Por Jânio Rêgo
Meia-Lua é o nome do cachorro que me acompanha. Um viralata de pelo multicor com predominância de um ocre que lembra o da casaca-de-couro, a cabeça larga, orelhas curtas e inquietas.
Quando saà de casa ele havia acompanhado Petronilo para a apanha de castanha de caju nas bordas do riacho Mundo Novo mas meus gritos e assovios o trouxeram de volta. Ele gosta de mim e da comida que lhe dou, sem regras ou parcimônia, justo troco pela companhia que me faz.
O Baixio para onde vou fica ao norte da Catingueira. É certamente a propriedade maior e mais famosa da região, um dos poucos latifúndios (produtivo) de Doutor Severiano (RN), municÃpio traçado por sÃtios e pequenas fazendas de gado grande e miúdo.
O Baixio de Costinha são novecentos hectares distribuÃdos por serras cujas águas confluem para o vale fértil desse riacho que deságua no rio do Encanto,um afluente do Apodi/Mossoró.
Vou visitar meu amigo Chico, gerente da centenária propriedade rural que pertenceu a um dos homens mais ricos e operosos do Rio Grande do Norte, Costinha Fernandes, agricultor, exportador, um dos pioneiros da indústria moderna deste Estado.
Em 1964 Costinha Fernandes era um velho senil deitado numa cama na sua casa em Natal. Albertina MelquÃades (viúva de Zé MelquÃades, da Catingueira) o viu assim, metido em um camisolão hospitalar, as pernas encolhidas, abobalhado, olhando o teto. Calou-se a voz de mando, desmilinguiu-se a elegância, atrofiou-se o poder daquele que possuiu riqueza sem par na sua época.
No Baixio há resquÃcios do fausto e operosidade de Costinha, entre eles as velhas engrenagens de ferro fabricadas e trazidas da Inglaterra para o engenho de cana-de-açúcar daquele vale ainda fertilÃsimo, uma verdadeira relÃquia ecológica e ambiental do RN.
Jânio Rêgo é jornalista
Que bom rever Jânio. Mesmo que só pela bela crônica.
Obrigado,amigo.grande abraço