Por Paulo Menezes
“Como não conheço nenhum escrito sob Jandaíra, fui obrigado a frequentar a escola das Jandaíras, observar seus hábitos, seu trabalho, sua família, sua casa, sua organização, manias e travessuras. Isto por mais de trinta anos. Serviu de aprendizado, lazer, higiene mental e reconstituinte, passatempo, espanta tédio e sobretudo é o segredo de manter-me em contato com Deus.” (Padre Huberto Bruening no livro “Abelha Jandaíra”)
A pandemia que atingiu toda a humanidade, ceifando milhares de vidas e transformando totalmente o nosso cotidiano num vale de lágrimas, alvejou de forma arrasadora nosso dia a dia, principalmente no que se relaciona com o distanciamento social. O afastamento da família, dos filhos, netos e amigos, entretanto, me alcançou numa proporção um pouco menor, graças a Deus e às minhas abelhas.
É que apesar de aposentado do Banco do Nordeste, empresa à qual dediquei 24 anos de minha vida laboral, adotei, em paralelo, uma atividade que além de prazerosa, serviu de terapia ocupacional, lazer e espanta tédio como afirma o padre Huberto no livro que citei. Sou meliponicultor desde o distante ano de 1983.Dedico-me com muito amor ao manejo da abelha Jandaíra. Tenho colmeias na minha residência e na zona rural. E como essa atividade tem me ajudado nessa quadra de dificuldade que atravessamos! Administro meu tempo dividindo-o entre o quintal da minha morada e a zona rural, sempre dedicado ao manejo das abelhas.
Na residência, além de acompanhar o desenvolvimento dos enxames, que vai da multiplicação de colônias até à coleta do mel, pratico também um pouco de marcenaria na confecção das caixas racionais, morada das fazedoras do saboroso mel.
O trabalho vai da serragem das tábuas, montagem, até à pintura.
O tempo dedicado à zona rural começa manhãzinha cedo e ocorre duas ou três vezes por semana, onde me desloco ao Meliponário situado no campo. Lá a Covid não chegou, pois só tem a natureza ainda em festa com a mata florida e cheirosa, fruto da quadra chuvosa e as queridas jandaíras. Nem de máscara necessito.
Vivo uma manhã diferente, em outro mundo, somente com as polinizadoras da natureza. O tempo passa rápido sem mesmo senti-lo. Não há o que pensar em outra coisa senão no nascimento de uma nova princesa que será entronizada como rainha e que conduzirá um novo enxame garantindo a perpetuação da espécie.
No manuseio, o que vemos é o milagre da criação onde uma família com castas bem definidas desempenha com perfeição a vida de cada colônia. Cada abelha tem uma função específica a partir da limpeza corporal na hora do nascimento, depois a alimentação da rainha, o controle da temperatura do ninho, a desidratação do mel e finalmente a saída para o campo a partir do décimo sexto dia, visitando milhões de flores até a morte, em busca do néctar que transformará em mel.
Abelha não tem infância, já nasce trabalhando do nascimento até o último dia de vida.
A existência de uma colônia de abelhas é de uma perfeição admirável.
Diferentemente de nós humanos, todas trabalham pelo bem comum.
Quanta diferença !
Paulo Menezes é meliponicultor
* Meliponicultura é a criação racional de abelhas sem ferrão.
Ótimo texto. Estava sentindo falta de suas crônicas, Paulo. Escreva mais.
Abraço!
MUITO OBRIGADO ODEMIRTON. SOU LEITOR ASSÍDUO DOS SEUS BELOS TEXTOS.UM ABRAÇO.
Que maravilha! Parabéns, Paulo. Um texto maravilhoso. Tenho esse ensaio de Padre Huberto, oferecido a meu pai, Chico Honório, que chegou a criar abelhas jandaíras. Lembro quando, menino, assisti um ataque de abelhas italianas aos seus poucos cortiços. Foi dramático. Mas algo importante: a vida é luta, e lutar é viver. Abração.
OBRIGADO HONÓRIO. UM ELOGIO SEU É UMA HONRA PARA MIL. UM ABRAÇO.
Muito bom conviver com nossas abelhas sem ferrão, em especial a nossa rainha do sertão, que são as jandairas. Parabéns pelo texto Seu Paulo Menezes!
MUITO OBRIGADO ERIONE. UM ABRAÇO.
Paulo e outras centenas de criadores mosoroenses exercita-se diariamente, manejar abelhas é uma terapia, uma meditação contemplativa. Cada parágrafo bem editado faz parte de nossa rotina, parabéns meu amigo.
OBRIGADO VICTOR. UM ABRAÇO.
Crônica maravilhosa! Intensa a cada momento como a vida mesmo curta das abelhas. Pensei na ausência de infância delas, compensada com a morte, após visitar milhões de flores. Belo percurso para chegar ao fim…
Parabéns, Paulo Menezes.
MUTO OBRIGADO. LEMBRANÇAS DE SERRA GRANDE. MUITO AMIGO DO MEU SOGRO, SILVIO MENDES.
Que alegria, Paulo Menezes! Um afago na minha saudade .