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domingo - 10/04/2022 - 06:52h

Mais um 10 de Abril na cacunda

Por Marcos Ferreira

Pensei em gazear este domingo, em não dar as caras. Seria, além de satisfatório para alguns leitores, ainda que não para todos, algo bastante plausível da minha parte. Afinal de contas, embora isto não interesse a ninguém, muito menos à distinta e respeitável categoria dos colunistas sociais, hoje é o dia dos meus anos. Exatamente. É mais um 10 de abril na minha cacunda, uma data por inteiro obscura e desimportante no calendário sociocultural deste município e estado elefantino.velas, aniversário, soprando velas,

Não maldigo o esquecimento dos colunistas. Não sou mesmo colunável. Aqui, por exemplo, ao contrário do tratamento dispensado a outros poetas e prosadores, realizam uma feira de livros há uns vinte anos e nunquinha me convidaram. Decerto porque não me consideram escritor, ou não conseguem me perdoar por eu ter sido premiado num bom número de concursos literários de âmbito nacional.

Entendo que isto soa imodesto, presunçoso e tudo o mais. No entanto, doa a quem doer, ache ruim quem quiser, não estou contando nenhuma lorota, nem expondo méritos e conquistas que não obtive. Por muito menos gregos e troianos, borra-papéis e literômanos são paparicados e ovacionados na terra de Santa Luzia. Há quase duas décadas, pois, salvo exceções, certo comerciante de livros e egos posa de abnegado e amante da arte literária. Competência, seja dito, ele tem de sobra.

O rapaz é articulado, arregimentou as igrejinhas e panelinhas e há muito goza da boa reputação que construiu junto a patrocinadores, governos municipal e estadual. É trabalhador, sabe captar os recursos entre o cipoal burocrático. Tem lucro no negócio, nada mais justo, porém afeta total desprendimento, abnegação, amor aos livros, anseio puro e simples de instigar leitores e autores locais.

Bem, agora é tarde para o referido convite, senhor dono da feira. Prossiga com o seu boicote ao meu nome, continue ignorando a minha existência e desempenho enquanto literato neste município. Hoje, para o seu incômodo, eu lhe dou de presente esta pequenina bronca com um enorme atraso. A mim cogitei presentear com outro soneto. Todavia, pensando melhor, não vou “colecionar mais um soneto”. Não me animo a metrificar nem rimar, não obstante a simetria destes parágrafos.

Acho que esta crônica, com alguns traços de acerto de contas, e ferina que nem faca de dois gumes, já equivale a um presente para mim nesta data que um dia haverá de ser lembrada e referida. Isso, contudo, só bem depois que eu vestir o meu ordinário traje de pínus e ir estudar a geologia do São Sebastião. Pois não espero, sobretudo das mãos desses feirantes de livros, receber flores em vida.

“Entre o mofo, a poeira, o cansaço e a alegria”, como escrevi num alexandrino em homenagem a Raimundo Soares de Brito e a Vingt-un Rosado, quando ainda eram vivos, beberico uma caneca do meu café escoteiro. Não abro mão da rubiácea. Esta é uma manhã de pardais, rolinhas, bem-te-vis e céu azul. Há pouco também tomei meus remedinhos controlados, embora recentemente um atencioso leitor me tenha sugerido diminuir a posologia. Meu psiquiatra, por enquanto, discorda.

Estou mais velho, sim, e menos tolerante com determinadas sabotagens. Ao contrário de antigamente, tempo que parece que foi ontem, não tenho mais saco nem estômago para seguir engolindo sapos. Isto não quer dizer, porém, que me tornei um bárbaro, um tipo incivil, misantropo. Não. Nem oito nem oitenta. Reconheço, entretanto, que faço uso da minha sociabilidade com maior parcimônia.

Sei que alguns amigos (a esta hora não são muitos) vão me telefonar após lerem esta crônica ranheta a fim de me oferecer os parabéns por meu natalício. Destaco que pouca gente sabe deste evento galáctico. Minha data de nascença, eu que vim à luz no extinto Hospital da Caridade, não consta nas redes sociais. Serão (os parabéns) todos bem-vindos, agradecerei a cada um honesta e alegremente. Convidá-los-ei para “um café qualquer dia” e nenhum se sentirá menos querido.

No mais, tirando a hipertensão, a bipolaridade, os estados maníaco-depressivos, o arsenal de antipsicóticos e meus atuais oitenta quilos (antes eram setenta), estou ótimo, esbanjando saúde e simpatia. Não sei por que não me deram, nessas votações que ocorreram recentemente, o prêmio de “homem mais simpático do ano”. É assim que me sinto sempre que se aproxima a data do meu aniversário.

De repente, como num transe divino, meu espírito converge para o bom humor e a concórdia. Sou tomado por súbita e excepcional empatia para com os meus semelhantes, em particular os intelectuais desta província, os homens de imprensa, de letras e da cultura. Essa fauna de alinhados e nobres senhoras e senhores me suscita uma enorme admiração. Hoje, se eu pudesse, a cada um deles presentearia com um panegírico entusiástico, quiçá um impecável soneto em decassílabos heroicos.

Vida longa aos nossos intelectuais e leitores!

Sinto que devo, melhor avaliando, conceber uma obra de grande estatura em homenagem à minha querida terra e conterrâneos, adotivos e os forasteiros. Mossoró e seus habitantes mais do que merecem um presente dessa magnitude. Afinal de contas, estufando o peito de orgulho, admito que isto aqui é um país. Trata-se, no mínimo, da Capital Brasileira da Cultura. Não é pouca bosta, não.

Assim, querido povo de Mossoró, já sei (através da literatura, em especial por meio de um romance parrudo, corpulento) como imortalizar esta cidade, e projetar o nome de Mossoró para o Brasil, quem sabe além fronteiras brasilianas. Um povo nobre feito este, com políticos honestíssimos e que, historicamente, sempre valorizaram e lutaram de maneira incansável por nossa cultura, é digno de todas as honras e aplausos. Tais políticos, a propósito, ganharão capítulos exclusivos.

Agora me deem licença. Hoje não quero fazer mais nada. Sequer escrever. Vou apenas brincar um pouco na rede com Pitucha, minha gatinha, que na última quarta-feira completou três meses de vida. À noite, ao voltar da casa de Natália, acessarei a Netflix (coisa que o amigo Elias Epaminondas compartilhou comigo). Então verei um filmezinho bacana. Será outro momento relax do meu dia.

Marcos Ferreira é escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Odemirton Filho diz:

    Parabéns, meu dileto. Saúde e paz. Saiba que para mim, e muitos, você é um dos nossos melhores escritores.
    Siga em frente, mesmo sem o reconhecimento que lhe é devido.
    Continuarei por aqui, admirando e aprendendo com os seus belos textos.
    Abração!

  2. Amorim diz:

    Foi no dia dez de abril
    Que coisa boa aconteceu
    No hospital de caridade ela pariu
    Um vivente ser sem igual
    É pau de aroiera, é pedra roladeira
    É umbú cajá com sua doçura
    É rocha certeira !
    Foi esquecido? Não, Não foi!
    Foi iguinorado? Não foi!
    Ninguém ignora a leitura,
    Sempre doce e preciso
    Em admiráveis crônicas dominicais
    Apreciado por todos, sou leitor habitual

    Um abraçaço coração!
    Parabéns estamos nós com vossa existência.

  3. Fabiano Souza diz:

    Feliz 10 de abril ! Que tantos outros 10 de abril possamos relembrar a data. Saúde,paz e prosperidade. Sucesso na missão de continuar nos presenteando com seus textos. Abraço amigo!

  4. VANDA MARIA JACINTO diz:

    Olá, Grande Poeta!
    A data do nosso natalício, é a mais importante na nossa vida … Dentre todos, esse ciclo representa o
    Alegrias e conquistas para esse novo ciclo! Parabéns!
    Abraços!

  5. VANDA MARIA JACINTO diz:

    Olá, Grande Poeta!
    Bom dia!
    A data do nosso natalício, independente de qualquer crença, será sempre muito especial!
    Talvez, por ser esse ciclo, o mais importante da nossa vida… E como a considero um presente que se renova a cada instante, que cada dia desse seu novo ciclo, seja permeado de bons e felizes momentos! Parabéns!

    Abraços

  6. Dulce Cavalcante diz:

    Valeu poeta por essa crônica de recado direcionado por mim , muito bem entendido. Agora falemos de parabéns de desejos meus pra você de saúde , de paz,0 de amor e a inspiração não lhe falte neste.mundo da poexia em que vivemos.agora . Um beijão e um abraço fraterno !!!!

  7. Carlos Santos diz:

    Nota do Blog – Saúde e paz, poeta. Cuide-se e saiba que pode não parecer, mas sempre estou por perto.

    Por esses dias esbarro em seu bunker. Bote mais água no café e livre uma “baladeira” para mim. Vou ficar no balanço, sentando o pé no “acelerador” da parede. Levo bolachas e biscoito para molharmos na erva negra!

    Inté!

  8. Jessé de Andrade Alexandria diz:

    Bom dia, amigo. Primeiro, parabéns pelo aniversário, por “mais um ano na cacunda”. Parabéns pela bela crônica-navalha sobre a província. Como você já tem seu lugar na literatura potiguar, nem se preocupe quanto aos reconhecimentos, espaço nas livrarias e atenção dos livreiros. Muita saúde pra você e sua família (Natália e Pitucha). E aproveite a data comemorativa. Forte abraço.

  9. José Anchieta de Albuquerque diz:

    Parabéns amigo! Vou encaminhar essa crônica para minha mãe.
    Essa data ficará na memória dela. Hoje ela está com 95 anos e com uma incrível memória.
    Próximo ano ela me lembrará do seu aniversário com antecedência.

  10. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO diz:

    Parabéns e muita saúde e paz, para que especialmente nesses tenebrosos e obscurantita tempos ,.possamos levar nossa canoa até outra margem da nossa lagoa existencial.

    Que essa fagulha chamada vida, possa lhes proporcionar em sua normalidade e subjetividade tempo e espaço, um longo ciclo de existência e existencialidade sob o signo de uma real perspectiva BRASIL mais inclusivo de todos e para todos ..!!!

    Abs.
    FRANSUELDO V. DE ARAUJO
    OAB/RN. 7318

  11. Valdemar Siqueira Filho diz:

    Parabéns meu amigo, sempre grato pelos seus textos. Nas minhas aulas, digo para os estudantes que o humor não é piada preconceituosa é uma forma de crítica muito rara, por incorporar no discurso o próprio falante. Dificil de entender e mais de exemplificar, mas agora tenho seu texto como mais um exemplo exemplar. Grande abraço, muita festa nesta hora.

  12. Francisco Nolasco diz:

    Boa tarde, meu caro Ferreira.
    Parafraseando Muniz, Mossoró tá devendo não só brinco, mas respeito e aplauso pela sua capacidade criativa.
    Poucos aqui nessa província escrevem tão bem quanto você.

  13. Airton Cilon diz:

    Feliz aniversário, caro amigo, poeta e escritor Marcos Ferreira!
    Você é grande e já contribuiu muito para a cultura do país de Mossoró.. Não tens que provar nada pra ninguém… Grande abraço!

  14. ROZILENE FERREIRA DA COSTA diz:

    Parabéns, nobre escritor, cronista, poeta, romancista, contista, amigo. Você faz aniversário e nós somos presenteados. Sim, porque além da sua amizade, temos o ” senhor ” privilégio de aprender com seus textos, os quais nos conduzem às mais sérias e profundas reflexões. Da gramática à literatura, da linguística aos gêneros textuais, você deixa lições que as levamos para nosso dia a dia. Que Deus abençoe sua vida, em todos os âmbitos e sentidos. Saúde e um brinde de café. Tim Tim. Rsrs. Abraço à nossa amiga Natália. Abraço para você. Parabéns.

  15. Rocha Neto diz:

    O maior e mais sincero reconhecimento amigo Marcos, tem que vir de dentro do nosso eu, do alto dos meus 71 anos já vi, convivi, desfrutei de um tudo, mais sempre pensando no meu eu, pois se assim não o fizermos quem por nós fará?
    O meu presente pra você dileto amigo, envio todos os dias em forma de rabisco denominado de mensagem onde desejo saúde e paz para que você possa realmente viver melhor neste universo humano tão complexo que só Deus tem a explicação.
    Um abração sincero oriundo do meu coração que neste exato momento me cobra a renovação de te enviar novamente, SAÚDE E PAZ.

  16. RAIMUNDO ANTONIO DE SOUZA LOPES diz:

    Espero que o público se faça presente ao evento deste ano. Infelizmente, soube que a prefeitura de Mossoró não participará da Feira (com o cheque-livro), isso significa dizer que, talvez, os alunos da rede pública de Mossoró, não se farão presentes pelos corredores da universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Perde o município, perde a cultura e, em especial, o jovem leitor. Ah, sim, espero que nossos escritores sejam sempre lembrados nas oficinas e entrevistas oficiais dos organizadores da Feira. Marcos, Deus o abençoe. Saúde e paz. Como sempre a sua pena tem endereço certo.

  17. Rizeuda da silva diz:

    Boa noite, menino!
    Feliz Aniversário, dileto amigo, Marcos Ferreira!
    A grandiosidade da vida consiste em abraçarmos cada momento, como um novo recomeço e/ou aprendizagens. Suas crônicas são merecedoras de leitura e aplausos, daqui das bandas do Norte torço sempre por você, por isso continue nessa estrada das letras usando o seu melhor, o poder com as palavras. Sucesso hoje e sempre, meu amigo! Abraço fraterno aqui do meu paraíso. Parabéns! Felicidade!

  18. Simone Martins de Souza Quinane diz:

    Parabéns, grande e estimado amigo!
    Continue sempre nesse caminho nos presenteando com o que você tem de melhor: seus escritos, que nos roubam o tempo, sem que percebamos, inebriados e enredados com o perfume e o poder das suas palavras.
    Na torcida pelo seu sucesso SEMPRE!
    Beijos!

  19. Marcos Aurélio de Aquino diz:

    Parabéns meu nobre amigo, toda sorte e felicidades na sua jornada. Abraço grande.

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