Por Odemirton Filho
Dia desses voltei ao passado. Lá estando, reencontrei-me com um velho amigo, que tanto cativou meus sonhos. Travamos um diálogo, no qual o passado quis saber a quantas andava o meu presente.
Envergonhei-me. Quis confessar que fraquejei no presente. Alguns daqueles sonhos acalentados não foram concretizados. Não por falta de oportunidade, mas, decerto, por ausência de atitude de minha parte.
O passado, olhou-me desconfiado, duvidando de minhas falhas, porquanto eu era imerso em expectativas. Sonhos juvenis, que se diga, como todo mundo tem.
De toda sorte, eu quis me explicar.
Disse-lhe que o presente não é tão fácil como ele imagina. A realidade da vida nos faz redirecionar os objetivos, haja vista as dificuldades cotidianas que enfrentamos.
Muito do que planejamos não se realiza. Às vezes, a vida pessoal é marcada por arroubos. Os sentimentos substituem a razão, o amor cede lugar à paixão. Fazemos coisas que desvirtuam os nossos propósitos.
Como somos ousados e imaturos agimos com arroubo, adotando atitudes que nunca imaginávamos fazer. Não esqueça que somos humanos, falíveis.
No lado profissional o mercado de trabalho não é dos mais fáceis. A falta de oportunidades e a instabilidade político-econômica do nosso país são fatores condicionantes para que possamos decidir o que vamos fazer.
Nem sempre fazemos o que queremos, tendo em vista que o presente precisa ser vivido, mesmo que indo de encontro ao que planejamos no passado.
Mas ele, o passado, continuava a me olhar de forma enviesada. Não acreditava nesses descaminhos. Indagava-me o porquê de não ter seguido o que tinha traçado.
Disse-me que o presente deve ser consequência do que plantamos lá atrás. Se a colheita não saiu de modo como planejamos, é porque o jardim dos nossos sonhos não foi regado com atitudes e, portanto, somos culpados de nossos erros e fracassos.
Não discordei. Achei até que o passado tinha razão. Fiquei deveras sentido por tê-lo decepcionado. Pensei em dizer que acreditava em Deus e nos seus propósitos. Porém, calei-me.
Ao final do nosso encontro, pois tinha que voltar ao presente, o passado me disse para resgatar meus sonhos, concretizando aquilo que almejei em sua presença.
Abraçou-me.
Mandou-me de volta ao presente, desejando-me um futuro que, realmente, refletisse aquilo que sonhei.
Fiquei a pensar e me veio à mente a canção do saudoso Belchior: “No presente a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais”.
Odemirton Filho é professor e oficial de Justiça
Excelente!