domingo - 15/09/2013 - 15:49h

Nós e os 40 anos do golpe que derrubou e matou Allende

Por Rubens Lemos Filho

Tinha acabado de completar três anos de idade e de voltar ao Brasil quando um golpe sangrento derrubou e assassinou o presidente do Chile, Salvador Allende (na foto, de capacete, tentando resistir no Palácio de La Moneda).

Não lembro de nada.

Moramos em Santiago, meus pais e eu, de 1971 a 1973. Papai era monitor de jornalismo numa faculdade comunitária. Residíamos numa vila de exilados de vários países.

Nosso vizinho era o futuro famoso cineasta Sílvio Tendler, autor de documentários consagrados como os Anos JK e Jango.

Tendler está muito doente e paraplégico.

Ano passado, minha mãe lançou um livro baseado em cartas escritas para minha irmã, gerada no Chile e que estava em sua barrigona, quando voltamos. Na fila do lançamento, alguém que folheava seu exemplar antes do autógrafo me perguntou, espantado:

– Rapaz, você nunca me disse que esteve à beira da morte no Chile e até recebeu a extrema unção. Respondi com a sinceridade que escrevo agora:

– Nunca tive interesse de propagandear doença dos outros, que dirá doença minha. Não sou de fazer merchandising de desgraça. Fui curado por um médico do tipo sacerdote, Otto Baker, à base de medicação caseira e muito afeto.

Otto falou comigo por telefone a última vez há 25 anos, ele em Goiânia, sua terra. Choramos os dois. Salvou a minha vida.

Quando surgiram os sinais da radicalização política e da conspiração comandada pelo general Augusto Pinochet, ministro e então homem de confiança de Allende, a perseguição aos estrangeiros esquentou. Até comida negavam a gente. Quando queríamos comprar.

Papai então me mandou e a mamãe de volta a Natal. No Rio de Janeiro, fomos sequestrados por agentes da Ditadura brasileira. Queriam que ela delatasse a atuação do marido.

Papai conseguiu escapar pelo Uruguai clandestinamente. Ela negou, firme, comigo nos braços apertando a minha irmã confinada no seu ventre.

Disseram à minha mãe que ela seria presa, eu levado para a Febem e transformado em marginal perigoso. Mamãe ameaçou se jogar da sacada do Galeão.

Fomos salvos pelo ex-deputado federal potiguar Erivan França, que fora nos esperar e desconfiara por não ter nos visto.

Erivan França, cassado e trabalhando com o ex-governador Aluizio Alves numa editora, invadiu o covil onde os lacaios nos aterrorizavam e ameaçou denunciar tudo à liderança do MDB no Congresso Nacional. Erivan salvou nossas vidas. Meu segundo Otto Baker.

Erivan França, ex-marido de minha saudosa tia Marilda. Pai dos meus primos Cláudio(falecido), Cristina e João Café.

Erivan França que partiu para sempre em maio de 1988 e hoje me emociona de forma especial.

Os 40 anos da derrubada de Allende, da implantação da tirania de Pinochet, que matou centenas e centenas por fuzilamento no Estádio Nacional, torturou tanto ou mais que Médici no Brasil e Vidella na Argentina,  Fidel Castro em Cuba, servem para aumentar meu nojo por ditaduras(sejam de Direita, Esquerda, de Diagonal, Transversal)  e por quem as defende.

Quem apoia ditadura não passou pelo que nós passamos. Nem  gostamos de recordar.

Mamãe certa vez respondeu de forma exemplar a uma pergunta se gostaria de voltar ao Chile:

– Fui bem criada pelos meus avós e pais que me ensinaram:

– Nunca volte a um lugar do qual você tenha sido expulsa.

Eu sigo a lição à risca.

Rubens Lemos Filho é jornalista

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    “Os 40 anos da derrubada de Allende, da implantação da tirania de Pinochet, que matou centenas e centenas por fuzilamento no Estádio Nacional, torturou tanto ou mais que Médici no Brasil e Vidella na Argentina, Fidel Castro em Cuba, servem para aumentar meu nojo por ditaduras(sejam de Direita, Esquerda, de Diagonal, Transversal) e por quem as defende.”
    Atentem para este trecho do depoimento deste jornalista:
    TORTUROU MAIS QUE MEDICI NO BRASIL E VIDELA NA ARGENTINA, FIDEL CASTRO EM CUBA.
    Quem sofreu as agruras de uma ditadura jamais pode defender um Médici, Videla ou Fidel Castro.
    Mas ainda hoje em dia, para parecer prafrentex, tem intelectualóide que se presta ao papel de defender um tirano como FIDEL CASTRO.
    Será que este Rubens Lemos Filho é do PIG?
    Enquanto existir um FIDEL CASTRO no mundo o ser humano terá do que se envergonhar.
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  2. naide maria rosado de souza diz:

    Entendi, nesse texto triste, mas não choroso, uma insistência nobre do autor em permanecer de pé, bravamente, com a coragem de quem já teve muita pedra no caminho. Não esqueceu os que lhe fizeram bem, os que o protegeram e a sua família. Sua mãe corajosa, teve a resposta correta para quem lhe perguntou se gostaria de voltar ao Chile, seguindo à risca os conselhos dos avós:”- Nunca volte a um lugar do qual você tenha sido expulsa.”
    Não vi o autor fazer a defesa de outros ditadores. Compreendi-o dizer que a tirania de Augusto Pinochet foi a pior de todas , torturando mais do que a de Médici, Videla e Fidel. Ele declara nojo a todo tipo de ditadura. E aponta a de Pinochet como a pior. Apontar alguém como pior não exime os outros de barbaridades praticadas. É que Augusto Pinochet excedeu a todos, em seu ponto de vista. O fuzilamento em massa no Estádio Nacional ficou retratado, marcado, no próprio rosto do ditador vitorioso em crueldades, dentre outros horrores..

  3. Inácio Augusto de Almeida diz:

    O BICHO BOTOU PRA LASCAR
    Leiam:
    ESSE NEGÓCIO DE PRESIDÊNCIA DE CÂMARA…JUSTIÇA CONDENA EX-VEREADOR E SUA COMPANHEIRA, OS DOIS PODEM PEGAR QUASE 50 ANOS DE PRISÃO.
    Publicado em 13 de setembro de 2013 por granjahoje
    O juiz Antônio Cristiano de Carvalho Magalhães condenou o ex-presidente da Câmara Municipal de Uruburetama, Niepson Maciel Viana, a 20 anos de prisão por desvio de verbas públicas. Na mesma decisão, proferida nessa terça-feira, a ex-tesoureira Sílvia Helena Silva Sales foi condenada a 17 anos e nove meses de prisão pelo mesmo delito. Segundo a denúncia do Ministério Público do Ceará (MP/CE), o casal utilizou, no exercício de 2004, cheques da Câmara Municipal para adquirir bens e incorporá-los ao patrimônio pessoal. Niepson Maciel comprou uma moto no valor de R$ 6.500,00 e pagou com cinco cheques da Câmara. As ordens de pagamento eram assinadas por ele e pela ex-tesoureira e companheira dele, Sílvia Helena. Além disso, comprou 20 vacas e um touro utilizando o mesmo esquema criminoso. Para justificar a emissão dos cheques, falsificaram notas fiscais e de empenho. Por conta disso, o MP/CE ajuizou ação penal (nº 1065-66.2005.8.06.0178), requerendo a condenação dos acusados pela prática de crime de peculato. Os réus foram citados e somente o ex-vereador apresentou defesa prévia. Ele solicitou absolvição alegando fragilidade das provas. Ao julgar o caso, o juiz Antônio Cristiano, titular da Comarca de Uruburetama, a 127 Km da Capital, afirmou que foram comprovadas a autoria e a materialidade delitiva com apoio na prova oral e documental produzida. “Os motivos do crime foram egoísticos e visaram ao enriquecimento ilícito do acusado e de sua família enquanto dirigente daquela instituição legislativa. Com efeito, a prova dos autos demonstrou que o desvio do erário tinha como única finalidade e desiderato o aumento do patrimônio pessoal do acusado, quando no exercício do cargo”. As penas deverão ser cumpridas em regime inicialmente fechado. O magistrado também determinou a perda dos cargos, funções públicas e mandatos eletivos que eventualmente os réus ocupem em quaisquer das esferas dos poderes públicos. Também ordenou que fosse comunicado à Justiça Federal, para fins de suspensão dos direitos políticos pelo tempo que persistirem os efeitos da condenação.
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  4. Pedro Victor diz:

    Relatos como esse devem ser sempre repassados. Devemos lembrar aos que não viveram os tempos de ditadura no Brasil todos os malefícios de ter a sua liberdade, direito de opinião e vida cerceados por um regime totalitaristas. Ainda mais hoje, quando aumenta o numero de radicais clamando pela volta da ditadura e do esmagamento de qualquer opinião contrária à sua.

  5. Francy Granjeiro diz:

    A queda de Salvador Allende houve mais assassinatos cruéis do que no atentado de NY com a derrubaram as Torres Gemeas

    • Inácio Augusto de Almeida diz:

      Cara Francy
      Só perdeu para os assassinatos cometidos pelo MONSTRO Fidel Castro quando derrubou o ditador Fulgêncio Batista.
      Augusto Pinochet e Fidel Castro.
      Dois montros.
      Como monstros são todos os ditadores do mundo.
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