Por Sílvio Meira
Uma das notícias da semana, que os jornais “da TV” não deram [pelo menos eu não vi, porque não vejo jornais “na TV”] é que há muito menos gente vendo jornais “na TV”. E há quem comemore um prematuro fim dos jornais “da TV”, como se isso fosse consequência de um viés editorial conservador das TVs e seus “jornais” no brasil.
Mas não é. A TV –como um todo- é uma das instituições afetadas pelo fim do parêntesis de gutenberg, e isso é um fenômeno mundial.
O fenômeno vem de antes da internet, causado pelo aumento da penetração da TV a cabo, que aumentou em ordens de magnitude o universo de canais e escolhas. Se você olhar para notícias e TV, mais recentemente e em qualquer lugar, vai ver a queda de audiência de TV se acelerar ainda mais, mesmo em anos eleitorais, onde o debate político deveria fazer o contrário.
E o que a internet tem a ver com isso? tudo. No mercado americano, toda a mídia clássica cai, e muito, com os jornais reduzidos a 2/3 de seu público e a audiência dos jornais noturnos de TV a menos da metade…
E o que a internet –em especial a rede móvel– tem a ver com isso? Se trata de um fenômeno global, a queda dos noticiários dos jornais, rádio e TV. Tem muito boa correlação com o aumento radical das notícias nos dispositivos móveis.
Daí… o que a tabela abaixo mostra, sobre a queda de audiência dos telejornais no brasil, é fato indiscutível. E não tem absolutamente nada a ver com a qualidade e viés editorial dos jornais e suas empresas.
É simplesmente um efeito colateral da entrada de uma nova infraestrutura, serviços e aplicações que têm hoje, no brasil, 70% de quem nasceu depois de 1985 e tem 18 anos ou mais com um smartphone e presente, na rede móvel, sete horas por dia, em média. Se isso não mudasse o cenário da mídia, em qualquer país, o que mudaria?…
A audiência do que ainda é o principal jornal da TV brasileira, na década passada, está abaixo. O “nacional” caiu bem menos do que as TVs americanas [e seus noticiários] e nem isso é uma boa notícia para a TV brasileira ou o brasil; quer dizer, simplesmente, que estamos atrasados, que a penetração de redes fixas e móveis, no Brasil, ainda está muito longe do que deveria ser, que nossa banda larga daqui não é tão larga assim e que nosso poder aquisitivo médio ainda está longe de deixar a TV pra lá.
Olhe que os dados dos dois gráficos anteriores, do ibope, são apenas da grande são paulo, a maior, mais rica e mais bem conectada região metropolitana do brasil.
Ainda há um grande país ao redor, mais de oito milhões de quilômetros quadrados dele, pra ter rede, banda e cobertura móvel como São Paulo. A TV e seus jornais, queiramos ou não, vão levar um tempo pra se tornar irrelevantes em seu formato atual. Mas, por outro lado, isso é só questão de tempo… pouco, talvez. Só depende de rede, fixa e móvel, cobertura, banda, renda e… educação.
Só depende da gente construir, bem mais rápido, o país que deveríamos estar construindo há tempos.
Sílvio Meira é professor titular de engenharia de software na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e presidente do conselho do Porto Digital de Pernambuco
Sou uma que adoraria ver A Casa Grande se demolir
DOIS Francy!!!