente na contratação de cantores.
No ano passado, já lhe dera um calote. E não foi à falta de cobrança pessoal e direta do próprio autor, que magnetiza milhares de pessoas todos os anos no adro da Capela de São Vicente, narrando um épico do povo de Mossoró ocorrido em 13 de junho de 1927, a invasão do bando do cangaceiro Lampião à cidade.
Enfim, não houve pagamento ou justificativa ao alheamento.
Merda
Esquecido e ignorado, Tarcísio chegou a enviar uma intimação extrajudicial à municipalidade, lembrando-lhe a autoria e o débito correspondente, bem como a importância da marca em discussão. Em contraposição, de novo teve o silêncio como resposta.
De tanto pressionar o Governo Municipal, Tarcísio Gurgel finalmente passou a ser ouvido, mas não escutado. A nova fase dessa relação é uma dolorosa chicana burocrática que lhe obriga a apresentar um calhamaço de documentos para provar – na prática – autoria do Chuva de Bala.
Não satisfeita, a Prefeitura ganha tempo e testa a paciência do autor. Mais e mais papeis (como uma cópia patenteada do seu roteiro) são exigidos, sob a promessa de que um dia receberá o pagamento.
Quem assina embaixo? O prefeito Francisco José Júnior (PSD)?
No caso, o mossoroense Tarcísio Gurgel não tem uma garantia mínima de recebimento do que lhe é devido, mesmo aquela máxima dos velhacos na cultura nordestina: “Devo, não nego; pago quando puder!”
Mais um pouco, ele terá de ressuscitar os cangaceiros Jararaca e Colchete como testemunhas ou cobradores. Armados até os dentes, claro. Ou seguir suportando o deboche com a fleuma que um de seus personagens não teria: padre Mota.
Na linguagem teatral, quando se pretende desejar boa sorte a um ator à entrada em cena, utiliza-se uma expressão de origem francesa: “Mérde” (merda).
Tarcísio Gurgel vai precisar.
Já o prefeito se ouvir o mesmo coro, não deve confundi-lo como incentivo. Será puro substantivo arremessado à sua face.
Merda!!
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Rapaz, uma vergonha isso. Acho que a melhor e mais rápida solução para o professor seria buscar a tutela jurisdicional mesmo. Se fosse o mesmo, ou seu advogado, seria minha sujestão a ele, caso contrario, vai tomar um chá de cadeira muito maior.
Mas é interessante e impressionante como se facilita a contratação de bandas nada culturais para um projeto que se diz cultural junino (MCJ), despejando-se milhões que só servem para enriquecimento de alguns e emburrecimento de muitos, enquanto que para o cumprimento de dever legal quanto a maior manifestação cultural e histórica do município é “pedalada” (para usar a palavra da moda), “dedo nas ventas”.
Isso é uma vergonha!!!
Acho que o próximo prefeito vai receber cobrança de contas atrasadas em todas as instâncias. Destá.