Por Cláudia Santa Rosa
A cada ano letivo trabalho para que as coisas aconteçam diferentes pelo menos numa instituição de ensino da rede estatal. Entre erros e acertos, confesso que não tem sido fácil contrapor a cultura que teima em apequenar a escola pública, impondo aos alunos infraestrutura e processos de ensino e aprendizagem que os inferiorizam.
Não seria menos grave se os problemas que comprometem a qualidade social da escola pública ocorressem apenas na unidade onde eu trabalho. Infelizmente alguns parecem crônicos e, em maior ou menor intensidade, estão espalhados pelos quatro cantos dos municípios e estados brasileiros. Fosse esse quadro tão diferente, os indicadores não atestariam o insucesso da nossa educação.
Um conjunto de trapalhadas e desacertos históricos da gestão pública contribui para uma espécie de código – não escrito – que, excetuando-se as federais, distingue as escolas estatais daquelas da rede privada ou as escolas que funcionam mal daquelas que funcionam com regularidade. Não é raro se ouvir referências pejorativas, do tipo: “isso é coisa de escola pública.” De fato, nas últimas décadas, tornaram-se coisas de escola pública:
a) os resultados pífios da maioria, quando são divulgados exames e índices oficiais que revelam o baixo desempenho dos alunos em relação às aprendizagens;
b) a definição dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental sem considerar as competências e habilidades na condução do processo de alfabetização e letramento;
c) a falta de gestão do seu próprio orçamento, diferente de como ocorre nas escolas particulares. Cada unidade deveria receber os recursos do investimento público por aluno e executá-los de acordo com o seu projeto;
d) a ingerência administrativa e pedagógica de órgãos intermediários e central, que executam programas e projetos, em detrimento da gestão autônoma da escola, do seu projeto pedagógico e do protagonismo da sua equipe;
e) a escolha técnica do gestor da escola, que deveria se dar mediante concurso público, ceder lugar à escolha pelo voto da comunidade escolar, bastando ser professor ou especialista do quadro da escola, como se esse critério fosse determinante para garantir a gestão democrática;
f) a realização de concursos públicos de contratação aleatória de professores e outros profissionais, sem estabelecer vagas por escolas e sem a inclusão de etapa final a ser conduzida por cada unidade, contemplando entrevista, checagem de referências e prova prática;
g) a presença e permanência de “profissional” que adoece para a escola pública, enquanto “vende saúde” para a instituição particular, o mesmo que escolhe o horário de trabalho na escola pública para realizar todo tipo de demanda pessoal ou profissional de outros vínculos, que alinhava processos, subtrai os direitos dos alunos e gera dificuldades ao funcionamento regular da escola, sem nenhuma cerimônia e observação à ética profissional;
h) os gestores públicos se inspirarem na média salarial dos professores das escolas particulares, diante dos vencimentos aviltantes que afastam os mais talentosos do ingresso no magistério público;
i) a constante luta dos professores por um plano de carreira decente, que os valorize enquanto profissionais e ofereça as condições dignas para seguirem no magistério;
j) a ausência de planejamento e/ou perenidade de uma burocracia grotesca que impede reformas e serviços de manutenção das instalações físicas dos prédios no período de férias e recesso escolar;
k) a ausência e/ou falta de manutenção/atualização da tecnologia, dos equipamentos e mobiliários fundamentais para a escola cumprir a sua função social;
l) o início do ano letivo ocorrer somente no mês de março e acabar depois do Natal, isso quando a falta de diálogo entre professores e governo não retarda mais ainda;
m) a imposição de um calendário escolar padronizado para todas as escolas de um mesmo município ou estado, desconsiderando as especificidades de cada unidade e a autonomia preconizada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação;
n) a determinação de sábado letivo mensal para todas as escolas, quando é de conhecimento de todos que em muitas instituições esse dia não funciona;
o) a prática de iniciar o ano letivo sem o quadro de servidores completo, permanência dessas carências por semanas, meses e até mesmo por todo ano, além de, por vezes, não ocorrerem substituições quando há vacâncias durante o percurso;
p) a ausência de agenda mensal de reuniões para planejamento e avaliação coletiva dos processos de ensino e aprendizagem e da gestão da escola em geral, bem como para a realização de uma consistente política de formação continuada dos profissionais;
q) os professores e parte dos especialistas trabalharem na escola, pelo menos de forma presencial, somente dois ou três dias para além dos 200 dias letivos/ano, dificultando a possibilidade de outras ações de relevâncias pedagógicas.
Caso houvesse mais espaço é possível que o abecedário fosse insuficiente para aduzir todas as “coisas de escola pública”, dou-me por satisfeita, especialmente se para alguns interessar o debate e, sobretudo, a tarefa coletiva de refazer tal cultura.
Cláudia Santa Rosa é educadora, escreve a convite do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE). Texto originalmente veiculado no Diário de Natal on line.
FALCONI
Já que vocês vão NORTEAR a administração da prefeita Cláudia Regina, que pelo menos façam ela ler este brilhante artigo da educadora Cláudia Santa Rosa.
Vereadores de Mossoró leiam este artigo e parem de tentar empregar apadrinhados na rede de ensino municipal.
Solução para o ensino público existe.
O que não existe é VONTADE POLÍTICA.
Até porque interessa aos que estão no poder manter o povo na mais total ignorância.
Esquecem-se os que assim procedem que estão praticando um processo autofágico.
Já começa a faltar no Brasil mão de obra qualificada em diversos setores.
Isto se reflete na economia e, conseqüentemente, na arrecadação de impostos.
E como menos impostos arrecadados…
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Por falar em FALCONI, quanto esta consultoria está custando ao povo de Mossoró?
Que todos saibam que na área da saúde está faltando medicamentos de distribuição gratuita e fita para leitura do nível glicêmico.
Que todos saibam da prepotência das funcionárias responsáveis pelo setor de distribuição destes medicamentos no trato com os pagadores de impostos, a quem dispensam tratamento inaceitável por mendigos.
Não entendo como a prefeitura de Mossoró deixa faltar medicamentos de distribuição gratuita, Afinal os recursos foram repassados pelo governo federal.
Menos compreensível ainda é o comportamento dos vereadores que não levantam a voz para protestar contra este descalabro que coloca em risco a vida de muitos doentes.
Que se acabe com a nomeação de apadrinhadas de vereadores.
Que se faça concurso público para o preenchimento destes cargos e que regularmente sejam feitos cursos de reciclagem com este pessoal, com ênfase para o relacionamento pessoal.
O que não dá para se continuar aceitando é uma atendente de dentista dar as costas, sair andando e continuar respondendo a uma pergunta de um usuário do SUS, como aconteceu comigo na UPA Chico Porto. E feita a denúncia nada acontecer e esta atendente continuar procedendo da mesma maneira numa afronta ao direito de cidadania.
Certamente deve ser uma apadrinhada de algum vereador.
E como nada aconteceu com este despreparada funcionária a coisa se alastrou e até a simples funcionária que distribui os medicamentos também responde de forma autoridade ao cidadão que está precisando do medicamento que volte em janeiro para ver se tem.
Atentem para a expressão usada:
VOLTE EM JANEIRO PARA VER SE TEM.
Foi este desrespeito ao povo que levou os franceses a fazer o que fizeram com Luís XVI e Maria Antonieta.
Ótimo texto de Cláudia Santa Rosa. O que ela disse é “tudo de escola pública”. Parecia falar da escola na qual trabalho. Enquanto assim for, nada muda. Ficamos estacionados.
Me sinto exatamente igual…
Sem dúvida o abecedário não comportaria os apontamentos relativos a educação, gostaria ainda de acrescentar que ocorreu uma evolução muito significativa no aporte de recursos que financiam a educação, mas não é bem utilizada, a comunidade escolar não participa das decisões democráticas para a gestão desses recursos. Ainda precisamos de tempo talvez de décadas para uma mudança efetiva na nossa educação, o preparo dos profissionais também é um problema. Bom, são muitas as questões o debate deve ser constante. Parabéns pela lucidez ao fomentar o debate sobre a educação.
Escqueceu de comentar que salas de aulas super lotadas, aprovação automatica do 1 ao 3 ano e o indice de reprovação no 4 ano é altissimo, falta de incentivo para que os professores façam cursos, pois se vão, ninguem o substiui em sala, e quanto aos sabados, nem todas as escolas não as cumprem, várias escolas abrem suas portas aos sábados com aulas ou atividades diferenciadas para que o aluno quebre a sua rotina, de sala….