Por Honório de Medeiros
Meu amigo Fulano me disse que tinha se aposentado da política. “Como assim?”, perguntei-lhe. “Quer dizer que não vai mais exercer qualquer cargo público?” “E se seu candidato voltar ao Governo?” Meu amigo, que foi do segundo ou terceiro escalão do governo de um dos estados vizinhos (claro!) abriu um sorriso matreiro e respondeu condescendente: “eu não quero mais cargo nenhum, mas vou ajudar meus amigos porque você sabe como é, tenho filhos para criar, e no nosso mundinho só vai p’ra frente quem se dá bem com os ômi”.
Meu amigo Fulano é um homem esperto, dentro daquela categoria que o finado ex-padre Zé Luiz genialmente criou lá pelo começo dos anos 80. Dizia Zé Luiz, e ele nunca aceitou essa história de ex-padre – “uma vez padre, sempre padre” – que há dois tipos de homens, que merecem atenção: os inteligentes e os espertos. E para ilustrar sua tese elencou, em sua coluna dominical no Poti, de um lado os espertos, do outro, os inteligentes. Não é preciso dizer o rebuliço que essa crônica causou na província.
Pois bem, meu amigo Fulano é um homem esperto. Não tem o vôo dos condores, quando muito dos galináceos, mas sabe evitar uma panela e enxerga bem além dos seus passos curtos. Em certo sentido, jamais admitido nem por ele, nem por quem lhe fornece o meio para sobreviver, é alguém que vive de expedientes: ajeita aqui, ajeita acolá, facilita p’ra um, dificulta p’ra outro, se torna da cozinha do poderoso, na qual chega na hora do café-da-manhã trazendo as últimas novidades e os próximos pedidos.
Duvido que na atual estrutura de Poder na qual vivemos a política nossa de cada dia, em tudo e por tudo idêntica a dos nossos ancestrais, se diferenciando apenas quanto à aparelhagem tecnológica utilizada – antes era a cavalo que a informação seguia, hoje é via Email – o coronel com saias ou sem elas possa viver sem esse tipo de agregado.
Ele é imprescindível para as pequenas coisas: pequenos delitos – é incapaz de pensar os grandes; aliás, é incapaz de pensar, quando muito reage: seu destino é pequenas confidências, pequenos favores, pequenas difamações e/ou injúrias, algumas torpezas, cumplicidade nos vícios, solidariedade nos acidentes de percurso, desde que não afetem sua sobrevivência…
É capaz de grandes bajulações, aceita ser o bobo-da-corte do seu senhor feudal – se considera até honrado em ser alvo de brincadeiras nas quais sua intimidade é exposta publicamente -, quando não, é capaz de desforço físico na defesa da bandeira que empunhou o que o tornará, sem sobra de dúvidas, alvo de muitas e variadas homenagens prestadas nas hostes do “exército” ao qual pertence. Não por outra razão meu amigo Fulano está fadado a morrer feliz posto que realizado na medida em que encaminhar, através de sua rede de amigos granjeados a partir da troca de favores recíprocos, e da benção do chefe político, os seus rebentos.
Não lhe digam que hoje só é possível entrar na administração pública através de concurso. Há sempre um caminho para encontrar uma torneira aberta: cargo em comissão, gratificação, empresa de construção de fundo-de-quintal, licitações manipuladas, consultorias e assessorias. “E os concursos públicos, esses, há, nem lhe conto” me disse ele.
Meu amigo Fulano somente precisa tomar cuidado para não cometer algum erro. Aliás, ele precisa ter muito cuidado para não ser usado como boi-de-piranha: quando ele acerta, o mérito é do chefe; quando o chefe erra, a culpa é dele. E precisa ter cuidado, muito cuidado, mas muito cuidado com a ingratidão e o tal de laço-de-sangue. Porque não é possível ter dúvida: entre ele, o fiel correligionário, e o parente, este sempre vence. É o instinto!
Honório de Medeiros é escritor, professor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN
Foi uma boa leitura matinal. Obrigado.
Carlos Santos,
Fui criado aqui nas cercanhias do sertão vendo e ouvindo política. Meu pai era muito amigo de uma família tradicionalmente política do RN.
Pois bem, o que o Doutor Honório de Medeiros explicitou é uma pura realidade quando ele narrou: Não lhe digam que hoje só é possível entrar na administração pública através de concurso. Há sempre um caminho para encontrar uma torneira aberta: cargo em comissão, gratificação, empresa de construção de fundo-de-quintal, licitações manipuladas, consultorias e assessorias. “E os concursos públicos, esses, há, nem lhe conto” me disse ele.
Prá completar, o cabo elitoral na sua tragetória de bajulação arranja muitos iminigos.
aqui as oligarquias já usam esses “FULANOS”,os alimentando com migalhas e propinas,e eles se prostituem ‘SABIDAMENTE”.
como já dizia o padre ZÉ LUIZ,tem os sabidos,e os inteligentes,.
b dia caro jornalista CARLOS SANTOS
O título está muito bom. As aspas em politiquinha apenas.
Esse comentário estar muito atual, presente no cotidiano dos bajuladores.Esse episodio ou seja esse comportamento foi muito utilizado na campanha passada. Os alpinista sociais,propensos a bajulação foram facilmente aderindo ao projeto do Dem, muitos deles, considerados estrela s do esquerdimo.Mas a intenção era outra servir de forma rastejante ao poder que distroi Educação Saude e segurança dos menos favorecidos.Onde se encontravam, nos corredores das universidades e em legendas tidas como populares.
Concordo!
Infelizmente esse “parasita” de políticos nunca deixará de existir.